quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Share: Filme trata abuso sexual entre adolescentes, mas peca na narrativa

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Nos últimos anos, o tabu em volta da discussão sobre abuso sexual tem se dissolvido. Entre cascatas de denúncias de celebridades, o assunto tem sido desmistificado diante do público, que cada vez mais percebe um terrível submundo em Hollywood e, obviamente, em qualquer outro ramo profissional. As escolas e universidades não ficam de fora e já testemunharam uma série de casos que começam com bullying e terminam na violação de garotas inconscientes em festas, inicialmente, inocentes. Romper essa barreira é um pouco mais difícil. Ainda cercada por um machismo que enaltece o comportamento masculino agressivo em relação à garotas e mulheres, o ambiente estudantil coloca os seus mais em risco do quem em segurança. Foi assim nos retratos documentais de Audrie & Daisy e The Hunting Ground. E assim se repete no drama fictício Share.

Na produção, uma festinha feita entre colegas de escola termina na publicação de uma série de fotos e vídeos comprometedores, que trazem a jovem Mandy (Rhianne Barreto) cercada por garotos que se aproveitam de seu frágil e desnudo corpo. Inconsciente, ela é motivo de piada no material, que circula em uma rapidez impressionante, entre todos os estudantes da escola. Um momento de vulnerabilidade se transforma na perpetuação da marginalização de sua integridade. De repente, a talentosa jogadora de basquete se vê no centro de uma polêmica, onde todos parecem descreditá-la, inclusive a escola.



Dirigido e roteirizado por Pippa Bianco, Share é extremamente pontual, chegando em um timing perfeito para a ampliar a discussão a respeito da forma como adolescentes são tratadas dentro e fora da escola. Naturalmente inspirado em uma série de terríveis histórias reais, o drama relata com uma certa dureza o que acontece quando uma vítima decide se pronunciar sobre um abuso sofrido. O contexto é ainda mais doloroso quando ela não sabe muito bem o que aconteceu, pelo fato de ter estado inconsciente durante o processo. Abordando também as reações da família, o longa merece nossa admiração por tocar em uma ferida aberta jamais tratada.

No entanto, Share peca pela mesmice. Sem escandalizar a audiência com a crueldade que – em sua essência – já dói a alma, a produção não vai além no seu papel denunciante. Colocando uma dose de açúcar no sofrimento da jovem vítima, vemos nas telas aquilo que já sabemos: que denunciar um abuso pode trazer mais sofrimento do que alívio. No entanto, ao fugir do compromisso de expor com mais voracidade o quanto as autoridades (sejam elas estudantil ou policial) se distanciam do problema, o longa peca por cair no mais do mesmo. Aqui, nada de novo é mostrado e o choque de impacto que o crime deveria proporcionar no público é frustrado. Assistimo, sentimos muito, mas nada passa disso.

Para promover debates mais acalorados sobre o tratamento do abuso sexual e suas respectivas vítimas, Share deveria se aproximar da primeira temporada de 13 Reasons Why. É assim que o entretenimento rompe as paredes e atinge a boca do estômago da audiência. É assim que conversas fundamentais são iniciadas. Como um retrato da vida real, o cinema – quando toca nessas feridas – precisa dimensionar seu papel. Share fica no meio do caminho, entregando uma narrativa cheia de verdades, mas incompleta. Aqui, a narrativa é quase um enxerto mal contado do documentário Audrie & Daisy, da Netflix. Comendo pelas beiradas de um crime extremamente sério, o drama é capaz de nos emocionar, mas não de nos chocar e refletir. E é justamente isso que precisamos, em uma sociedade onde as mulheres ainda sofrem com os traumas do abuso e as sequelas que a busca por justiça traz.

Com uma direção bem conduzida pela estreante Pippa, Share nos desaponta por trazer um final que faz um desserviço às vítimas de abuso sexual, servindo como um desestímulo genuíno para aqueles que têm dúvida quanto a se posicionar sobre a agressão sofrida. Ignorando a importância de se combater o crime, a ficção nada para morrer na praia, se tornando um filme que se perderá no tempo em meio a outras produções que, muito mais que entender a importância de passar uma mensagem, sabem o valor de perpetuá-la para além de seu tempo. Uma pena que a oportunidade fora perdida.

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Nos últimos anos, o tabu em volta da discussão sobre abuso sexual tem se dissolvido. Entre cascatas de denúncias de celebridades, o assunto tem sido desmistificado diante do público, que cada vez mais percebe um terrível submundo em Hollywood e, obviamente, em qualquer outro ramo profissional. As escolas e universidades não ficam de fora e já testemunharam uma série de casos que começam com bullying e terminam na violação de garotas inconscientes em festas, inicialmente, inocentes. Romper essa barreira é um pouco mais difícil. Ainda cercada por um machismo que enaltece o comportamento masculino agressivo em relação à garotas e mulheres, o ambiente estudantil coloca os seus mais em risco do quem em segurança. Foi assim nos retratos documentais de Audrie & Daisy e The Hunting Ground. E assim se repete no drama fictício Share.

Na produção, uma festinha feita entre colegas de escola termina na publicação de uma série de fotos e vídeos comprometedores, que trazem a jovem Mandy (Rhianne Barreto) cercada por garotos que se aproveitam de seu frágil e desnudo corpo. Inconsciente, ela é motivo de piada no material, que circula em uma rapidez impressionante, entre todos os estudantes da escola. Um momento de vulnerabilidade se transforma na perpetuação da marginalização de sua integridade. De repente, a talentosa jogadora de basquete se vê no centro de uma polêmica, onde todos parecem descreditá-la, inclusive a escola.

Dirigido e roteirizado por Pippa Bianco, Share é extremamente pontual, chegando em um timing perfeito para a ampliar a discussão a respeito da forma como adolescentes são tratadas dentro e fora da escola. Naturalmente inspirado em uma série de terríveis histórias reais, o drama relata com uma certa dureza o que acontece quando uma vítima decide se pronunciar sobre um abuso sofrido. O contexto é ainda mais doloroso quando ela não sabe muito bem o que aconteceu, pelo fato de ter estado inconsciente durante o processo. Abordando também as reações da família, o longa merece nossa admiração por tocar em uma ferida aberta jamais tratada.

No entanto, Share peca pela mesmice. Sem escandalizar a audiência com a crueldade que – em sua essência – já dói a alma, a produção não vai além no seu papel denunciante. Colocando uma dose de açúcar no sofrimento da jovem vítima, vemos nas telas aquilo que já sabemos: que denunciar um abuso pode trazer mais sofrimento do que alívio. No entanto, ao fugir do compromisso de expor com mais voracidade o quanto as autoridades (sejam elas estudantil ou policial) se distanciam do problema, o longa peca por cair no mais do mesmo. Aqui, nada de novo é mostrado e o choque de impacto que o crime deveria proporcionar no público é frustrado. Assistimo, sentimos muito, mas nada passa disso.

Para promover debates mais acalorados sobre o tratamento do abuso sexual e suas respectivas vítimas, Share deveria se aproximar da primeira temporada de 13 Reasons Why. É assim que o entretenimento rompe as paredes e atinge a boca do estômago da audiência. É assim que conversas fundamentais são iniciadas. Como um retrato da vida real, o cinema – quando toca nessas feridas – precisa dimensionar seu papel. Share fica no meio do caminho, entregando uma narrativa cheia de verdades, mas incompleta. Aqui, a narrativa é quase um enxerto mal contado do documentário Audrie & Daisy, da Netflix. Comendo pelas beiradas de um crime extremamente sério, o drama é capaz de nos emocionar, mas não de nos chocar e refletir. E é justamente isso que precisamos, em uma sociedade onde as mulheres ainda sofrem com os traumas do abuso e as sequelas que a busca por justiça traz.

Com uma direção bem conduzida pela estreante Pippa, Share nos desaponta por trazer um final que faz um desserviço às vítimas de abuso sexual, servindo como um desestímulo genuíno para aqueles que têm dúvida quanto a se posicionar sobre a agressão sofrida. Ignorando a importância de se combater o crime, a ficção nada para morrer na praia, se tornando um filme que se perderá no tempo em meio a outras produções que, muito mais que entender a importância de passar uma mensagem, sabem o valor de perpetuá-la para além de seu tempo. Uma pena que a oportunidade fora perdida.

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