Não é de hoje que o cinema sul-coreano vem surpreendendo o público ocidental. Desde que ‘Parasita’ abocanhou vários prêmios uns anos atrás e a série ‘Round 6’ fincou o pé na primeira posição dos mais assistidos da Netflix durante semanas em muitos países, o público mundial percebeu que as produções sul-coreanas vieram para conquistar um espaço definitivo nas projeções mundiais. Entre doramas emocionantes e grupos de k-pop que dominam o universo jovem, a Coreia do Sul vem demonstrando forte investimento em divulgar sua própria cultura em muitas frentes, principalmente na arte de entretenimento. Com estreia antecipada chegou essa semana às salas de cinema brasileiras o longa ‘Sobreviventes – Depois do Terremoto’, um surpreendente suspense dramático realizado na parte sul da Coreia.
Min-sung (Park Seo-joon, de ‘Parasita’) acorda confuso ao lado de sua esposa, Myung– hwa-won (Park Bo-young). Ao se levantar, percebe que um terremoto ocorrera e que tudo ao redor está completamente destruído. Pior ainda: toda a cidade de Seul está completamente destroçada, e o único edifício que se manteve de pé foi justamente o condomínio 103, onde Min-sung e Myung– hwa-won vivem. Rapidamente o edifício passa a ficar cercado por sobreviventes da região, que pedem abrigo no local. Com o passar dos dias, a escassez de alimentos e o surgimento de pequenos conflitos interpessoais fazem com que haja um racha entre os condôminos, e a ascensão de Yeong-tak (Lee Byung-hun) como chefe dos proprietários do condomínio faz com que regras muito rígidas sejam estabelecidas, às quais alguns moradores não estão dispostos a concordar.
Apesar de ter um pouco mais de duas horas de duração, ‘Sobreviventes – Depois do Terremoto’ é bastante objetivo no seu desenvolvimento: começa dando um panorama da especulação imobiliária em Seul (mostrada durante os créditos iniciais), em seguida o terremoto ocorre de maneira super-rápida de modo que, em um par de minutos a trama já está no ponto para focar em desenvolver apenas os personagens – o que nos dá aproximadamente duas horas de plot twists para acompanharmos.
O roteiro de Tae-hwa Eom (que também dirige o longa) com Lee Shin-ji e Kim Soong-nyung parte daquele mote de “apocalipse zumbi” mas sem os zumbis. Ou seja, a partir do fim do mundo apocalíptico (toda a cidade foi destruída por conta do terremoto), como os seres humanos se comportam? Quais os possíveis finais felizes dentro de um cenário desolador? Assim, o filme tem muito mais a ver com as reviravoltas que os próprios personagens vão criar para si mesmos do que qualquer ameaça externa (como é o caso dos zumbis), o que deixa o enredo muito mais interessante, tal qual a série de sucesso ‘Os Outros’, suspense que também se passa em um condomínio. Uma pena, porém, que a versão brasileira não tenha mantido o título original “Concrete Utopia” (em tradução livre, Concreto Utópico), que tem muito mais a ver com o cerne da trama.
Com Park Ji-hu, da série ‘All Of Us Are Dead’, ‘Sobreviventes – Depois do Terremoto’ é reforçado por efeitos especiais de primeiríssima qualidade, cenas de ação primorosamente gravadas e um roteiro que não deixa a história cair na mesmice e mostra o lado obscuro e o lado iluminado do ser humano em condições adversas. Até literalmente o fim, o longa te faz roer as unhas, até apresentar uma cena final belíssima e emocionante. ‘Sobreviventes – Depois do Terremoto’ é um ótimo filme e que precisa ser visto na tela grande.