domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Shaft – novo filme do detetive durão não faz jus ao seu legado

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Novos Tempos para Shaft

Assim como as pessoas, os personagens fictícios são produtos de sua época. Suas criações existem dentro de um contexto, de um parâmetro social, da forma como percebemos o mundo. Shaft (1971), baseado no livro de Ernest Tidyman, é produto dos revolucionários anos 1970 – que para o cinema se traduz, entre outras coisas, como era representativa para a cultura negra. Chegava a vez de grande parte da sociedade finalmente se ver representada nas telas como protagonistas – no movimento conhecido como Blaxploitation.

Detetives durões, mulheres fortes, malandros e criminosos sedutores, em dezenas de filmes durante toda a época, artistas negros (assim como seus personagens) tomavam para si o protagonismo de histórias policiais, investigativas e de suspense. É justo dizer que Shaft, vivido por Richard Roundtree foi o grande exponencial de período e o personagem mais famoso – tanto que ressoa até hoje.



Duas sequências – O Grande Golpe de Shaft (1972) e Shaft na África (1973) – e uma série de TV (1973-1974) depois e o personagem foi engavetado, hibernando durante as décadas de 1980 e 1990. Foi somente em 2000 que Shaft saía da aposentadoria no filme homônimo, trazido pelo saudoso diretor John Singleton. Agora nas formas de Samuel L. Jackson, mas com direito a participação do original (Richard Roundtree), o longa não atingiu o esperado – mesmo levantando em sua trama questões ainda latentes e contando com um elenco de primeira (Christian Bale, Toni Collette, Jeffrey Wright). Shaft (2000) é o que podemos chamar de filme subestimado.

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Justamente por isso, o personagem ficou na geladeira por novos dezenove anos, até um novo projeto com seu nome ser finalmente prometido. A surpresa positiva é a presença de Jackson outra vez encarnando o personagem e Roundtree com uma participação ainda maior. Ou seja, esta é uma continuação direta do filme de Singleton – que por sua vez continua as aventuras da década de 1970, com o protagonista original passando seu bastão ao sobrinho/filho (até mesmo uma brincadeira com esta confusão é abordada pelo novo longa).

Outro momento de graça do novo Shaft (2019) é a piada “interna” sobre o fato de todos sempre confundirem Jackson com Laurence Fishburne. Vale enfatizar as partes boas porque os elogios para o novo longa não são muitos. O alerta vermelho surgiu quando foi divulgada a notícia de que o filme não seria lançado nos cinemas em muitos países, como no Brasil, mas sim diretamente na Netflix – casa dos temerosos e desesperados. Não ajuda nada o fato de que substituindo o grande Singleton (que também assinava o roteiro do longa de 2000), falecido este ano, se encontra o inexpressivo Tim Story (Táxi e Quarteto Fantástico, 2005).

Story não imprime energia ou urgência ao filme, dando a impressão deste ser o episódio piloto rejeitado de uma série de televisão. Tudo é extremamente genérico, seguro e quase mirado ao público infanto-juvenil. Praticamente não encontramos vestígio do que foi o personagem anteriormente. Sinal dos novos tempos politicamente corretos? Bem, sim e não. Se esta fosse a ideia, teríamos uma reinterpretação completa, com um novo protagonista e uma história mais sanitária.

O que nos leva a uma outra questão desagradável: o roteiro de Kenya Barris (não, não se trata de uma roteirista feminina e sim de um homem) e Alex Barnow. A ideia por trás do filme é colocar o dinossauro detetive mulherengo a par com os novos tempos, numa típica história de peixe fora d´água. E para isso somos apresentados ao filho do protagonista, o engomadinho vivido por Jessie T. Usher. A dinâmica de personalidades conflitantes transforma o filme numa comédia, porém, uma sem qualquer afinação, esperteza ou brilho. É a rotina do buddy cop movie reciclada lá da década de 1980. De fato, o novo Shaft soa tão antiquado que parece mesmo um filme produzido através de um roteiro engavetado.

Nem ao menos criatividade no título o longa demonstra, nomeando pela terceira vez (e confundindo completamente o espectador) um longa da série apenas como Shaft, quando claramente a pedida era por algo como O Filho de Shaft. E se você achou a ideia do título brega, piegas ou tosco, espere até assistir ao filme.

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Assim como as pessoas, os personagens fictícios são produtos de sua época. Suas criações existem dentro de um contexto, de um parâmetro social, da forma como percebemos o mundo. Shaft (1971), baseado no livro de Ernest Tidyman, é produto dos revolucionários anos 1970 – que para o cinema se traduz, entre outras coisas, como era representativa para a cultura negra. Chegava a vez de grande parte da sociedade finalmente se ver representada nas telas como protagonistas – no movimento conhecido como Blaxploitation.

Detetives durões, mulheres fortes, malandros e criminosos sedutores, em dezenas de filmes durante toda a época, artistas negros (assim como seus personagens) tomavam para si o protagonismo de histórias policiais, investigativas e de suspense. É justo dizer que Shaft, vivido por Richard Roundtree foi o grande exponencial de período e o personagem mais famoso – tanto que ressoa até hoje.

Duas sequências – O Grande Golpe de Shaft (1972) e Shaft na África (1973) – e uma série de TV (1973-1974) depois e o personagem foi engavetado, hibernando durante as décadas de 1980 e 1990. Foi somente em 2000 que Shaft saía da aposentadoria no filme homônimo, trazido pelo saudoso diretor John Singleton. Agora nas formas de Samuel L. Jackson, mas com direito a participação do original (Richard Roundtree), o longa não atingiu o esperado – mesmo levantando em sua trama questões ainda latentes e contando com um elenco de primeira (Christian Bale, Toni Collette, Jeffrey Wright). Shaft (2000) é o que podemos chamar de filme subestimado.

Justamente por isso, o personagem ficou na geladeira por novos dezenove anos, até um novo projeto com seu nome ser finalmente prometido. A surpresa positiva é a presença de Jackson outra vez encarnando o personagem e Roundtree com uma participação ainda maior. Ou seja, esta é uma continuação direta do filme de Singleton – que por sua vez continua as aventuras da década de 1970, com o protagonista original passando seu bastão ao sobrinho/filho (até mesmo uma brincadeira com esta confusão é abordada pelo novo longa).

Outro momento de graça do novo Shaft (2019) é a piada “interna” sobre o fato de todos sempre confundirem Jackson com Laurence Fishburne. Vale enfatizar as partes boas porque os elogios para o novo longa não são muitos. O alerta vermelho surgiu quando foi divulgada a notícia de que o filme não seria lançado nos cinemas em muitos países, como no Brasil, mas sim diretamente na Netflix – casa dos temerosos e desesperados. Não ajuda nada o fato de que substituindo o grande Singleton (que também assinava o roteiro do longa de 2000), falecido este ano, se encontra o inexpressivo Tim Story (Táxi e Quarteto Fantástico, 2005).

Story não imprime energia ou urgência ao filme, dando a impressão deste ser o episódio piloto rejeitado de uma série de televisão. Tudo é extremamente genérico, seguro e quase mirado ao público infanto-juvenil. Praticamente não encontramos vestígio do que foi o personagem anteriormente. Sinal dos novos tempos politicamente corretos? Bem, sim e não. Se esta fosse a ideia, teríamos uma reinterpretação completa, com um novo protagonista e uma história mais sanitária.

O que nos leva a uma outra questão desagradável: o roteiro de Kenya Barris (não, não se trata de uma roteirista feminina e sim de um homem) e Alex Barnow. A ideia por trás do filme é colocar o dinossauro detetive mulherengo a par com os novos tempos, numa típica história de peixe fora d´água. E para isso somos apresentados ao filho do protagonista, o engomadinho vivido por Jessie T. Usher. A dinâmica de personalidades conflitantes transforma o filme numa comédia, porém, uma sem qualquer afinação, esperteza ou brilho. É a rotina do buddy cop movie reciclada lá da década de 1980. De fato, o novo Shaft soa tão antiquado que parece mesmo um filme produzido através de um roteiro engavetado.

Nem ao menos criatividade no título o longa demonstra, nomeando pela terceira vez (e confundindo completamente o espectador) um longa da série apenas como Shaft, quando claramente a pedida era por algo como O Filho de Shaft. E se você achou a ideia do título brega, piegas ou tosco, espere até assistir ao filme.

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