Não tem conselho amigo que impeça uma pessoa de cometer uma irresponsabilidade se ela estiver determinada a fazê-lo. Vemos com frequência esse tipo de impulso em filmes nos quais os personagens decidem sair por aí sem avisar ninguém e algo dá errado no meio do caminho, de modo que eles têm que se virar sozinhos para sobreviver. Mas às vezes o que dá errado é simplesmente uma terrível coincidência, como ocorre no suspense dramático ‘Sem Ar’, estreia dessa semana nos cinemas brasileiros.
Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause) são irmãs que cresceram aprendendo a mergulhar em alto mar. Era o tipo de atividade que as duas praticavam juntas com o pai e que as conectava na irmandade. Porém, desde que May fora embora houve um distanciamento entre elas, de modo que a viagem anual que Drew organiza se torna uma tentativa de reaproximação dos laços fraternais com a irmã. Dessa vez Drew planejou que as duas mergulhassem em um local inédito para elas, perto de um costão. Tudo ia bem no passeio até que um acidente faz com que May fique presa no fundo do mar. Com um tanque de oxigênio quase acabando e as pernas presas, ela terá que contar com a agilidade da irmã para buscar ajuda ao mesmo tempo em que lhe entrega outros tanques de oxigênio, mas o relógio está correndo e as duas têm pouquíssimo tempo para sobreviver debaixo da água.
Refilmagem ensolarada do longa ‘Além das Profundezas’, de 2020, ‘Sem Ar’ é uma versão alemã da história com uma premissa interessante, porém seu maior desafio é fazer com que a trama preencha seus 90 minutos de duração. Logo de cara o espectador observa as protagonistas já chegarem no local de destino e realizarem o mergulho – tudo isso em menos de dez minutos de exibição. Talvez se a introdução fosse um pouco mais longa, desenvolvendo os desafetos familiares já nesse começo, o filme de Maximilian Erlenwein não passasse tanto a sensação de nada estar acontecendo.
O roteiro de Maximilian Erlenwein e Joachim Hedén se apressa em entrar logo no objetivo da história – o tal mergulho – porém não traz muitos elementos de desenvolvimento, assim, o primeiro e o segundo arcos ficam longuíssimos, e sendo constantemente interrompidos por flashbacks de um tempo (a infância das protagonistas) que não é apresentado no filme. Ou seja, o espectador tem que sozinho entender que as duas são irmãs e que as imagens que vemos são referentes a um passado (algo que não fica muito claro nas primeiras vezes que surge na telona). Por outro lado, é um roteiro que dá bastante espaço para que ambas as atrizes desenvolvam seus potenciais, pois as duas sozinhas carregam o filme que só tem elas como personagens.
‘Sem Ar’ entra na categoria de filmes angustiantes por colocar personagens presos em situações de difícil saída, que automaticamente causam a sensação de ansiedade no espectador. Não é terror e se desenvolve num leve suspense, focando mais na carga dramática da história. Um filme que, como diz o seu título, nos deixa ‘Sem Ar’.