Nora (Camilla Belle) e Mary Dominguez (Alexa PenaVega) tinham tudo: uma mansão em Beverly Hills, um pai amoroso, dinheiro para gastar com o que bem quisessem. Mas a vida tem dessas coisas inesperadas, e, de repente, o pai das duas falece, deixando-as sem nada – nada mesmo. Assim, da noite para o dia Nora e Mary não só se veem sem dinheiro nenhum, como também descobrem que têm um irmão perdido (Pablo Cruz), cuja noiva está obcecada em se apropriar de todos os bens da família Dominguez, embora o irmão dela, Edward (Nicholas D’Agosto), esteja mais interessado em conhecer Nora.
Disfarçado de comédia romântica recheada de clichês (e é mesmo), o argumento de ‘Sem Prada Nem Nada’ é bastante curioso: para falar de temas mais profundos para um público alvo que não está buscando profundas reflexões, ele se fantasia de uma história de amor. É porque, lá no fundo, o filme está tratando da perda e do resgate da nossa identidade – mais especificamente, da identidade mexicana. Através das duas irmãs que perdem o luxo do “american way of life” e se veem obrigadas a ir morar na área mexicana de Los Angeles, há todo um trabalho de reconexão com essas origens perdidas, o embate entre vergonha X orgulho, a descoberta da cultura e dos costumes que foram se perdendo ao longo das gerações na família, etc. Isso se aplica nos detalhes: as protagonistas não falam em espanhol e são confrontadas pelos outros “você mora em LA e não fala em espanhol?” – essas ironias da vida estadunidense, que quer apagar as influências e as marcas das culturas que ajudaram a construir aquele país.
Em se tratando de uma comédia romântica, é claro que o espectador pode optar por não se prender nesses aprofundamentos reflexivos e focar na construção do relacionamento amoroso. O roteiro de Fina Torres, Luis Alfaro e Craig Fernandez percorre um bom caminho, mas, de vez em quando escorrega em uns desvios desnecessários, em vez de focar nos elementos realmente importantes para a jornada de suas protagonistas, inserindo mais elementos do que um longa-metragem de uma hora e quarenta consegue comportar. Apesar disso, o roteiro faz uma escolha acertada em optar por jogar mais luz no desenvolvimento do par Nora e Edward, que gera uma conexão natural com o espectador.
Angel Gracia demonstrou um pouco de insegurança da direção de ‘Sem Prada Nem Nada’ ao optar, por exemplo, em reforçar estereótipos para ilustrar o abismo cultural de suas protagonistas. Como diretor, poderia ter enxugado a empolgação do roteiro para focar na evolução dos personagens; em vez de gravar cenas que pouco acrescentaram no todo da história, poderia ter optado em estender algumas que precisariam de mais alguns minutinhos. Apesar desses extras, o bom elenco transmite todos os sentimentos na medida, conduzindo o espectador pelos caminhos que ele sabe (e quer) que irá percorrer.
‘Sem Prada Nem Nada’ é uma comédia romântica fofa, com o “plus” de trazer uma boa reflexão sobre a importância da cultura mexicana nos Estados Unidos. Com um clima alegre, colorido e boa química entre os pares românticos, é um filminho gostoso para assistir no meio da tarde.