Mesmo trinta anos depois de sua trágica morte, Ayrton Senna permanece vivo como um dos maiores ídolos nacionais. Marcando histórica dentro da Fórmula 1 e do automobilismo, Ayrton encantou fãs ao redor do mundo – e seu legado mantém-se firme até os dias de hoje. Agora, é hora de revisitar sua história com a ambiciosa e aguardada minissérie ‘Senna’, que chegou ao catálogo da Netflix hoje, 29 de novembro.
Na adaptação, Gabriel Leone encarna o piloto desde seus primeiros anos como corredor amador até o estrelato infindável que alcançou ao adentrar a Fórmula 1 – em uma interpretação digna de sua já conhecida versatilidade. Continuando a se reiterar como um dos grandes performers da atualidade, Leone se rende a um trabalho glorioso e quase assustador, visto que não tem quaisquer problemas em absorver os trejeitos, as cadências de fala e até mesmo as expressões mais sutis de Ayrton, permitindo se deixar levar por uma releitura que não apenas o homenageia, mas o imortaliza mais ainda dentro da memória popular.
Ao longo de seis capítulos que passam em um piscar de olhos, ‘Senna’ navega entre as atribulações profissionais e pessoais do personagem titular de modo a destituí-lo de um caráter divinal à medida que o humaniza e que o apresenta como um homem dotado de características positivas e negativas. A narrativa singra por sua ambição não apenas em deixar sua marca no mundo esportivo, como também usar os corolários da fama para ajudar aqueles que mais precisam – jamais esquecendo-se de suas raízes; em contraposição, ele não é perfeito e comete inúmeros erros, principalmente no tocante àqueles que enfrenta na pista de corrida, deixando suas emoções tomarem controle e, por vezes, levando-o a falar coisas controversas e que denotam sua complexidade moral.
Leone não está sozinho nessa empreitada e divide os holofotes com um time de atores e atrizes de tirar o fôlego. Kaya Scodelario, por exemplo, interpreta Laura, uma repórter esportiva que foi criada especificamente para a série como um emblema dos múltiplos consórcios midiáticos que ficavam responsáveis por acompanhar a carreira de Ayrton. Laura funciona como um ponto-chave para assegurar o ritmo do enredo – e o fato de Scodelario ter descendência brasileira permite que ela se divirta com inúmeros diálogos em português, ainda mais quando divide os holofotes com Leone. Pâmela Tomé é outro nome que nos chama a atenção: ao encarnar Xuxa, a atriz causa um impacto significativo na atração, elevando nossas expectativas pela química que desfruta ao lado de Leone; Marco Ricca oferece um intimismo necessário para nos envolvermos ainda mais com o espetáculo como o pai de Ayrton, Milton.
Visto que lidamos com uma produção biográfica, é normal que tenhamos inúmeras fórmulas do gênero trazidas à construção estética e técnica. Porém, há uma diferença gritante e proposital em relação à recepção da obra no mercado internacional e no nacional: o showrunner Vicente Amorim, que também fica responsável pela direção dos episódios ao lado de Júlia Rezende, sabe como construir um espectro parassocial entre os espectadores brasileiros e os personagens que enfeitam as telinhas, criando uma memorabilia nostálgica àqueles que acompanharam os feitos de Senna e reapresentando-o a uma geração que não estava viva à época. Em outras palavras, Amorim causa ou recaptura emoções de vínculo extremo ao que Ayrton representou e continua representando, fortalecendo laços imateriais que parecem torná-lo parte da nossa família.
As conquistas não param por aí. Há uma preocupação imagética de tirar o fôlego em inúmeras sequências, principalmente as que envolvem as corridas – em que o uso de CGI abre portas inclusive para o escopo nacional ao não se deixar levar pelo mero espetáculo, mas utilizar tais avanços tecnológicos a fim de garantir um maior apelo e uma maior profundidade emocionais ao que está acontecendo. É dessa forma que percebemos que há uma cautela pensada por cada membro da equipe, ressoando em um resultado positivo e aprazível do começo ao fim.
É claro que há certas incursões que sabemos que foram minimizadas em virtude de razões externas – como a diminuição da importância de Adriane Galisteu na vida de Ayrton (que, aqui, fica restrita a breves momentos e encarnada por Julia Foti). Entretanto, como peça audiovisual e como carta de amor e de homenagem a um dos maiores nomes da história brasileira, ‘Senna’ não é apenas uma das séries mais incríveis do ano, como um dos melhores títulos do escopo nacional das últimas décadas – e merece ser apreciada em sua completude do começo ao fim.