Sonic sempre foi um dos personagens mais queridos e importantes na história da cultura pop, pois, desde que surgiu como jogo no Mega Drive, em 1991, elevou a já poderosa SEGA a um patamar que o estúdio jamais havia alcançado. Com a marca japonesa se igualando a Nintendo dentro do cenário de consoles caseiros e atingindo número de vendas dos quais apenas jogos como Super Mario Bros. eram capazes. Foi só depois do Sonic que nasceu a tão falada rivalidade entre as duas empresas e, por consequência, a disputa do Azulão contra o Bigodudo.
Já no início da década de 1990 tivemos novos games, desenhos animados, linhas de colecionáveis, material escolar, roupas e tantos outras vertentes que não dá para citar aqui… E mesmo com a SEGA encerrando sua produção de consoles no início dos anos 2000, Sonic seguiu sendo lançado para outras plataformas e fazendo o sucesso de sempre, rendendo, anualmente, milhões aos cofres do estúdio. Tanto que todas essas ramificações comerciais nunca saíram do mercado.
Aproveitando assim a leva dos filmes de super-heróis e observando o cenário das animações e o crescimento de adaptações de games para a indústria do cinema, a Paramount fez uma parceria com a SEGA e – mesmo assustando com aquele visual inicial, que rapidamente foi corrigido – fomos brindados com o ótimo ‘Sonic: O Filme’ (2020).
É claro que o longa não inventa a roda ou surge como a nova perola do cinema mundial, mas trabalha, honestamente, conceitos já conhecidos da franquia do Ouriço Azul, junto ao que é utilizado nas aventuras atuais do gênero de comédia e aventura. Soando, à primeira vista, como a fusão de ‘Ted’ (2012), pelo lado fofo-irreverente, com ‘Deadpool’ (2016), por sua pegada no sense e a chamada quebra da quarta parede.
No entanto, o estreante diretor Jeff Fowler e sua equipe sempre fizeram questão de manter a essência da série e do personagem advinda dos games, com o Sonic sendo, por essência, a figura de um garoto (ou animal) rebelde, que tenta resolver a situação do seu jeito e da maneira mais radical e “peculiar” possível. Tendo como nêmeses o também conhecido e icônico vilão Robotnik, que ganhou uma nova e ótima interpretação com um Jim Carrey super a vontade e se divertindo em tela.
O filme, bem, apesar do 2020 pandêmico, ficou entre as maiores bilheterias do ano, estando atrás apenas de produções mais caras, como ‘Bad Boys Para Sempre’ e ‘Tenet’. Obviamente, a Paramount logo tratou de fazer uma continuação e, dessa vez, adentrar o universo do Sonic e trazer os já conhecidos personagens dos games, Tails e Knuckles.
‘Sonic 2: O Filme’ traz novamente Fowler como principal comandante da empreitada e segue a mesma pegada do filme anterior, porém, agora, tendo mais liberdade para focar quase que 80% da produção em seus personagens principais, os animaizinhos antropomórficos.
Ou seja, tanto James Marsden quanto Natasha Rothwell são meros coadjuvantes dessa vez, algo que fica claro feito água, já que possuem um núcleo completamente separado das principais figuras abordadas. Aliás, se há algo podemos destacar como ponto baixo aqui é justamente as cenas em que os personagens humanos aparecem, fazendo o ritmo da narrativa cair um pouco.
No entanto, como falamos, esses momentos acabam sendo pontuais e estão lá para justificar o título de live-action, acontecem para não colocar apenas o Jim Carrey e uns militares como as figuras reais da produção. O longa que é divertido e repleto de boas cenas de ação, do início ao fim, esbanja carisma através de seus personagens e de momentos hilários criados pelos realizadores. Como a sensacional sequência da batalha de dança em um bar europeu dos quais a dupla Sonic e Tails não fazem ideia de qual idioma estão falando – o tradutor de idiomas da raposa é mais falho que o chapéu do Presto em ‘Caverna do Dragão’.
Mas, como não podia deixar de ser, Knuckles é quem rouba a cena por aqui, pois surge como um sujeito literal e deslocado em meio a moderna cidade de Green Hills – tal qual o Thor no primeiro filme do Deus do Trovão pela Marvel Studios. Knuckles é rabugento, badass, implacável e ao mesmo tempo absolutamente cativante pelo modo de agir.
Assim como nos jogos, ele aparece como o último guardião da Esmeralda Mestre, onde é engando pelo Robotnik que fala do Sonic como o grande vilão da trama. E não por coincidência, Knuckles faz parte do clã dos Equidnas que aparece perseguindo o Sonic no início do filme anterior e são rivais da coruja e mestre do Azulão, Garra Longa.
Além de toda trama básica e funcional, de cenas de ação de ação bem realizadas e de efeitos e citações visuais que vão fazer os fãs da franquia sentirem um calorzinho no peito por serem especialmente agraciados, o filme abre espaço para dezenas de piadas e tiradas sensacionais com o que se tem de atual no meio do entretenimento. É difícil não chorar de rir ao ver o Azulão soltar coisas como “Nossa, lá vem o Soldado Invernal…” quando Knuckles surge em uma tomada na neve; ou mesmo quando ele cita uma rixa antiga e coloca Vin Diesel e The Rock como exemplos.
São detalhes como estes que vão conquistando o espectador aos poucos e, no fim de tudo, você termina a sessão com um sorriso no rosto. Ou seja, é claro que os pequenos vão adorar a aventura inocente, até por algumas gags serem assumidamente infantis e pela construção intencionalmente caricatural de vários personagens.
Contudo tenha em mente que até mesmo os adultos vão curtir a beça essa sequência eficiente da Paramount. Os fãs mais antigos do Sonic então irão surtar em alguns andamentos, sobretudo com o que é revelado na cena final pós-créditos – adianto que teremos algo na linha de ‘Sonic Adventure 2’. Em suma, está aqui o exemplo perfeito de como traduzir para o cinema uma obra que é original dos games. E que venha o terceiro!