quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Saltburn: Barry Keoghan trilha seu caminho para o Oscar em estupendo suspense sobre luxúria e obsessão

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Criando um caleidoscópio de cores neon, Emerald Fennel faz de Saltburn um sonho de uma noite de verão. Luxúria, obsessão amorosa e desejos não consumados se fundem em um anseio compulsivo por algo que ainda não sabemos. Arranhando apenas a superfície de sua história, percorremos 1h30 de filme observando o suntuoso palácio de Saltburn como o palco para o que aparenta ser um vindouro crime passional. Mas enquanto nos distraímos com a beleza fugaz de uma família rica e mesquinha, custamos a perceber uma outra narrativa que gradativamente se aflora ao nosso redor. E de maneira quase metalinguística, a vencedora do Oscar transforma seu filme em uma catarse sobre si mesmo. Enquanto achamos que a trama se retém unicamente a uma paixão jamais consumada, Fennel vai além dessa superficialidade, para narrar um conto sobre poder, ostentação e um outro tipo de obsessão.



Não seria incorreto afirmar que Saltburn flerta com os mesmos temas de O Talentoso Ripley. Mas muito mais suntuoso e verborrágico em seus diálogos, o longa da cineasta e atriz britânica é muito mais do que o suspense sobre golpes milimetricamente arquitetados. Vendendo um ideal simultaneamente idílico e sombrio, ela transforma a belíssima e aristocrática paisagem da Inglaterra dos anos 2000 em um cenário satisfatório de personagens peculiares e belamente configurados. Como se estivéssemos diante de uma pintura renascentista que ganha vida diante dos nossos olhos, o suspense ainda faz um amálgama entre o drama e a comédia, pautando sua trilha sonora por acordes tensos e instigantes, a fim de sempre nos deixar atentos e à espreita – à espera de uma iminente tragédia que só verdadeiramente chega em seus 20 minutos finais.

Nos convidando a desfrutar desse pequeno universo de possibilidades infinitas em meio a um verão quente que exala sensualidade, Saltburn é a história sobre um lugar maldito e como ele rege o comportamento daqueles que o frequentam. Nesse contexto, Barry Keoghan é um desajeitado estudante universitário que parece não se encaixar no rico cenário da Oxford University, mas se encontra em uma estranha amizade com o ótimo Jacob Elordi – o belo aristocrata com quem divide parte de seu cronograma escolar. Em uma relação pautada por uma constante tensão sexual, ambos são como diferentes partes de um único corpo. Suas personas se completam, ainda que se distanciem por seus contextos socioculturais. São de mundos dispersos, mas se encontram em um ponto em comum. Não se desejam, mas parece que sim – o que torna tudo ainda mais turvo. E assim seguimos até o grande plot twist.

E essa é a riqueza criativa por trás de Saltburn. Há sempre uma segunda agenda escondida nas entrelinhas, que nós nunca conseguimos tocar. É como se sempre chegássemos perto de algo absolutamente revelador e conclusivo, mas nunca o bastante para compreendermos a dimensão da história. Essa habilidade de storytelling desenvolvida por Fennel torna nossa experiência cinematográfica um espetáculo à parte. Sempre progressiva e evolutiva, ela nunca é plenamente satisfeita, mas é sempre satisfatória. Somos hipnotizados por seus personagens, seduzidos por suas falas mansas e diálogos regados de pedantismo, somos induzidos pela linguagem corporal dúbia de cada um deles. E todos esses elementos criam a tempestade perfeita de toxicidade que nos levará a ruína de (quase) cada um deles.

E dentro disso, a direção de fotografia se incorpora à belíssima performance de seu elenco, nos banhando com cores neon e sombras profundas que flertam com a estética gótica e que evidenciam ainda mais a opulência desse pequeno universo de excessos, prazeres subversivos e comportamentos destrutivos. Nessa efervescência artística tão conceitual, Barry Keoghan é um espetáculo à sua maneira, com uma atuação poderosa e inebriante, que transita entre uma estranha inocência e uma peculiaridade, que escondem em si um comportamento muito mais perturbador, que jamais poderíamos imaginar. Dominando a tela a todo momento, ele uma vez mais prova ser um dos melhores atores da atualidade e caminha em direção ao Oscar como quem sabe a dimensão de seu talento.

Rosamund Pike não fica atrás e transforma sua verborragia em uma espécie de artefato criativo para compor sua performance. De sua postura altiva aos diálogos lindamente pausados e repletos de adjetivos passivo-agressivos e pedantes, a indicada ao Oscar mostra sua versatilidade em tela como a personificação da soberba aristocrática. Trajando figurinos que deslizam pelo seu corpo e agregam movimento e leveza ao seu andar, ela brilha em tela com uma atuação onde a serenidade e a necessidade de sustentar uma fachada imperam. Seguindo essa mesma toada, Carey Mulligan faz uma ponta como a epítome de Camden Town dos anos 2000, exalando estilo e exageros fashionistas no pouco, mas excepcional tempo de tela que possui. E assim segue o restante do elenco, que ainda traz Jacob Elordi e Richard E. Grant em destaque.

Proporcionando uma experiência sinestésica que jamais sacia toda nossa curiosidade e anseios, Emerald Fennell faz de Saltburn uma suntuosa e imprevisível jornada. Aguçando nossos sentidos e nos proporcionando uma aventura cinematográfica regada de elementos satisfatórios que vão desde sua soturna fotografia ao belíssimo e clássico design de produção, o novo longa da aclamada cineasta é o encontro perfeito entre arte e entretenimento. Pode até trazer elementos familiares do cinema de outrora, mas é impossível não ficar fascinado por esse distante e exibicionista palácio de desejos nefastos e perigosos.

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Não seria incorreto afirmar que Saltburn flerta com os mesmos temas de O Talentoso Ripley. Mas muito mais suntuoso e verborrágico em seus diálogos, o longa da cineasta e atriz britânica é muito mais do que o suspense sobre golpes milimetricamente arquitetados. Vendendo um ideal simultaneamente idílico e sombrio, ela transforma a belíssima e aristocrática paisagem da Inglaterra dos anos 2000 em um cenário satisfatório de personagens peculiares e belamente configurados. Como se estivéssemos diante de uma pintura renascentista que ganha vida diante dos nossos olhos, o suspense ainda faz um amálgama entre o drama e a comédia, pautando sua trilha sonora por acordes tensos e instigantes, a fim de sempre nos deixar atentos e à espreita – à espera de uma iminente tragédia que só verdadeiramente chega em seus 20 minutos finais.

Nos convidando a desfrutar desse pequeno universo de possibilidades infinitas em meio a um verão quente que exala sensualidade, Saltburn é a história sobre um lugar maldito e como ele rege o comportamento daqueles que o frequentam. Nesse contexto, Barry Keoghan é um desajeitado estudante universitário que parece não se encaixar no rico cenário da Oxford University, mas se encontra em uma estranha amizade com o ótimo Jacob Elordi – o belo aristocrata com quem divide parte de seu cronograma escolar. Em uma relação pautada por uma constante tensão sexual, ambos são como diferentes partes de um único corpo. Suas personas se completam, ainda que se distanciem por seus contextos socioculturais. São de mundos dispersos, mas se encontram em um ponto em comum. Não se desejam, mas parece que sim – o que torna tudo ainda mais turvo. E assim seguimos até o grande plot twist.

E essa é a riqueza criativa por trás de Saltburn. Há sempre uma segunda agenda escondida nas entrelinhas, que nós nunca conseguimos tocar. É como se sempre chegássemos perto de algo absolutamente revelador e conclusivo, mas nunca o bastante para compreendermos a dimensão da história. Essa habilidade de storytelling desenvolvida por Fennel torna nossa experiência cinematográfica um espetáculo à parte. Sempre progressiva e evolutiva, ela nunca é plenamente satisfeita, mas é sempre satisfatória. Somos hipnotizados por seus personagens, seduzidos por suas falas mansas e diálogos regados de pedantismo, somos induzidos pela linguagem corporal dúbia de cada um deles. E todos esses elementos criam a tempestade perfeita de toxicidade que nos levará a ruína de (quase) cada um deles.

E dentro disso, a direção de fotografia se incorpora à belíssima performance de seu elenco, nos banhando com cores neon e sombras profundas que flertam com a estética gótica e que evidenciam ainda mais a opulência desse pequeno universo de excessos, prazeres subversivos e comportamentos destrutivos. Nessa efervescência artística tão conceitual, Barry Keoghan é um espetáculo à sua maneira, com uma atuação poderosa e inebriante, que transita entre uma estranha inocência e uma peculiaridade, que escondem em si um comportamento muito mais perturbador, que jamais poderíamos imaginar. Dominando a tela a todo momento, ele uma vez mais prova ser um dos melhores atores da atualidade e caminha em direção ao Oscar como quem sabe a dimensão de seu talento.

Rosamund Pike não fica atrás e transforma sua verborragia em uma espécie de artefato criativo para compor sua performance. De sua postura altiva aos diálogos lindamente pausados e repletos de adjetivos passivo-agressivos e pedantes, a indicada ao Oscar mostra sua versatilidade em tela como a personificação da soberba aristocrática. Trajando figurinos que deslizam pelo seu corpo e agregam movimento e leveza ao seu andar, ela brilha em tela com uma atuação onde a serenidade e a necessidade de sustentar uma fachada imperam. Seguindo essa mesma toada, Carey Mulligan faz uma ponta como a epítome de Camden Town dos anos 2000, exalando estilo e exageros fashionistas no pouco, mas excepcional tempo de tela que possui. E assim segue o restante do elenco, que ainda traz Jacob Elordi e Richard E. Grant em destaque.

Proporcionando uma experiência sinestésica que jamais sacia toda nossa curiosidade e anseios, Emerald Fennell faz de Saltburn uma suntuosa e imprevisível jornada. Aguçando nossos sentidos e nos proporcionando uma aventura cinematográfica regada de elementos satisfatórios que vão desde sua soturna fotografia ao belíssimo e clássico design de produção, o novo longa da aclamada cineasta é o encontro perfeito entre arte e entretenimento. Pode até trazer elementos familiares do cinema de outrora, mas é impossível não ficar fascinado por esse distante e exibicionista palácio de desejos nefastos e perigosos.

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