Califórnia, terra dos ricos, famosos e… famintos
Santa Clarita é a terceira maior cidade no condado de Los Angeles, Califórnia. Terra dos ricos e famosos, o local se torna também o cenário para a mais nova série da Netflix – que nós aqui no CinePOP pudemos conferir em primeira mão, antes da estreia nesta sexta-feira, dia 3 de fevereiro, e trazer esta análise para você, nosso querido leitor.
Produzido e estrelado pelo casal de protagonistas Drew Barrymore e Timothy Olyphant, Santa Clarita Diet, ou Dieta de Santa Clarita, é uma grande brincadeira com o tema dos zumbis, muito em voga atualmente. A série, no entanto, é uma comédia (de humor bem negro) e possui inclusive o formato de duração deste tipo de programa, com episódios de vinte e poucos minutos.
A trama apresenta o casal de corretores imobiliários Sheila (Barrymore) e Joel (Olyphant), casados há mais de vinte anos e pais de uma adolescente, a espevitada Abby (Liv Hewson). O clima satírico impera, e o programa é recheado de diálogos rápidos, referências e o tipo de humor ácido, provido da interação dos personagens, no qual nem sempre pegamos tudo, tornando o texto ainda mais interessante. O paralelo feito aqui é com o estilo de vida dos subúrbios americanos e suas grandes mansões – longe de problemas reais.
Na pacata vida dos protagonistas, e igualmente na cidade em que residem, muito não parece acontecer. Isto é, até a primeira reviravolta na história, que ocorre logo no primeiro episódio, e irá cimentar a transformação de Sheila em uma morta-viva. Até neste aspecto a série criada por Victor Fresco (My Nam is Earl) é original, já que aborda o tema “zumbi” de uma forma completamente refrescante e inédita.
Não vale falar muito para não estragar, mas esqueça a imagem dos comedores de miolos lentos, decrépitos e pouco inteligentes (que séries como The Walking Dead ajudaram a estabelecer). A abordagem que esta comédia decide dar aos ‘infectados’ é única, funcionando bem em sua proposta. Até mesmo obras do subgênero, vide Todo Mundo Quase Morto (2004) e Zumbilândia (2009) não fazem jus ao apresentado nesta embalagem revigorada.
Ao mesmo tempo em que é altamente consciente de seu ritmo humorístico, Santa Clarita Diet não pega leve nas cenas gráficas, nos brindando com alguns dos momentos mais repugnantes, desconfortáveis e viscerais já mostrados em uma produção do tipo. Os primeiros episódios, em especial, já chegam revirando nossos estômagos com o que diz respeito à transição da protagonista. Uma dica, não assista durante o jantar.
Por falar em Zumbilândia, enquanto a continuação parece estagnada para sair do papel (e já rendeu até uma série que não vingou), o diretor do longa, Ruben Fleischer, se diverte no subgênero mais uma vez comandando os primeiros episódios do programa, num total de dez nesta temporada. A maioria mantém o ritmo, mas os episódios finais parecem meio fora de rumo. Além disso, a falta de conclusão deixa a porta claramente aberta para a segunda temporada.
O carisma de Barrymore (realmente abraçando a causa e mergulhando de cabeça na comicidade do grotesco) e Olyphant (sorrindo mais aqui do em toda a sua carreira) segura o programa e realmente o vende. Eles são a alma do negócio e mesmo que nem tudo funcione cem por cento, seu comprometimento com o material é louvável. Outra grande descoberta aqui é a menina Hewson, uma novata que demonstra ter talento de sobra para deslanchar. Completando o elenco principal, o jovem Skylar Gisondo, o filho mais velho do remake Férias Frustradas (2015), no papel do vizinho nerd, apaixonado por Abby e que, obviamente, é um aficionado pela cultura zumbi.
Já nas primeiras cenas do primeiro episódio sentimos o tipo de humor que irá permear o programa, com a ironia que reside no fato dos protagonistas – que irão em breve realizar atos pra lá de ilícitos, como assassinato, afinal a mulher precisa comer – terem sua casa situada literalmente entre as casas de dois policiais. Um deles, interpretado por Ricardo Chavira (o Carlos de Desperate Housewives), é o típico rouba cenas.
Santa Clarita Diet é uma muito bem vinda remodelagem do tema, e demonstra que enquanto existir criatividade nenhum material ficará saturado junto ao público.