Gaby Amarantos vem se destacando cada vez mais no cenário nacional. Tendo iniciado sua carreira como cantora em 2002, foi mais ou menos em 2012 que ela expandiu sua ascensão nacionalmente, após ter suas músicas entrando na trilha sonora de novelas da Rede Globo, como ‘Ex Mai Love’. Dona de um carisma sem igual, uma voz poderosa e silhueta bem brasileira, não demorou muito para que essa paraense de Belém rapidamente migrasse para a sétima arte, passando a figurar também em seriados e novelas como atriz. De lá para cá são vinte anos de carreira como cantora e mais ou menos dez como atriz – e a partir dessa semana, Gaby faz sua estreia nas telonas com o filme ‘Serial Kelly’.
Kelly (Gaby Amarantos) é uma potente cantora de forró eletrônico no interior nordestino que vive de se apresentar em bares, shoppings e restaurantes em troca de algum dinheiro. Na trilha para fazer sucesso, ela canta em cabarés e zonas de entretenimento adulto, onde trava amizade com profissionais do sexo e travestis. Numa dessas, conhece Tempero (Igor de Araújo), um galego galanteador que arrebata sua atenção. Porém, antes Kelly resolvera se vingar de seu produtor musical, que tentou lhe passar a perna. Quando mais mortes de homens começam a se espalhar pela região, o caso desperta a atenção da delegada Fabíola (Paula Cohen), que passa a caçar Kelly na tentativa de ajudá-la.
O grande destaque em ‘Serial Kelly’ é realmente Gaby Amarantos. É impressionante a maturidade que a cantora consegue imprimir neste seu primeiro papel nas telonas como protagonista. Tudo bem que já são anos trabalhando como atriz, mas Gaby atua de maneira tão natural, tão orgânica, que não parece estar fazendo esforço algum. Sem contar que a atriz preenche a tela com sua beleza; sua pele brilha sob a fotografia de Pedro Urano, que faz bom uso da iluminação natural das locações abertas para valorizar a personagem em planos abertos e vibrantes.
Definido como comédia, o filme de René Guerra está mais para um drama bem-humorado. As situações em que a protagonista se envolve têm comicidade, mas não exatamente fazem rir; ao contrário, provocam a reflexão através de um viés mais leve sobre situações absurdas e cotidianas, todas envoltas em comportamentos machistas que provocam em Kelly uma urgência de acerto de contas. As vítimas possuem perfis de pessoas repugnantes que se vestem com o véu da hipocrisia social para se aproveitarem dos talentos de Kelly de alguma forma, seja na música, seja no sexo. O roteiro de René Guerra e Marcelo Caetano faz um retrato sobre como essa protagonista ama três coisas: comer, transar e matar; a partir dessa trinca, constroem um enredo em que os atos de Kelly são compreensíveis ao espectador, e culminam no contraponto da sororidade que ela oferece às mulheres que atravessam seu caminho, retribuídos pela delegada que sentencia: “em terra de matadores, a mulher que mata vira serial killer”.
Sob o peso do patriarcado, ‘Serial Kelly’ mostra que também no crime o tratamento às mulheres é desigual. Com Kelly, Gaby Amarantos mostra que é uma artista completa, e que o cinema era um caminho natural para essa grande estrela.