domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Sicário: Dia do Soldado – De Obra questionadora para um Filme de Ação

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Soldados de Ninguém

É inegável que um dos nomes de destaque em 2018 será o de Josh Brolin. O veterano cinquentão já deu inúmeras provas de seu talento, vide Onde os Fracos Não Tem Vez (2007) e Milk- A Voz da Igualdade (2008) – pelo qual foi indicado ao Oscar – mas foi redescoberto por um novo público como astro pop. Na pele de personagens duros e irredutíveis, Brolin ressurge como o anti-herói, antagonista ou vilão do momento. Primeiro foi Thanos em Vingadores: Guerra Infinita, seguido de perto por Cable, de Deadpool 2, e agora o ator lança Sicário: Dia do Soldado, no qual volta a interpretar dúbio agente ultrassecreto do governo, Matt Graver.

Para os desavisados de plantão, é preciso reforçar que se trata da sequência desnecessária de Sicário: Terra de Ninguém (2015), produção seminal do tarimbado franco-canadense Denis Villeneuve.



Bom, e além de não caber continuidade nesta obra questionadora, desde o anúncio da segunda parte a estranheza pairava e se concretizou pelas ausências do diretor original, da estrela Emily Blunt – e sua personagem que equilibrava tudo como bússola moral – da fotografia do mestre Roger Deakins e trilha sonora do saudoso Jóhann Jóhannsson (para quem o longa é dedicado), estes dois últimos indicados ao Oscar pelo filme.

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Salvam-se os retornos do roteiro de Taylor Sheridan – o nome do momento quando o assunto é texto bem lapidado (vide A Qualquer Custo e Terra Selvagem) – Benicio Del Toro como Alejandro e o citado Brolin na pele de Graver. No entanto, destas reprises tiramos cópias carbono menos brilhosas do original.

Na trama, Blunt (e sua Kate Macer) ficou para trás e agora seguimos a jornada de Graver (Brolin) por uma nova missão realizada na surdina e de forma a ignorar todo e qualquer direito humano. A fim de desbaratinar cartéis de droga mexicanos, que estão facilitando a entrada de terroristas do Oriente Médio nos EUA, a tropa comandada pelo incorreto agente americano passará por novas provações e inúmeros momentos de pura tensão. O início de Dia do Soldado é desconcertante, com trechos de atentados cometidos em solo dos EUA por homens bomba. E daí imaginamos que o longa irá partir desta premissa na hora de confeccionar sua nova trama. Ledo engano, pois tal narrativa é abandonada instantaneamente, servindo apenas de introdução.

A história é focada na repetição do tema e seu desenrolar ainda possui muitas amarras com o filme anterior, novamente empalecendo por comparação. O ponto alto de Dia do Soldado é a revelação da jovem Isabela Moner (do último Transformers), que exala tanto carisma da tela ao ponto de elevar consideravelmente os trechos rotineiros aos quais os realizadores prendem a maior parte do filme.

Pela primeira vez num texto de Sheridan existe inconstância, acovardamento e questionamentos de menos. As opções do talentoso escritor aqui são as mais seguras, o que joga Sicário no lugar comum de filmes de ação. É como se o autor não tivesse mais nada a dizer – que já não tenha sido adereçado na obra anterior – e desta vez apenas extrai seu cheque para cumprir tabela. Na era Trump, na qual o personagem de Brolin é a personificação do imediatismo sem consciência, esta falta foi uma tremenda oportunidade perdida. Em Dia do Soldado não existe mais equilíbrio ou dualidade – dando ao público a opção de adereçar prós e contras.

O que esta falta de equilíbrio acarreta é a traição de personalidades. Assim, vemos ambos Graver e Alejandro mais humanos e doces, com crise de consciência aos 45 do segundo tempo. Agora, muito mais do que para um ideal, suas ações soam como pessoais. Sheridan chega ao cúmulo inclusive de deixar certos furos no roteiro, que uma segunda investida tornaria mais aparente.

Dia do Soldado aumenta o grafismo da violência e a intensidade da ação para compensar sua falta de relevância e pungência. Quem quiser se manter alheio a isto, pode apreciar as cenas de ação bem trabalhadas pelo italiano Stefano Sollima (da série Gomorra), o novo comandante do filme. De obra quintessencial ao tema do combate ao submundo dos carteis (que faz harmoniosa sessão dupla com Traffic, de Steven Soderbergh), Sicário migra para um bom thriller policial, possivelmente dando início a uma franquia de ação menos condensada – o plano final emula o Poderoso Chefão e “deixa a porta aberta” para uma nova sequência.

Dia do Soldado soa como banda cover de seu original, mostrando que mesmo nas mais satisfatórias versões recriadas, um vocalista como Villeneuve faz muita falta.

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Para os desavisados de plantão, é preciso reforçar que se trata da sequência desnecessária de Sicário: Terra de Ninguém (2015), produção seminal do tarimbado franco-canadense Denis Villeneuve.

Bom, e além de não caber continuidade nesta obra questionadora, desde o anúncio da segunda parte a estranheza pairava e se concretizou pelas ausências do diretor original, da estrela Emily Blunt – e sua personagem que equilibrava tudo como bússola moral – da fotografia do mestre Roger Deakins e trilha sonora do saudoso Jóhann Jóhannsson (para quem o longa é dedicado), estes dois últimos indicados ao Oscar pelo filme.

Salvam-se os retornos do roteiro de Taylor Sheridan – o nome do momento quando o assunto é texto bem lapidado (vide A Qualquer Custo e Terra Selvagem) – Benicio Del Toro como Alejandro e o citado Brolin na pele de Graver. No entanto, destas reprises tiramos cópias carbono menos brilhosas do original.

Na trama, Blunt (e sua Kate Macer) ficou para trás e agora seguimos a jornada de Graver (Brolin) por uma nova missão realizada na surdina e de forma a ignorar todo e qualquer direito humano. A fim de desbaratinar cartéis de droga mexicanos, que estão facilitando a entrada de terroristas do Oriente Médio nos EUA, a tropa comandada pelo incorreto agente americano passará por novas provações e inúmeros momentos de pura tensão. O início de Dia do Soldado é desconcertante, com trechos de atentados cometidos em solo dos EUA por homens bomba. E daí imaginamos que o longa irá partir desta premissa na hora de confeccionar sua nova trama. Ledo engano, pois tal narrativa é abandonada instantaneamente, servindo apenas de introdução.

A história é focada na repetição do tema e seu desenrolar ainda possui muitas amarras com o filme anterior, novamente empalecendo por comparação. O ponto alto de Dia do Soldado é a revelação da jovem Isabela Moner (do último Transformers), que exala tanto carisma da tela ao ponto de elevar consideravelmente os trechos rotineiros aos quais os realizadores prendem a maior parte do filme.

Pela primeira vez num texto de Sheridan existe inconstância, acovardamento e questionamentos de menos. As opções do talentoso escritor aqui são as mais seguras, o que joga Sicário no lugar comum de filmes de ação. É como se o autor não tivesse mais nada a dizer – que já não tenha sido adereçado na obra anterior – e desta vez apenas extrai seu cheque para cumprir tabela. Na era Trump, na qual o personagem de Brolin é a personificação do imediatismo sem consciência, esta falta foi uma tremenda oportunidade perdida. Em Dia do Soldado não existe mais equilíbrio ou dualidade – dando ao público a opção de adereçar prós e contras.

O que esta falta de equilíbrio acarreta é a traição de personalidades. Assim, vemos ambos Graver e Alejandro mais humanos e doces, com crise de consciência aos 45 do segundo tempo. Agora, muito mais do que para um ideal, suas ações soam como pessoais. Sheridan chega ao cúmulo inclusive de deixar certos furos no roteiro, que uma segunda investida tornaria mais aparente.

Dia do Soldado aumenta o grafismo da violência e a intensidade da ação para compensar sua falta de relevância e pungência. Quem quiser se manter alheio a isto, pode apreciar as cenas de ação bem trabalhadas pelo italiano Stefano Sollima (da série Gomorra), o novo comandante do filme. De obra quintessencial ao tema do combate ao submundo dos carteis (que faz harmoniosa sessão dupla com Traffic, de Steven Soderbergh), Sicário migra para um bom thriller policial, possivelmente dando início a uma franquia de ação menos condensada – o plano final emula o Poderoso Chefão e “deixa a porta aberta” para uma nova sequência.

Dia do Soldado soa como banda cover de seu original, mostrando que mesmo nas mais satisfatórias versões recriadas, um vocalista como Villeneuve faz muita falta.

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