sábado, setembro 14, 2024

Crítica | Sabrina Carpenter rende-se ao mainstream com o sólido e divertido álbum ‘Short N’ Sweet’

Sabrina Carpenter ascendeu a uma fama estrondosa nos últimos anos – principalmente após ter sido escalada para abrir uma das legs da aclamada turnê The Eras Tour, de Taylor Swift. Dona de um estilo musical único e uma reinvenção própria para a estética que promovia desde sua estreia oficial no cenário fonográfico, a cantora e compositora passou por um amadurecimento considerável ao lançar o quase impecável álbum ‘e-mails i can’t send’ em 2022 – mas não seria até dois anos depois que seu nome seria mencionado no planeta inteiro e sua identidade artística, por conseguinte, eternizada como uma das vozes mais importantes da nova geração.

Com ‘Short N’ Sweet’, Carpenter de fato mostrou-se pronta para dominar o mundo: o primeiro single do compilado de originais veio com “Espresso”, uma mistura de funk, dance-pop, pop e disco cuja produção extremamente chiclete e instigante a sagrou como a canção mais bem-sucedida da carreira da performer, atingindo em tempo recorde a marca de 1 bilhão de reproduções no Spotify e conquistando fãs ao redor do mundo. E, para além do óbvio sucesso comercial, cortesia da produção certeira e mercadológica de Julian Bunetta, é notável como a despojada atmosfera lírica e o divertido arranjo instrumental contribuíram para a sólida concepção – e, em meio a uma entrega teatral e camp, a sensual e empoderada narrativa é apenas a cereja do bolo.

Mas Carpenter se manteria no topo com as duas faixas promocionais seguintes: de um lado, “Please Please Please” se afasta do escopo pop da faixa anterior, mergulhando em uma mistura soberba de Yacht rock e country que começa a dar as caras de uma versatilidade apaixonante – e que arranca alguns dos melhores vocais da cantora; de outro, “Taste” se lança a mais uma inovação para o breve disco, discorrendo acerca dos percalços de um relacionamento cujo término ainda permanece na mente do eu-lírico ao se apropriar de maneira aplaudível o slacker rock, além de contar com um apaixonante videoclipe com a presença ilustre de ninguém menos que Jenna Ortega, uma das novas scream queens do cinema e da televisão.

Nosso medo, todavia, era a crível possibilidade de que Carpenter já havia nos entregue o melhor do álbum com os singles, mantendo às escondidas tracks que não conseguiriam se igualar ou superar a qualidade das promocionais. Felizmente, isso não é o que acontece e, apesar de uma infortuna tentativa de agradar a todos com uma mescla confusa de gêneros, ‘Short N’ Sweet’ é uma sólida e indesculpável entrada à discografia da performer, contando com gemas musicais que nos envolvem do começo ao fim – e que funcionam dentre da brevíssima praticidade de pouco mais de 36 minutos de duração.

Há uma clara distinção dentro da obra que chama nossa atenção desde o começo, uma divisão que pende ora para o acústico, ora para uma roupagem mais ácida e rebelde, que nos remete às primeiras incursões de Carpenter no cenário fonográfico. “Good Graces”, que sucede “Taste” e “Please Please Please”, é uma interessante adição R&B e trap-pop ao compilado, partilhando da mesma identidade estética explorada em ‘Singular: Act II’ em uma investida mais amadurecida; “Coincidence”, infundida com o melhor do country-pop, é uma das melhores entradas do álbum por não se levar a sério e por partir de uma vibrante ironia que emana de cada um dos versos (com destaque ao segmento “o jeito que você me contou a verdade, menos 7%”, que insurge como um dos melhores versos da carreira de Sabrina).

“Bed Chem”, outro instigante ápice do disco, se une em um encontro entre passado e presente através da produção on point de Ian Kirkpatrick e John Ryan: desde as primeiras notas à mixórdia sinestésica de jazz fusion, soft-rock e R&B, Carpenter promove uma referência clássica aos anos 1980 e a canções como “Human Nature”, de Michael Jackson, navegando pelas oscilações entre o fraseamento cantado e falado dos versos e de uma promoção da sensualidade amorosa. “Juno”, permeada pela presença do baixo, da bateria e da guitarra em um soft-rock-pop, é uma declaração amorosa inesperada e original que menciona tanto o icônico filme estrelado por Elliott Page quanto à deusa romana da fecundidade e da fertilidade.

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O álbum é pautado pela questão do romance, estendendo suas ramificações para as várias fases do relacionamento – desde o encontro amoroso, a firmação do namoro ou até mesmo do casamento, as desilusões e as decepções românticas, o luto vingativo e a “ressurreição”. Porém, enquanto percebemos que Sabrina sabe como lidar com esses temas, certas canções rendem-se a fórmulas apáticas e repetições exauríveis, como vemos em “Sharpest Tool” (cuja dissonância do violão nos remete a “Lacy”, de Olivia Rodrigo, por exemplo), em “Dumb & Poetic” (que soa mais como um descarte do que uma faixa bem estruturada), e no combo que encerra o disco, “Lie to Girls” e “Don’t Smile”.

Apesar dos claros deslizes que aparecem aqui e ali, ‘Short N’ Sweet’ é uma consistente entrada na discografia de Sabrina Carpenter, reiterando que ela, de fato, estava apenas esperando o momento certo para mostrar que consegue acompanhar as tendências do escopo mainstream sem se render por completo às exigências da indústria. E, assim como a artista atrás dos microfones, o compilado é curto e doce, hábil e funcional dentro de seus limites e cumprindo com o que todos esperavam.

Nota por faixa:

1. Taste – 4/5
2. Please Please Please – 5/5
3. Good Graces – 3,5/5
4. Sharpest Tool – 3/5
5. Coincidence – 4/5
6. Bed Chem – 4,5/5
7. Espresso – 4/5
8. Dumb & Poetic – 2/5
9. Slim Pickins – 4/5
10. Juno – 4/5
11. Lie to Girls – 2/5
12. Don’t Smile – 2/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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