domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | Sophie Charlotte se entrega de corpo e alma à cinebiografia ‘Meu Nome é Gal’

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Gal Gosta é, inegavelmente, uma das maiores artistas da história do Brasil – e, sem sombra de dúvida, uma das grandes vozes da indústria fonográfica mundial. Ao longo de sua carreira, ela levou para casa nada menos que cinco prêmios do Grammy Latino, além de ter contribuído de forma bastante ativa para a popularização do movimento contracultural conhecido como Tropicália, cuja revolução estética, sonora e comportamental ajudou a combater a mancha social deixada pela Ditadura Militar entre os anos 1960 e 1980. Através de uma voz que seria relembrada por eras, Gal eternizou canções como “Baby” e “Divino, Maravilhoso” – e agora, pouco mais de um ano depois de seu falecimento, ela é homenageada mais uma vez com a cinebiografia Meu Nome É Gal.

O projeto é comandado por Dandara Ferreira e Lô Politi, que já trabalharam juntas para exaltar a carreira da artista com a série documental ‘O Nome Dela É Gal’, que estreou em 2017. Aqui, a dupla une forças para dramatizar a vida e a carreira de Gal em um recorte ambientado nos anos mais difíceis da Ditadura, em que a música e as outras facetas da arte culminavam em um hino de luta e de liberdade frente a uma constante represália que podava e punia a própria expressão. Não é surpresa que o começo do longa nos premedite ao lançamento do álbum ao vivo ‘Fa-Tal: Gal a Todo Vapor’, uma das incursões mais importantes do cenário nacional e que serviu como resposta ao exílio de seus amigos e colegas – além de mostrar uma renovação de repertório magnífica que a acompanharia até sua morte.



Considerando o supracitado recorte temporal, era óbvio que Ferreira e Politi abririam espaço para uma espécie de “narrativa de origem”, mostrando a saída de Gal da Bahia, sua chegada ao Rio de Janeiro e o início de uma carreira que passaria por altos e baixos em virtude do explosivo momento em que ela, Caetano Veloso, Rita Lee, Gilberto Gil e tantos outros viviam. O problema é que, apesar das ótimas intenções (que incluíram a representação de Gal a uma nova geração que, provavelmente, não a conhece, e a celebração do corpo artístico como uma poderosa arma de combate), a obra parece não acreditar em si mesma e aposta em uma fragmentação cronológicas quase cubista que não mostra nada além do que conhecíamos sobre Costa e sua música. Aliás, é frustrante ver como ela é colocada em segundo plano em prol de uma universalização temática que insurge como obstáculo para criar laços sólidos com o enredo e com o elenco.

Na trama, Sophie Charlotte entrega uma das melhores performances de sua carreira ao encarnar a personagem titular, demonstrando ter respeito à sua importância e reiterando seu conhecimento sobre as várias camadas de sua vida. Aliás, é notável como a atriz se transmuta na performer e consegue navegar por minúcias de caracterização aplaudíveis – seja no fraseamento dos diálogos, seja nos movimentos corporais que são imediatamente reconhecíveis. E isso não é tudo: temos a presença de Rodrigo Lélis em sua estreia no circuito dos longas-metragens como Veloso, fazendo um sólido trabalho e roubando os holofotes com uma interpretação incrível que reflete as preocupações e as angústias de uma sombria época da nossa história; Dan Ferreira, interpretando Gil, e Camila Márdila, entregando-se de corpo e alma a mais uma ótima atuação como Dedé Gadelha, também fazendo um trabalho digno de aplausos; mas é Luis Lobianco quem comanda as cenas de que participa ao viver Guilherme Araújo, empresário dos membros da Tropicália que não tem o devido crédito e que merece nosso reconhecimento.

Apesar do espetacular elenco, é necessário falar sobre os deslizes – que, na verdade, ganham expressividade no conjunto geral da obra. A direção é forte e está aliada com elementos imagéticos bem construídos, como a fotografia (que auxilia a construir uma intimidade significativa entre os personagens e ajuda a nos transportar para esse microcosmos setentista) e a direção de arte (cuja paleta de cores alterna entre a urgência artística e a sobriedade cronológica); todavia, não podemos desviar nosso olhar da já mencionada montagem, que não dá o tempo necessário a cada sequência, e ao fato de que vários aspectos da vida de Gal são deixados de lado para culminar em um pot-pourri um tanto quanto superficial.

Os equívocos têm certa força, porém, o resultado é positivo e supera nossas expectativas – ainda mais em comparação com outras iterações do gênero que nos decepcionaram em anos anteriores. Dessa forma, ‘Meu Nome é Gal’ é um projeto com intenções belíssimas e que consegue, em parte, cumprir com o prometido, mesmo se esquecendo de recursos imprescindíveis para garantir que o filme se consagre como uma obra-prima.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O projeto é comandado por Dandara Ferreira e Lô Politi, que já trabalharam juntas para exaltar a carreira da artista com a série documental ‘O Nome Dela É Gal’, que estreou em 2017. Aqui, a dupla une forças para dramatizar a vida e a carreira de Gal em um recorte ambientado nos anos mais difíceis da Ditadura, em que a música e as outras facetas da arte culminavam em um hino de luta e de liberdade frente a uma constante represália que podava e punia a própria expressão. Não é surpresa que o começo do longa nos premedite ao lançamento do álbum ao vivo ‘Fa-Tal: Gal a Todo Vapor’, uma das incursões mais importantes do cenário nacional e que serviu como resposta ao exílio de seus amigos e colegas – além de mostrar uma renovação de repertório magnífica que a acompanharia até sua morte.

Considerando o supracitado recorte temporal, era óbvio que Ferreira e Politi abririam espaço para uma espécie de “narrativa de origem”, mostrando a saída de Gal da Bahia, sua chegada ao Rio de Janeiro e o início de uma carreira que passaria por altos e baixos em virtude do explosivo momento em que ela, Caetano Veloso, Rita Lee, Gilberto Gil e tantos outros viviam. O problema é que, apesar das ótimas intenções (que incluíram a representação de Gal a uma nova geração que, provavelmente, não a conhece, e a celebração do corpo artístico como uma poderosa arma de combate), a obra parece não acreditar em si mesma e aposta em uma fragmentação cronológicas quase cubista que não mostra nada além do que conhecíamos sobre Costa e sua música. Aliás, é frustrante ver como ela é colocada em segundo plano em prol de uma universalização temática que insurge como obstáculo para criar laços sólidos com o enredo e com o elenco.

Na trama, Sophie Charlotte entrega uma das melhores performances de sua carreira ao encarnar a personagem titular, demonstrando ter respeito à sua importância e reiterando seu conhecimento sobre as várias camadas de sua vida. Aliás, é notável como a atriz se transmuta na performer e consegue navegar por minúcias de caracterização aplaudíveis – seja no fraseamento dos diálogos, seja nos movimentos corporais que são imediatamente reconhecíveis. E isso não é tudo: temos a presença de Rodrigo Lélis em sua estreia no circuito dos longas-metragens como Veloso, fazendo um sólido trabalho e roubando os holofotes com uma interpretação incrível que reflete as preocupações e as angústias de uma sombria época da nossa história; Dan Ferreira, interpretando Gil, e Camila Márdila, entregando-se de corpo e alma a mais uma ótima atuação como Dedé Gadelha, também fazendo um trabalho digno de aplausos; mas é Luis Lobianco quem comanda as cenas de que participa ao viver Guilherme Araújo, empresário dos membros da Tropicália que não tem o devido crédito e que merece nosso reconhecimento.

Apesar do espetacular elenco, é necessário falar sobre os deslizes – que, na verdade, ganham expressividade no conjunto geral da obra. A direção é forte e está aliada com elementos imagéticos bem construídos, como a fotografia (que auxilia a construir uma intimidade significativa entre os personagens e ajuda a nos transportar para esse microcosmos setentista) e a direção de arte (cuja paleta de cores alterna entre a urgência artística e a sobriedade cronológica); todavia, não podemos desviar nosso olhar da já mencionada montagem, que não dá o tempo necessário a cada sequência, e ao fato de que vários aspectos da vida de Gal são deixados de lado para culminar em um pot-pourri um tanto quanto superficial.

Os equívocos têm certa força, porém, o resultado é positivo e supera nossas expectativas – ainda mais em comparação com outras iterações do gênero que nos decepcionaram em anos anteriores. Dessa forma, ‘Meu Nome é Gal’ é um projeto com intenções belíssimas e que consegue, em parte, cumprir com o prometido, mesmo se esquecendo de recursos imprescindíveis para garantir que o filme se consagre como uma obra-prima.

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