Socorro! Virei Uma Garota chega nos cinemas em numa leva de produções nacionais, principalmente comédias, que tentam trazer para o público daqui histórias tipicamente americanas, mas com uma toque brasileiro, numa quase adaptação do que já vimos nos cinemas, na Sessão da Tarde na TV aberta, e agora, na Era do streaming.
E numa mistura de Meninas Malvadas com Garota Veneno, Socorro! Virei Uma Garota se apoia no timing cômico de sua protagonista, a engraçada e talentosa Thati Lopes que está muito bem, obrigado por existir no cenário humorístico nacional, mas que peca por tentar fazer um texto descolado cheio de momentos embaraçosos que falham em fazer rir.
A grande vontade de Socorro! Virei Uma Garota é tentar desesperadamente se conectar com público jovem, seja com referências de outros filme americanos nas falas dos personagens, nos figurinos com estampas e xadrez, ou nos locais onde a trama passa, mas soa descaradamente genérico. É o bullying no colégio, é o grupo dos perdedores, a menina popular, mas que tem outras camadas para serem exploradas, a amizade disfuncional entre o protagonista e seu melhor amigo (Leo Bahia, hilário) que fica de lado quando ele vira uma garota, as revelações que soam forçadas para alguns personagens. Tudo parece ser quadrado, e isso acaba por transparecer em tela, onde para o desenvolvimento do filme fica visivelmente artificial, como se o filme fosse feito uma forma completamente calculada, um algoritmo da Netflix.
O filme até que tem bons momentos, mas eles são muito rápidos, e curtos, e parecem ter sido colocados lá como forma de clipes de divulgação, sabe? São piadas que duram no máximo alguns minutos, como se fossem esquetes de programas de humor do canal do YouTube. Claro, para um filme que mira o público mais jovem, isso pode ser um diferencial, e até mesmo uma motivação para se ir ao cinema, mas tudo isso faz o longa ser um pouco problemático em sua execução e como essas partes se apresentam na história.
A ideia do personagem principal trocar de corpo após um pedido para as estrelas, trocar de gênero e parar no corpo de uma menina poderia gerar boas sacadas, mas tudo fica muito simples, como se realmente um jovem de 16 anos estivesse escrito as falas e o roteiro, o que acaba por ser difícil de se conectar com as aflições, angustias e momentos um pouco mais dramáticos que o longa oferece para alguns personagens.
A comédia até entrega uma jornada de amadurecimento para Julio (Victor Lamoglia, bem, e parecido com Tom Holland e seu Peter Parker) um pouco diferente do que esperávamos, o filme não acerta no seu ritmo alucinante de piadas batidas, e enfadonhas, onde boa parte delas são bem sem graça, e colocadas lá para efetivamente enrolar na conclusão da história e saber se ele vai ou não conseguir ficar com a menina (Manu Gavassi) que ele gosta.
Socorro! Virei Uma Garota parece ser um daqueles filmes que as boas intenções estão ali, só que teria dado mais certo se feito talvez com um formato diferente. Por mais que algumas partes até são entregues de uma forma extremamente cômica, tudo fica um pouco mais caricato do que o esperado, e isso fica cada vez mais claro quando juntamos tudo no pacote que o filme apresenta como um todo. Por mais que no final, Julio tenha saído mudado dessa experiência quase mística, no fundo parece que quem mais sofreu foi o espectador…