Um filme de terror da nova safra meia boca, que deixa uma pulga na orelha de todo cinéfilo quando os créditos começam a rolar. Precisamos fazer alguns questionamentos. É esse o terror que queremos? É isso que visamos quando pensamos em um bom filme deste gênero? O que queremos assistir?
Faço essas perguntas por que a maioria dos realizadores convencionou que o que o público quer é susto e nada além disso. Desse jeito fica “fácil” fazer cinema. Um silêncio aqui, um barulho mais alto ali e… Voilà, temos um filme de terror. E não que eu queira atribuir a culpa disso ao espectador, a natureza disto me parece como um ciclo vicioso. Se há uma demanda para este cinema, haverá abutres dispostos a suprir esta demanda; o que quero dizer é que nós como espectadores, temos que observar este maniqueísmo barato, discuti-lo e rejeita-lo quando possível.
É até injusto eu atentar para isto em ‘Sobrenatural: A Origem‘, já que o filme não é o melhor exemplo dessa safra, mas ele veio logo depois de alguns outros desta categoria. Nesse sentido, o filme até que apresenta certa atmosfera de terror, embora empurrada goela abaixo, e poucos sustos justificados, sendo a maioria aumentos de volume súbito, como quando esquecemos que o som está no volume máximo e colocamos alguma coisa para tocar.
O filme é o terror clássico de possessão. Quinn (Stefanie Scott) é uma garota que sente a falta da mãe, falecida há pouco tempo por um câncer, e que é assombrada por uma entidade misteriosa. Quinn mora com o pai e com um irmãozinho pequeno. A história tem um viés de superação, já que essa entidade ataca apenas o Pai, a filha e uma médium que entra na história após receber uma visita da jovem. Todos estes tentando tocar a vida pra frente após perder um ente querido.
Esse aspecto não é explorado, de fato, para o que o filme se propõe. Não se vê uma associação ou simbolismo mais claro entorno disso, embora a transição do lamento para a aceitação seja facilmente identificável, não parece que o cineasta quer dizer isso, já que tudo funciona em função de alguns sustos; uns baratos e outros nem tanto, o que é uma pena, já que da metade do filme para frente criei expectativa de um desfecho que ressaltasse esse aspecto e apesar dos sustos, da agonia e repulsa, na maioria dos casos, que se imprime no espectador, a esperança fosse o sentimento final.
Embora hajam alguns sustos devidamente preparados por uma camada narrativa, como no grande acidente que é bem montado, antecedido por uma série de diálogos que te fazem esquecer que aquele filme é de terror (nesse momento pulei da cadeira), há diversos momentos em que o cineasta abre mão dessa preparação para simplesmente assustar com maçanetas e sinos que, convenientemente, fazem barulho após um momento de silêncio. Mas isso não é o que mais preocupa, os personagens e as situações são manjadas e não diferem em nada das convenções do terror.
Alguns aspectos da história e caracterização são idênticos a ‘Jessabelle‘, um outro filme de 2015 do mesmo estilo meia boca de se fazer terror. A superstição, bem como a falta de luz nos lugares e o plano e contra plano Hitckockiano (quando vemos o personagem e logo em seguida o que ele vê) estão presentes nos dois. As situações batem exatamente uma com a outra. Os dois filmes contém meninas que acabaram de passar por uma perda, são assombradas por uma entidade e até ficam impossibilitadas de caminhar por conta dos mesmos acidentes.
As repetições estéticas de ‘Sobrenatural: A Origem‘ funcionam, em um primeiro momento, mas são utilizadas com tanta repetição que a partir de um momento, esses recursos acabam perdendo força e acostumando o espectador a sua utilização, tornando-se mais fracos no decorrer no tempo. O filme é escuro a todo o momento, mesmo nas ocasiões mais normais como nos diálogos mais simples, não possuindo nenhum momento de claridade.
O filme chega tropeçando no final, embora as viagens “ao outro mundo” feitas pela médium, Elise (Lin Shaye), adicionem suspense e medo daquele universo, as repetições tratam de te puxar para fora, revelando um terror preocupantemente popular nesses últimos anos. Filmes sem personalidade, sensibilidade ou cuidado, em que seus realizadores se portam como abutres, contentando-se com a carcaça deixada por outros e nunca se preocupando em ir além disso (me desculpem os abutres pela comparação, acho-os animais fascinantes, mas não pensei em comparação melhor).