quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Se Eu Fechar os Olhos Agora’ – Os Segredos dos Homens Brancos no Poder

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Baseada no livro de estreia do escritor e jornalista Edney Silvestre, a minissérie ‘Se Eu Fechar os Olhos Agora’ abriu a temporada de produções inéditas da Rede Globo em 2019. O livro, lançado em 2009 pela editora Record, ganhou o Prêmio Jabuti – o maior prêmio de literatura brasileira no país – naquele ano, sob muita controvérsia, e agora, sob comando de Ricardo Linhares (que criou diversos filmes dos Trapalhões) e direção precisa de Carlos Manga Jr., a história chega à TV aberta em 10 episódios, no horário em que se pode falar de assuntos mais pesados.



No primeiro episódio (sim, é dessas séries que você realmente precisa ver e prestar atenção no primeiro capítulo) conhecemos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois), dois meninos cuja a entrada para o mundo adulto ocorre numa tarde quente de verão, quando decidem matar aula para nadar no lago e, lá, sem querer, encontram o corpo de uma jovem, morta a facadas. Começa, assim, o mistério que envolve o assassinato da bela Anita (Thainá Duarte).

A história é toda envolvida num clima noir, de suspense e mistério, e isso é refletido em todas as oportunidades: a iluminação (nos cinco capítulos iniciais, quando ainda estamos encaixando as peças, tudo é muito escuro e sombrio, causando uma sensação de que a qualquer momento alguma coisa pode acontecer, para nos episódios finais ficar bem mais solar); a trilha sonora (nostálgica e perfeita, com letras que por vezes refletem os sentimentos dos personagens, por vezes espelham a época em que a história se passou); o figurino (deslumbrante, especialmente o das mulheres, com vestidos impecáveis em todos os seus detalhes); o cenário (cada ambiente reflete a personalidade do personagem que interage ali, e a preocupação vai desde a cor da parede a até os acessórios dispostos casualmente no local para compor a ambientação); e, claro, a fotografia, que coloca a câmera espreitando os suspeitos atrás da porta e reafirmando a relação de poder e submissão da trama.

No plano superficial, acompanhamos o improvável trio Paulo, Eduardo e Ubiratan (Antônio Fagundes) tentando desvendar o assassinato da jovem Anita – quem a matou, por que, quando, etc. Edney Silvestre usa o gênero do suspense noir para trabalhar questões como a objetificação das mulheres e o racismo que fundamentou as relações sociais da nossa civilização, que continuavam em voga nos anos 1960, quando se passa a história. E ambas as questões são reforçadas por homens brancos que exercem cargos públicos e de poder nas sociedades, que se acham no direito de dispor da vida das pessoas de acordo com seus interesses pessoais. Se olharmos ao redor, não mudou muita coisa hoje em dia.

Uma das gratas surpresas da série é a mistura de um elenco super veterano com a atual e a nova geração de atores globais. Assim, vemos Antônio Fagundes interpretando um velho num asilo, e a reaparição de Jonas Bloch, no papel do bispo, e de Betty Faria, em participação especial como a polaca dona do prostíbulo. Em paralelo, Mariana Ximenes rouba a cena como a belíssima e misteriosa Adalgisa, juntamente com o casal Murilo Benício, como o odiável prefeito Marques Torres, e Débora Falabella, a esposa recatada e do lar.

Se por um lado a série ganha fôlego com esse elenco estelar, por outro o elenco de apoio ficou um pouco engessado, meio caricato ao dizer suas falas. A série também insere personagens e eventos que não estão no livro original, e isso, por vezes, faz com que o ritmo da história fique mais arrastado. Isso tanto ajudou a preencher a história em dez capítulos, quanto deu soluções a elementos do livro que não tinham recebido a devida atenção do autor. Para quem leu o romance, ver a série é um complemento às pontas em aberto da história, além de uma chance de poder observar os personagens paralelos ganhando voz e contando a história conjuntamente com os protagonistas, em vez de deixar tudo para que os meninos descobrissem. Ou seja, na série tudo é explicado e tem um propósito.

Assim, dos 10 episódios, recomendamos ver o primeiro e depois pular direto 6º, indo até o final, pois são nestes últimos que todas as revelações são apresentadas. Para quem curte suspense a la Agatha Christie, é uma ótima opção, pois a trama é mastigadinha e acompanha o ritmo do espectador.

 

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Baseada no livro de estreia do escritor e jornalista Edney Silvestre, a minissérie ‘Se Eu Fechar os Olhos Agora’ abriu a temporada de produções inéditas da Rede Globo em 2019. O livro, lançado em 2009 pela editora Record, ganhou o Prêmio Jabuti – o maior prêmio de literatura brasileira no país – naquele ano, sob muita controvérsia, e agora, sob comando de Ricardo Linhares (que criou diversos filmes dos Trapalhões) e direção precisa de Carlos Manga Jr., a história chega à TV aberta em 10 episódios, no horário em que se pode falar de assuntos mais pesados.

No primeiro episódio (sim, é dessas séries que você realmente precisa ver e prestar atenção no primeiro capítulo) conhecemos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois), dois meninos cuja a entrada para o mundo adulto ocorre numa tarde quente de verão, quando decidem matar aula para nadar no lago e, lá, sem querer, encontram o corpo de uma jovem, morta a facadas. Começa, assim, o mistério que envolve o assassinato da bela Anita (Thainá Duarte).

A história é toda envolvida num clima noir, de suspense e mistério, e isso é refletido em todas as oportunidades: a iluminação (nos cinco capítulos iniciais, quando ainda estamos encaixando as peças, tudo é muito escuro e sombrio, causando uma sensação de que a qualquer momento alguma coisa pode acontecer, para nos episódios finais ficar bem mais solar); a trilha sonora (nostálgica e perfeita, com letras que por vezes refletem os sentimentos dos personagens, por vezes espelham a época em que a história se passou); o figurino (deslumbrante, especialmente o das mulheres, com vestidos impecáveis em todos os seus detalhes); o cenário (cada ambiente reflete a personalidade do personagem que interage ali, e a preocupação vai desde a cor da parede a até os acessórios dispostos casualmente no local para compor a ambientação); e, claro, a fotografia, que coloca a câmera espreitando os suspeitos atrás da porta e reafirmando a relação de poder e submissão da trama.

No plano superficial, acompanhamos o improvável trio Paulo, Eduardo e Ubiratan (Antônio Fagundes) tentando desvendar o assassinato da jovem Anita – quem a matou, por que, quando, etc. Edney Silvestre usa o gênero do suspense noir para trabalhar questões como a objetificação das mulheres e o racismo que fundamentou as relações sociais da nossa civilização, que continuavam em voga nos anos 1960, quando se passa a história. E ambas as questões são reforçadas por homens brancos que exercem cargos públicos e de poder nas sociedades, que se acham no direito de dispor da vida das pessoas de acordo com seus interesses pessoais. Se olharmos ao redor, não mudou muita coisa hoje em dia.

Uma das gratas surpresas da série é a mistura de um elenco super veterano com a atual e a nova geração de atores globais. Assim, vemos Antônio Fagundes interpretando um velho num asilo, e a reaparição de Jonas Bloch, no papel do bispo, e de Betty Faria, em participação especial como a polaca dona do prostíbulo. Em paralelo, Mariana Ximenes rouba a cena como a belíssima e misteriosa Adalgisa, juntamente com o casal Murilo Benício, como o odiável prefeito Marques Torres, e Débora Falabella, a esposa recatada e do lar.

Se por um lado a série ganha fôlego com esse elenco estelar, por outro o elenco de apoio ficou um pouco engessado, meio caricato ao dizer suas falas. A série também insere personagens e eventos que não estão no livro original, e isso, por vezes, faz com que o ritmo da história fique mais arrastado. Isso tanto ajudou a preencher a história em dez capítulos, quanto deu soluções a elementos do livro que não tinham recebido a devida atenção do autor. Para quem leu o romance, ver a série é um complemento às pontas em aberto da história, além de uma chance de poder observar os personagens paralelos ganhando voz e contando a história conjuntamente com os protagonistas, em vez de deixar tudo para que os meninos descobrissem. Ou seja, na série tudo é explicado e tem um propósito.

Assim, dos 10 episódios, recomendamos ver o primeiro e depois pular direto 6º, indo até o final, pois são nestes últimos que todas as revelações são apresentadas. Para quem curte suspense a la Agatha Christie, é uma ótima opção, pois a trama é mastigadinha e acompanha o ritmo do espectador.

 

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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