sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | ‘Sob as Águas do Sena’ é um dos piores filmes de 2024

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Desde a pandemia, os museus de Paris vêm recebendo alguns atos de protestos realizados por manifestantes ambientais. Apesar da causa ser justa, a forma como essa galera age não parece entregar tanto a mensagem. Afinal, os atos acabaram viando piada nas redes sociais e o gesto de jogar tinta na Monalisa, por exemplo, repercutiu muito mais do que a mensagem do povo se atentar para a poluição nos mares. Nessa onda de jovens querendo mudar o mundo, mas sem coordenar bem suas ações, uma parcela boa da sociedade passou a não levar o ativismo a sério.

Partindo dessa premissa de pseudoativismo e se aproveitando da proximidade dos Jogos Olímpicos 2024, o diretor Xavier Gens tentou construir um suspense com tubarões em Paris. Mas só tentou, porque o resultado foi Sob as Águas do Sena, um dos filmes mais covardes dos últimos tempos, que sabe Deus como ganhou sinal verde da Netflix.



Nadadeira de tubarão na água, espelho d'água refletindo.

Dentre os incontáveis problemas ostentados pelo filme, o mais cruel deles é começar de forma promissora. Nos últimos anos, o público teve acesso a uma série de longas com tubarões que se apoiam na galhofa para contar suas histórias. E não há problema algum nisso, contanto que seja algo esclarecido pela própria direção. Quem assiste um Sharknado ou um Megatubarão sabe a todo segundo que não há qualquer intenção do projeto em se levar a sério. Por outro lado, há longas como o Tubarão original e Águas Rasas que realmente conduzem suas histórias de formas sérias, focando no suspense e na aventura, ou no suspense e no drama. Ambas as maneiras de abordar o subgênero de ‘filme de tubarão’ são mais que válidas.

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O problema de Sob as Águas do Sena é que ele começa literalmente mentindo para o público. Nos primeiros 15 minutos de filme, Gens aborda uma equipe de cientistas e ambientalistas que estão no oceano para monitorar as espécies marinhas e estudar como a grande quantidade de lixo despejado pelos humanos é capaz de afetar a rotina e a qualidade de vida dessas criaturas. Porém, as coisas dão errado e chefe do estudo vê sua equipe ser devorada por um tubarão de sete metros de comprimento. Com a citação a Charles Darwin no card de abertura e pela perspectiva mais séria e dramática dessa sequência inicial, fica subentendido que será um filme sobre o impacto da humanidade na vida marinha por meio de um suspense. Mas o que se passa na próxima 1h30 é tão absurdo e ruim que fica difícil de acreditar que você escolheu se submeter a esse filme por vontade própria.

Pessoas nadando próximo de barbatana de tubarão em Paris.

O longa continua anos depois, quando Sophia (Bérénice Bejo), a cientista em questão, teve de lidar com o trauma e se afastou da vida marinha. Eis que uma jovem ativista surge do nada e diz que conseguiu hackear a tecnologia dela e está rastreando o tubarão que assassinou sua equipe no passado. Mas calma que não é só isso. O animal está no Rio Sena a uma semana do Triatlo, o último evento teste antes das Olimpíadas. É aí que tudo desanda.

Fica a impressão de que Xavier Gens tem dificuldade para conseguir aprovação para seus filmes, então decidiu enfiar todas as suas reclamações e revoltas com a sociedade francesa numa produção só, porque ele esquece toda a questão ambiental e começa a abordar da forma mais superficial possível o núcleo dos ativistas jovens que não respeitam ninguém, a polícia ignorante que não está nem aí para nada e os políticos corruptos que só pensam na imagem deles. De verdade, se você parar para conversar com seu tio no churrasco que fica fazendo campanha pra galera anular voto, mesmo sabendo que isso não causará a anulação das eleições, talvez consiga extrair alguma mensagem com um pouco mais de profundidade que as desse filme. Quer dizer, boa sorte para tentar encontrar qualquer desenvolvimento de mensagem em Sob as Águas do Sena. É como se ele tivesse muito a dizer, mas não soubesse como e nem se esforçasse minimamente para seguir uma linha de desenvolvimento. É como acompanhar os monólogos de abertura do Craque Neto, que começam criticando o Neymar, passeiam pelo risco de pegar doença de chagas tomando caldo de cana, apontam as desigualdades sociais no Brasil e terminam elogiando o goleiro Cássio, que tratou muito bem o filho dele na Florida Cup. Pois é.

Duas mulheres olhando para a frente em ambiente urbano.

E se a trama é rasa, o que dizer dos personagens? Sequer encostaram a ponta do dedo na água. Além das atuações canastronas – o elenco jovem desse filme parece composto por Ex-BBB’s, o texto deles é muito ruim. A ativista principal parece ter saído do que há de mais sombrio no Twitter, assim como seus amigos de manifestação. Não fosse o bastante, eles também são mais burros que… Na verdade, não dá para dizer quem é mais burro nesse filme. Acho que a idiotice é compartilhada de forma igualitária. Todos os personagens são um poço de arrogância e ações sem sentido. A ativista decide entrar na água para fazer carinho no tubarão, os policiais veem os amigos se debatendo no Rio Sena e ficam dando cavalo de pau com o barco em vez de ir atrás deles, a prefeita de Paris prefere manter o triatlo com transmissões de TV para o mundo inteiro – sabendo que o tubarão matou mais de 20 pessoas na última semana – do que adiar a prova por uma justificativa muito plausível e que claramente não afetaria em nada a imagem política dela, muito pelo contrário.

Sério, é uma série tão ridícula de absurdos que você pode até pensar: “Ah, então é um filme paródia, bem galhofa”. Não. O filme não deixa de se levar a sério em momento algum. Se a direção optasse por conduzir a trama de forma cômica, talvez desse até para salvar alguma coisa. Só que o diretor achou mesmo que estava fazendo o novo Tubarão. É surreal que uma condução de trama dessas traga uma protagonista que é especialista em tubarões que ignore completamente as orientações básicas de como agir com um tubarão por perto. É um tal de gente se debatendo a torto e a direito na água que fica aquele questionamento se você deve torcer para os humanos ou para o tubarão, sendo que o peixe sequer é tratado de forma carismática ou assustadora. Então, você meio que só torce para o filme acabar logo.

Dois policiais assustados encostados em uma parede.

E no ato final, em mais um projeto de crítica que sequer chega a ser desenvolvida – é mencionada brevemente no início do filme, o diretor promove uma onda de destruição completamente sem sentido. Sem mencionar que o tubarão passa de sete para uns 12 metros de uma hora para outra e tudo bem.

Para não dizer que o filme é 100% descartável, há uma sequência nas catacumbas de Paris que chega a ser razoável, mas também desperdiça o potencial. Talvez fazer Sob as Águas do Sena tão ruim seja apenas mais uma tentativa do diretor de criticar de forma vazia a cidade em que vive para que as pessoas digam que o filme é tão ruim quanto a qualidade da água do Sena. Não sei. De qualquer forma, Xavier Gens mirou em um filme sério e acabou criando o Copa de Elite (2014) francês, mas sem a intenção de fazer o público rir. Uma verdadeira temeridade. E a Netflix ter aprovado a realização desse filme é realmente assustador. Passa extremamente longe do alto padrão de qualidade que as produções originais do streaming já tiveram um dia.

Nadadores e tubarão gigante vistos de cima.

Sob as Águas do Sena está disponível na Netflix.
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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Desde a pandemia, os museus de Paris vêm recebendo alguns atos de protestos realizados por manifestantes ambientais. Apesar da causa ser justa, a forma como essa galera age não parece entregar tanto a mensagem. Afinal, os atos acabaram viando piada nas redes sociais e o gesto de jogar tinta na Monalisa, por exemplo, repercutiu muito mais do que a mensagem do povo se atentar para a poluição nos mares. Nessa onda de jovens querendo mudar o mundo, mas sem coordenar bem suas ações, uma parcela boa da sociedade passou a não levar o ativismo a sério.

Partindo dessa premissa de pseudoativismo e se aproveitando da proximidade dos Jogos Olímpicos 2024, o diretor Xavier Gens tentou construir um suspense com tubarões em Paris. Mas só tentou, porque o resultado foi Sob as Águas do Sena, um dos filmes mais covardes dos últimos tempos, que sabe Deus como ganhou sinal verde da Netflix.

Nadadeira de tubarão na água, espelho d'água refletindo.

Dentre os incontáveis problemas ostentados pelo filme, o mais cruel deles é começar de forma promissora. Nos últimos anos, o público teve acesso a uma série de longas com tubarões que se apoiam na galhofa para contar suas histórias. E não há problema algum nisso, contanto que seja algo esclarecido pela própria direção. Quem assiste um Sharknado ou um Megatubarão sabe a todo segundo que não há qualquer intenção do projeto em se levar a sério. Por outro lado, há longas como o Tubarão original e Águas Rasas que realmente conduzem suas histórias de formas sérias, focando no suspense e na aventura, ou no suspense e no drama. Ambas as maneiras de abordar o subgênero de ‘filme de tubarão’ são mais que válidas.

O problema de Sob as Águas do Sena é que ele começa literalmente mentindo para o público. Nos primeiros 15 minutos de filme, Gens aborda uma equipe de cientistas e ambientalistas que estão no oceano para monitorar as espécies marinhas e estudar como a grande quantidade de lixo despejado pelos humanos é capaz de afetar a rotina e a qualidade de vida dessas criaturas. Porém, as coisas dão errado e chefe do estudo vê sua equipe ser devorada por um tubarão de sete metros de comprimento. Com a citação a Charles Darwin no card de abertura e pela perspectiva mais séria e dramática dessa sequência inicial, fica subentendido que será um filme sobre o impacto da humanidade na vida marinha por meio de um suspense. Mas o que se passa na próxima 1h30 é tão absurdo e ruim que fica difícil de acreditar que você escolheu se submeter a esse filme por vontade própria.

Pessoas nadando próximo de barbatana de tubarão em Paris.

O longa continua anos depois, quando Sophia (Bérénice Bejo), a cientista em questão, teve de lidar com o trauma e se afastou da vida marinha. Eis que uma jovem ativista surge do nada e diz que conseguiu hackear a tecnologia dela e está rastreando o tubarão que assassinou sua equipe no passado. Mas calma que não é só isso. O animal está no Rio Sena a uma semana do Triatlo, o último evento teste antes das Olimpíadas. É aí que tudo desanda.

Fica a impressão de que Xavier Gens tem dificuldade para conseguir aprovação para seus filmes, então decidiu enfiar todas as suas reclamações e revoltas com a sociedade francesa numa produção só, porque ele esquece toda a questão ambiental e começa a abordar da forma mais superficial possível o núcleo dos ativistas jovens que não respeitam ninguém, a polícia ignorante que não está nem aí para nada e os políticos corruptos que só pensam na imagem deles. De verdade, se você parar para conversar com seu tio no churrasco que fica fazendo campanha pra galera anular voto, mesmo sabendo que isso não causará a anulação das eleições, talvez consiga extrair alguma mensagem com um pouco mais de profundidade que as desse filme. Quer dizer, boa sorte para tentar encontrar qualquer desenvolvimento de mensagem em Sob as Águas do Sena. É como se ele tivesse muito a dizer, mas não soubesse como e nem se esforçasse minimamente para seguir uma linha de desenvolvimento. É como acompanhar os monólogos de abertura do Craque Neto, que começam criticando o Neymar, passeiam pelo risco de pegar doença de chagas tomando caldo de cana, apontam as desigualdades sociais no Brasil e terminam elogiando o goleiro Cássio, que tratou muito bem o filho dele na Florida Cup. Pois é.

Duas mulheres olhando para a frente em ambiente urbano.

E se a trama é rasa, o que dizer dos personagens? Sequer encostaram a ponta do dedo na água. Além das atuações canastronas – o elenco jovem desse filme parece composto por Ex-BBB’s, o texto deles é muito ruim. A ativista principal parece ter saído do que há de mais sombrio no Twitter, assim como seus amigos de manifestação. Não fosse o bastante, eles também são mais burros que… Na verdade, não dá para dizer quem é mais burro nesse filme. Acho que a idiotice é compartilhada de forma igualitária. Todos os personagens são um poço de arrogância e ações sem sentido. A ativista decide entrar na água para fazer carinho no tubarão, os policiais veem os amigos se debatendo no Rio Sena e ficam dando cavalo de pau com o barco em vez de ir atrás deles, a prefeita de Paris prefere manter o triatlo com transmissões de TV para o mundo inteiro – sabendo que o tubarão matou mais de 20 pessoas na última semana – do que adiar a prova por uma justificativa muito plausível e que claramente não afetaria em nada a imagem política dela, muito pelo contrário.

Sério, é uma série tão ridícula de absurdos que você pode até pensar: “Ah, então é um filme paródia, bem galhofa”. Não. O filme não deixa de se levar a sério em momento algum. Se a direção optasse por conduzir a trama de forma cômica, talvez desse até para salvar alguma coisa. Só que o diretor achou mesmo que estava fazendo o novo Tubarão. É surreal que uma condução de trama dessas traga uma protagonista que é especialista em tubarões que ignore completamente as orientações básicas de como agir com um tubarão por perto. É um tal de gente se debatendo a torto e a direito na água que fica aquele questionamento se você deve torcer para os humanos ou para o tubarão, sendo que o peixe sequer é tratado de forma carismática ou assustadora. Então, você meio que só torce para o filme acabar logo.

Dois policiais assustados encostados em uma parede.

E no ato final, em mais um projeto de crítica que sequer chega a ser desenvolvida – é mencionada brevemente no início do filme, o diretor promove uma onda de destruição completamente sem sentido. Sem mencionar que o tubarão passa de sete para uns 12 metros de uma hora para outra e tudo bem.

Para não dizer que o filme é 100% descartável, há uma sequência nas catacumbas de Paris que chega a ser razoável, mas também desperdiça o potencial. Talvez fazer Sob as Águas do Sena tão ruim seja apenas mais uma tentativa do diretor de criticar de forma vazia a cidade em que vive para que as pessoas digam que o filme é tão ruim quanto a qualidade da água do Sena. Não sei. De qualquer forma, Xavier Gens mirou em um filme sério e acabou criando o Copa de Elite (2014) francês, mas sem a intenção de fazer o público rir. Uma verdadeira temeridade. E a Netflix ter aprovado a realização desse filme é realmente assustador. Passa extremamente longe do alto padrão de qualidade que as produções originais do streaming já tiveram um dia.

Nadadores e tubarão gigante vistos de cima.

Sob as Águas do Sena está disponível na Netflix.
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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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