Não é exagero dizer que ‘Sob Pressão’ é a melhor série brasileira da atualidade, considerando não só a tv aberta, mas também as plataformas de streaming. Baseada no livro homônimo de Márcio Maranhão, as três temporadas anteriores já vinham construindo uma atmosfera de desespero e resignação dentro do universo da saúde pública carioca, sendo que na última temporada o nível alcançado pela abordagem dos temas, das atuações e do engajamento do espectador foram tão altos, que elevou o índice da audiência do horário na tv Globo. Entretanto, a previsão esse ano era que a série desse uma pausa e saísse do Rio de Janeiro, mas aí veio a pandemia e, em uma acertada decisão, roteiristas, produção e elenco se uniram para um lindo especial de dois episódios em que, mais que nunca, a realidade foi retratada na telona e os profissionais da saúde mais uma vez foram enaltecidos com o respeito que merecem.
O roteiro de ‘Plantão Covid’ não perde tempo em explicar nem contextualizar o espectador – não é necessário, todos nós estamos vivendo essa inacreditável distopia nesse exato momento. E, assim como nós fomos jogados no meio dessa pandemia de repente, também na ficção o primeiro episódio começa já com a pandemia acontecendo, com os médicos já cansados, confusos, recebendo reforços de novos especialistas (David Júnior), aguardando a chegada dos respiradores e tentando entender como tratar o corona vírus.
Desse choque inicial, Dr. Evandro (Júlio Andrade) e Dra. Carolina (Marjorie Estiano) começam a missão tentando resgatar um paciente de um asilo, Sr. Augusto (Marcos Caruso, que deu um show de atuação!), que se recusa a ser internado; também uma jovem paciente se recusa a se tratar enquanto não conseguir falar com a mãe por telefone; somado a isso, os dramas pessoais dos médicos e enfermeiros acrescentam ainda mais tensão no cenário caótico e pandêmico, onde a máxima do Dr. Evandro, de que “ninguém morre no meu plantão”, desaparece.
O mais impressionante em ‘Sob Pressão’ é o alto grau de sincronia que a produção consegue com todos os aspectos que envolvem a realização desse programa. O elenco, como um todo, entregou atuações impecáveis, extremamente vivas e palpáveis, que imediatamente nos leva a ter a certeza de que dessa vez o Emmy Internacional vai vir! A condução de Marjorie Estiano na trama, com seu jeitinho meigo e cheio de fé, conseguindo sorrir e dar esperança mesmo nos momentos de maior desespero… nossa! Marjorie reina absoluta, culminando em uma última cena que arranca lágrimas e arrasa o coração de qualquer um.
Com direção artística de Andrucha Waddington, a equipe realizou um verdadeiro milagre para construir um hospital de campanha de verdade, tão realístico que, caramba, nem parece ficção! E é preciso dar os parabéns a Pedro Waddington também, diretor da série, cuja percepção de drama, suspense e empatia aproximaram o espectador ao caos ficcional. A colocação de câmera – ora junto ao paciente, ora junto ao médico – transportou nosso olhar para a angústia da cena que se desenrolava, deixando pouco espaço até mesmo para o próprio espectador conseguir respirar. O incrível plano-sequência de Marjorie Estiano saindo da tenda em busca dos aparelhos e, em seguida, voltando para dentro sem nenhum corte de cena foi desesperador – tanto quanto a entrada do paciente Augusto no hospital, com uma câmera de cima acompanhando toda a movimentação da equipe e, ao mesmo tempo, revelando o ambiente já lotado e desesperançoso do hospital de campanha.
Os fãs que já acompanham ‘Sob Pressão’ há três anos, já sabiam que o que estava por vir seria extremamente emocionante, mas, ainda assim, ninguém estava preparado para essa aula de humanidade e profissionalismo do que foi apresentado no especial ‘Plantão Covid’ – e os elogios vão para o engajamento da equipe tanto na ficção quanto na vida real. Mais que nunca, a série mostra o importante papel da arte em retratar a realidade e de trazer esperança às pessoas no momento em que elas mais precisam. Obra de arte!