segunda-feira, dezembro 22, 2025
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Crítica | Sexy por Acidente – Amy Schumer na mistura de ‘O Amor é Cego’ com ‘O Diabo Veste Prada’

Feel Good e Autoajuda

Saída dos palcos da comédia stand up nos EUA, Amy Schumer se tornou sensação em seu país de origem. Com seu humor considerado muito honesto, frisando a “mulher real” e sua pegada feminista, o hype em torno da comediante gerou seu próprio programa para estrelar. Inside Amy Schumer, seriado de esquetes, foi ao ar entre 2013 e 2016. No cinema, apadrinhada por Judd Apatow – o papa das comédias norte-americanas na atualidade (mas que nunca penetrou verdadeiramente no Brasil) – a loira tomava o verão norte-americano de assalto em 2015 com Descompensada (Trainwreck).

Apesar do sucesso de crítica e público que Descompensada obteve por lá, e de um plano inicial do estúdio lançar o longa em nossos cinemas (com cartazes já distribuídos e marketing nas redes sociais), a Universal, dona dos direitos, terminou optando pela estreia direto no mercado de vídeo. Sem o mesmo desempenho satisfatório, a Fox não pensou duas vezes em seguir pelo mesmo caminho com Viagem das Loucas (Snatched, 2017) – longa que tem, se para mais nada, o mérito de tirar a veterana Goldie Hawn da aposentadoria.

Assim, apesar de já ter tido (muitos) altos e (poucos) baixos, Amy Schumer chega pela primeira vez aos cinemas brasileiros com este Sexy por Acidente. Escrito pelos especialistas em comédias femininas Abby Kohn e Marc Silverstein – cuja filmografia sempre propõe, através de muito humor, oferecer um insight na psique de mulheres (de variadas gerações), vide Nunca Fui Beijada (1999), Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009) e Como Ser Solteira (2016) – a dupla finalmente estreia na direção, realizando um trabalho satisfatório.

De fato, Silverstein e Kohn diretores sobressaem Kohn e Silverstein roteiristas aqui, em grande parte devido a certos estereótipos óbvios e mensagem final tão piegas que o texto parece tirado diretamente de uma destas mensagens de autoajuda da internet. Se Schumer (e seu humor ácido, rápido e por vezes incômodo) tivesse ficado a cargo do texto, o resultado poderia ser mais honesto. No entanto, a proposta aqui é por algo mais abrangente, para o tipo de humor que consiga dialogar com o maior número possível de espectadores. E para isso, o roteiro se vê voltado a certa doçura, ingenuidade e inocência, típicos de filmes saídos da década de 1980, como, por exemplo, Quero ser Grande – referenciado como inspiração neste veículo da atriz.

Na trama, ela interpreta Renee Bennett, funcionária de uma grande empresa de produtos cosméticos. Embora soe glamouroso e o emprego dos sonhos para muitas mulheres, a experiência não é tão refinada quanto parece, já que a moça trabalha diretamente de um porão. Além disso, a melancolia toma conta de sua vida social, tudo causado pela insatisfação de sua forma física, com alguns quilinhos a mais. Um acidente na academia faz com que a protagonista bata a cabeça e comece a se ver como uma linda mulher, o que causa uma gigantesca propulsão em sua autoestima. De uma hora para outra sua confiança em quesitos como a vida pessoal e profissional começa a entrar nos eixos, tudo por causa da velha máxima “ir atrás dos seus sonhos sem desistir”.

Pois bem, falando assim parece que Sexy por Acidente é aquele tipo de filme Sessão da Tarde, que já vimos inúmeras outras vezes. E ele é. Pense em uma versão de O Amor é Cego (Shallow Hal, 2001) na qual a própria protagonista começa a ter alucinações sobre sua aparência. Existem dois filmes conflitando aqui, brigando para assumir o rumo a ser seguido e que por muitas vezes parecem não conseguir coexistir. De um lado, o teor mais sóbrio de uma espécie de escalada corporativa, na qual uma personagem a la Melanie Griffith em Uma Secretária de Futuro, ou Anne Hathaway em O Diabo Veste Prada, conquista seu lugar na empresa devido ao esforço próprio. Este é o trecho mais satisfatório do longa – mesmo fazendo uso de um desempenho no WTF mode on de Michelle Williams (sim, ela é uma atriz quatro vezes indicada ao Oscar).

Do outro lado, em seu trecho “mágico”, Sexy por Acidente parece capengar, nos fazendo perceber que funcionaria muito bem se o esquecesse por completo. Não existe muito humor a se retirar das situações acarretadas por tal premissa. Mas existem muitos poréns a serem adereçados aqui. A ideia em querer focar na afirmação da autoestima de mulheres que não se sentem confortáveis em seus próprios corpos é louvável, mas no fim das contas toda a jornada da protagonista se dá num loop de 360 graus, para uma epifania na qual já deveria ter realizado há tempos, ainda mais em pleno 2018. A inversão de valores promovida pela personagem e pelo filme talvez não acerte totalmente em seu discurso, resvalando no politicamente incorreto, sempre com um dos pés no mau gosto.

O grande acerto é sem dúvidas o carisma da atriz, que continua intacto através dos altos e baixos dos materiais que tem se envolvido. O peso do filme fica nas costas de Schumer, para que ela dê seu costumeiro show, tornando a ideia aceitável devido ao seu empenho e cara-de-pau em relação ao produto. Sexy por Acidente tem o coração no lugar, mas a fim de atingir seu objetivo, caminha por estradas tortuosas, se perdendo em grande parte do trajeto.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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