Ryan Reynolds está com tudo. Protagonista de um dos maiores sucessos no universo de super-heróis da garotada – ‘Deadpool’ – e de um dos maiores flops da geração anterior – ‘Lanterna Verde’ –, casado com uma das mais queridinhas atrizes do cenário (Blake Lively) e pai de três filhos (com mais um a caminho), o ator está em alta em Hollywood há anos, se tornando um dos mais rentáveis nomes da indústria, com enorme apelo especialmente junto ao público jovem. Faltava, entretanto, um filme de Natal na carreira do ator. Bom, não mais. Como grande lançamento do streaming da Apple TV+, chegou aos assinantes da plataforma o longa ‘Spirited – Um Conto Natalino’, estrelado por ninguém menos do que nosso querido Deadpool.
Todo ano os espíritos do Natal Presente (Will Ferrell), Passado (Sunita Mani) e Futuro (interpretado por Loren G. Woods, com narração de Tracy Morgan) elegem uma pessoa no mundo que precisa redimir seus erros e se tornar uma pessoa melhor no fim do ano. Porém, esse ano Presente está inquieto, insatisfeito com a escolha do departamento. Num ato de rebeldia, ele pede que a pessoa desse ano seja trocada por Clint Briggs (Ryan Reynolds), um especulador sem escrúpulos que vive de alimentar o ódio nas pessoas em seus segmentos de trabalho, lucrando a partir do engajamento virtual da propagação do ódio. Determinado a fazer com que Clint se redima, mesmo sendo ele um indivíduo incorrigível, Presente fará de tudo para que isso aconteça, ainda que seja necessário quebrar um ou dois protocolos. O que ele não esperava era sentir um sentimento novo quando Kimberly (Octavia Spencer), funcionária de Clint, consegue vê-lo e conversar com ele, fazendo com que Presente repense sobre a possibilidade de se aposentar e voltar a ser humano.
Baseado no clássico dos clássicos natalinos –‘Um Conto de Natal’, de Charles Dickens – que já inspirou inúmeras adaptações cinematográficas e literárias (eu mesma tenho um livro de Natal que faz releitura dessa história), ‘Spirited – Um Conto Natalino’ é simplesmente o melhor filme de Natal da safra 2022. Para início de conversa, o roteiro de Sean Anders e John Morris faz uma belíssima releitura contemporânea dessa história do século XIX, ao repaginar o conceito de Scrooge para os tempos atuais como sendo o cara que dissemina o ódio na internet e lucra em cima de uma indústria que se alimenta de promover o ódio entre as pessoas. Esse é o coração da redenção do protagonista, e reside na jornada deste a crítica social ao tempo em que vivemos. Considerando que Reynolds atrairá um público jovem para ver este filme, é uma sacada genial do roteiro trazer esse tema dessa forma.
Mas o filme de Sean Anders (‘Pai Em Dose Dupla’) vai além: ‘Spirited – Um Conto Natalino’ é um musical. Um super, mega, hiper, ultra musical, daqueles de encher a tela com milhares de figurantes pulando, dançando, sapateando, coreografando. Há cenas em locações abertas e também fechadas, e todas funcionam como num passe de mágica. É simplesmente hipnotizante ver tudo aquilo funcionar com tanta frequência nas mais de duas horas de duração do filme, e, de maneira bastante inesperada, conseguir incluir ainda um solo de Octavia Spencer cantando, uma participação surpreendente Judi Dench e, pasmem: uma música-chiclete inteirinha sobre um palavrão.
‘Spirited – Um Conto Natalino’ é conduzido pelo carisma, a naturalidade e a espontaneidade da química entre Reynolds e Farrell. Todas as cenas dos dois são hilárias. As falas são sagazes. As interpretações, na medida. O limite entre falar sério e a zoeira é tão finamente conduzido pelos dois, que engaja o espectador no embate constante entre os dois personagens. Dá gosto vê-los juntos em cena.
Tem drama, musical, romance, comédia e até mesmo terror. ‘Spirited – Um Conto Natalino’ é um filme completíssimo que, ainda por cima, é um filme de Natal. Precisava ser exibido em tela grande. Porém é, sem dúvida, o melhor filme desse gênero e a melhor pedida para esse fim de ano.