terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Sorry To Bother You: Um forte candidato ao Oscar de Melhor Roteiro Original

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Em tempos capitalistas, sindicatos trabalhistas são o ponto de equilíbrio que garante que as relações entre patrão e funcionário pelo menos se mantenham harmônica. Em um contexto onde o modelo sócio político vigente entra em constante contraste (e porque não conflito) com diversos movimentos representativos, como os formados por negros, mulheres e LGBTQ+, o cinema tem trazido uma nova e diferente voz, resgatando histórias reais do passado e construindo narrativas autênticas, que choquem e até mesmo confrontem nossas percepções. E como de costume, o Festival de Sundance é o palco para produções quase esquizofrênicas, que pegam momentos genuínos e atuais do mundo e da sociedade e projetam em hipérboles bem exageras. Redundante assim, nasce uma das obras-primas mais desafiadoras e insanas que você verá em 2018. Assim surge um dos grandes cotados ao Oscar 2019, Sorry To Bother You.

O novo filme do estreante diretor Boots Riley já se apresenta sem cerimônias. Abordando o universo caótico dos telemarketings, a comédia dramática usa a expressão mais comum entre os profissionais da área para nos levar a um submundo cheio de ironias, antagonismos e alegorias que mesclam o hiper realismo com a verdade. Usando o sarcasmo como o gatilho fundamental para a trama, o longa de pouco mais de 1h30 honra os funcionários sem rosto que diariamente trabalham sobre pressão para cumprir metas exorbitantes, em ligações indesejadas e muitas vezes ignoradas. Com um salário ruim e condições de trabalho insalubres, eles ganham um coro diferente na produção, por meio das atuações hipnotizantes de Lakeith Stanfield e Tessa Thompson.

Tentando conquistar seus próprios espaços como indivíduos que exerçam alguma diferença na sociedade, ambos parecem estar em pólos opostos. À medida que Detroit se consolida como uma artista conceitual, Cassius sofre com crises existenciais com a boa e velha pergunta: qual é o meu propósito no mundo? Buscando achar a resposta para a questão de um milhão de dólares, a sede por bater metas e subir ao alto escalão do telemarketing se transforma em sua meta de vida. Trazendo conflitos psicológicos profundos, mas facilmente digeridos por seu ácido humor, Sorry To Bother You vai além desse assunto, abordando também o capitalismo selvagem voraz e cego. Com brilhantismo, o roteiro navega entre a política, economia e a sociedade, em uma história delirante e cheia de plot twists inimagináveis.

Com uma pegada cult bem Festival de Sundance, a dramédia também é híbrida, transitando entre públicos distintos, sendo ainda capaz de conquistar os fãs de blockbusters. Com uma sucessão de fatos que se desenrolam em um rápido ritmo, Sorry To Bother You usa bem seu tempo de tela, constrói diálogos apaixonantes, cheios de reflexões, desdém e contradições. Com um figurino simples, mas que ganha força por ser uma extensão da personalidade dos personagens, o filme traz uma produção indie de primeira, com qualidade hollywoodiana de alto escalão. Com designer de produção bem elaborado e efeitos especiais bem ajustados, o longa brinca com as desconfortáveis conversas entre telemarketing e o cliente, construindo cenários em que a cada ligação, o atendente chega a ser transportado para o ambiente do ouvinte, simulando uma quase invasão de privacidade e, simultaneamente, a tentativa de construção de proximidade com o ouvinte.

Feito com baixo orçamento, o filme ainda surpreende ao trazer o racismo como tema principal, norteado por todas as demais temáticas já citadas. Alegando que atendentes negros têm chances menores de fechar acordos e vendas com os clientes, a comédia dramática ainda institui a “voz branca”, uma modalidade de aceitação adotada por alguns funcionários negros, na tentativa de conquistar o ouvinte do outro lado da linha. De maneira violenta e, antagonicamente sutil, Sorry To Bother You aborda o preconceito com maestria, zomba da política segregacionista que ainda vigora socialmente, tanto nos EUA, como ao redor do mundo, e dá um tapa na cara daqueles que tantas vezes julgam os maneirismos da cultura afro americana, mas garantem que “não são racistas e até têm amigos negros”.

Divertido e dinâmico, Sorry to Bother You não espanta por seu brilhantismo, afinal, vindo de Sundance, a gente sempre pode esperar os melhores e mais alucinantes filmes. Com uma perspectiva madura sobre o capitalismo e a maneira como a sociedade, vez outra, se transforma em marionete dos novos senhores feudais globais, a dramédia serve também como um despertar, faz duras críticas sociais, mas não perde o humor. Até porque, é melhor rir, do que chorar.

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O novo filme do estreante diretor Boots Riley já se apresenta sem cerimônias. Abordando o universo caótico dos telemarketings, a comédia dramática usa a expressão mais comum entre os profissionais da área para nos levar a um submundo cheio de ironias, antagonismos e alegorias que mesclam o hiper realismo com a verdade. Usando o sarcasmo como o gatilho fundamental para a trama, o longa de pouco mais de 1h30 honra os funcionários sem rosto que diariamente trabalham sobre pressão para cumprir metas exorbitantes, em ligações indesejadas e muitas vezes ignoradas. Com um salário ruim e condições de trabalho insalubres, eles ganham um coro diferente na produção, por meio das atuações hipnotizantes de Lakeith Stanfield e Tessa Thompson.

Tentando conquistar seus próprios espaços como indivíduos que exerçam alguma diferença na sociedade, ambos parecem estar em pólos opostos. À medida que Detroit se consolida como uma artista conceitual, Cassius sofre com crises existenciais com a boa e velha pergunta: qual é o meu propósito no mundo? Buscando achar a resposta para a questão de um milhão de dólares, a sede por bater metas e subir ao alto escalão do telemarketing se transforma em sua meta de vida. Trazendo conflitos psicológicos profundos, mas facilmente digeridos por seu ácido humor, Sorry To Bother You vai além desse assunto, abordando também o capitalismo selvagem voraz e cego. Com brilhantismo, o roteiro navega entre a política, economia e a sociedade, em uma história delirante e cheia de plot twists inimagináveis.

Com uma pegada cult bem Festival de Sundance, a dramédia também é híbrida, transitando entre públicos distintos, sendo ainda capaz de conquistar os fãs de blockbusters. Com uma sucessão de fatos que se desenrolam em um rápido ritmo, Sorry To Bother You usa bem seu tempo de tela, constrói diálogos apaixonantes, cheios de reflexões, desdém e contradições. Com um figurino simples, mas que ganha força por ser uma extensão da personalidade dos personagens, o filme traz uma produção indie de primeira, com qualidade hollywoodiana de alto escalão. Com designer de produção bem elaborado e efeitos especiais bem ajustados, o longa brinca com as desconfortáveis conversas entre telemarketing e o cliente, construindo cenários em que a cada ligação, o atendente chega a ser transportado para o ambiente do ouvinte, simulando uma quase invasão de privacidade e, simultaneamente, a tentativa de construção de proximidade com o ouvinte.

Feito com baixo orçamento, o filme ainda surpreende ao trazer o racismo como tema principal, norteado por todas as demais temáticas já citadas. Alegando que atendentes negros têm chances menores de fechar acordos e vendas com os clientes, a comédia dramática ainda institui a “voz branca”, uma modalidade de aceitação adotada por alguns funcionários negros, na tentativa de conquistar o ouvinte do outro lado da linha. De maneira violenta e, antagonicamente sutil, Sorry To Bother You aborda o preconceito com maestria, zomba da política segregacionista que ainda vigora socialmente, tanto nos EUA, como ao redor do mundo, e dá um tapa na cara daqueles que tantas vezes julgam os maneirismos da cultura afro americana, mas garantem que “não são racistas e até têm amigos negros”.

Divertido e dinâmico, Sorry to Bother You não espanta por seu brilhantismo, afinal, vindo de Sundance, a gente sempre pode esperar os melhores e mais alucinantes filmes. Com uma perspectiva madura sobre o capitalismo e a maneira como a sociedade, vez outra, se transforma em marionete dos novos senhores feudais globais, a dramédia serve também como um despertar, faz duras críticas sociais, mas não perde o humor. Até porque, é melhor rir, do que chorar.

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