quinta-feira , 19 dezembro , 2024

Crítica | ‘SOUR’ marca a grandiosa e íntima estreia de Olivia Rodrigo na música

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Olivia Rodrigo alcançou fama mundial ao estrelar a série sequência da adorada franquia High School Musical, dando vida à sonhadora e ambiciosa Nini Salazar-Roberts – mas a conquista do cenário mainstream definitivamente veio com o lançamento de seu primeiro single oficial, “drivers license”. Tornando-se a maior estreia feminina de todos os tempos – debutando em primeiro lugar nos charts da Billboard pelo íntimo bedroom pop a que se prestou a construir, a canção recebeu aclame universal por parte da crítica internacional e nos deixou bastante intrigados para descobrir o que vinha a seguir e o que a artista estava escondendo em sua borbulhante mente.

Pouco depois, Rodrigo lançou mais duas canções promocionais, “deja vu” e a recente “good 4 u”, transmutando-se um dos ícones do futuro da música pela originalidade identitária e por um afastamento relativo do que se via no escopo fonográfico. Não é surpresa que a cantora e compositora de apenas dezoito anos, abrindo a primeira página de um novo capítulo, tenha caído no gosto popular, seguindo os passos de um nicho criativo que vinha sido calcado desde 2013, com Lorde, e atingindo mais um ápice em 2018 com Billie Eilish. Agora, nos aproximando do meio do ano, a performer lança seu aguardado álbum de estúdio, SOUR – cujas múltiplas falhas e repetições são ofuscadas por uma produção impecável e por versos pungentes.



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Quando pensamos no ineditismo artístico, não falamos exatamente de histórias revolucionárias ou qualquer coisa do tipo – muito pelo contrário: sabemos que os enredos serão bastante similares e que o modo de contá-los é o que deve prevalecer. Aliando-se à Geffen Records, Olivia decide gerar uma íntima jornada adolescente, apelando para um simples e profundo diálogo com as angústias pelas quais jovens passam e que são, normalmente, descreditadas por adultos. Logo, é óbvio que iremos encontrar diversas reflexões amorosas sobre traição, namoros, decepções e um senso de sempre querer seguir em frente e almejar pela felicidade. O interessante é de que forma Rodrigo arquiteta cada uma das onze breves faixas, emulando diversas influências que variam desde o pop-punk de Avril Lavigne à rebeldia do rock de Joan Jett – as quais já marcam presença na track de abertura.

Apesar das assimilações a outras conterrâneas serem quase instantâneas, a jovem artista nutre de uma singularidade apaixonante, que se estende de vocais reformulados a uma obliteração total de seguir as regras – ainda que, nessa tentativa, esbarre em paradigmas familiares. Dito isso, não seria possível pensar em nenhuma outra canção além de “brutal” para começar uma jornada com propósitos tão bem delineados: a rendição, que nos soa ligeiramente emprestada de Taylor Momsen, é resumida no verso “eu estou cansada dos meus 17, onde está meu sonho adolescente?”, seguido e precedido de uma consciência de (des)pertencimento absolutamente fantástica.

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O álbum faz um claro movimento de dilatação e contração – algo que explica a intercalação constante de baladas e frenéticas explosões. Inspirada até mesmo pela “bênção” que recebeu de Taylor Swift alguns meses atrás, Olivia alterna entre as dramatizações teatrais da belíssima “traitor”, cuja poética verborrágica é o melhor elemento da canção, bem como a retórica envolvente da cantora, e a vendeta pessoal soft-rock que ganha vida na exuberância de “good 4 u”. Em outro aspecto, a narratividade literária de Rodrigo é traduzida com excelência na sinestesia da já mencionada “drivers license”, ramificando-se para a cândida, ainda que amiudada “1 step forward, 3 steps back”. E, enquanto boa parte da obra demonstra as habilidades invejáveis de Dan Nigro, que inclusive co-assina as faixas, há um certo senso de desespero que se apodera do arco de conclusão e que esbarra com força num aparato mercadológico – mesmo com uma praticidade inegável.

Em “jealousy, jealousy”, a performer dá uma sensação de cansaço ao, novamente, abrir espaço para a densidade do baixo. Tal reciclagem é logo esquecida pelas dissonâncias do piano que dominam a arquitetura sonora a partir do bridge e pelos vibrantes sintetizadores que implodem em um dos melhores refrões do ano. Já “favorite crime” traz, mais uma vez, um violão e uma multiplicidade de camadas para a artista – algo que tornou-se tão comum que dificilmente conta algo novo (além de um problema estrutural de ritmo que antecede os versos principais). “hope ur ok” é uma reminiscência do lead single do álbum e, mesmo com a falta de prospecto, é um atrativo e bem-vindo desfecho, inclusive quando justaposta a “brutal”.

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A concisão do álbum, que se destrincha em rápidos 34 minutos, talvez é o que o faça despontar com positiva recepção – mas confesso que não me importaria com algumas faixas a mais. Com exceção dessa clara e um tanto quanto exaustiva continuidade, SOUR é uma esplêndida estreia para uma jovem artista que, com apenas dezoito anos, emergiu como um ícone da própria geração.

Nota por faixa:

  1. brutal – 5/5
  2. traitor – 5/5
  3. drivers license – 4/5
  4. 1 step forward, 3 steps back – 3,5/5
  5. deja vu – 4/5
  6. good 4 u – 5/5
  7. enough for you – 3,5/5
  8. happier – 3,5/5
  9. jealousy, jealousy – 4/5
  10. favorite crime – 2,5/5
  11. hope ur ok – 3/5

olivia rodrigo sour

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Olivia Rodrigo alcançou fama mundial ao estrelar a série sequência da adorada franquia High School Musical, dando vida à sonhadora e ambiciosa Nini Salazar-Roberts – mas a conquista do cenário mainstream definitivamente veio com o lançamento de seu primeiro single oficial, “drivers license”. Tornando-se a maior estreia feminina de todos os tempos – debutando em primeiro lugar nos charts da Billboard pelo íntimo bedroom pop a que se prestou a construir, a canção recebeu aclame universal por parte da crítica internacional e nos deixou bastante intrigados para descobrir o que vinha a seguir e o que a artista estava escondendo em sua borbulhante mente.

Pouco depois, Rodrigo lançou mais duas canções promocionais, “deja vu” e a recente “good 4 u”, transmutando-se um dos ícones do futuro da música pela originalidade identitária e por um afastamento relativo do que se via no escopo fonográfico. Não é surpresa que a cantora e compositora de apenas dezoito anos, abrindo a primeira página de um novo capítulo, tenha caído no gosto popular, seguindo os passos de um nicho criativo que vinha sido calcado desde 2013, com Lorde, e atingindo mais um ápice em 2018 com Billie Eilish. Agora, nos aproximando do meio do ano, a performer lança seu aguardado álbum de estúdio, SOUR – cujas múltiplas falhas e repetições são ofuscadas por uma produção impecável e por versos pungentes.

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Quando pensamos no ineditismo artístico, não falamos exatamente de histórias revolucionárias ou qualquer coisa do tipo – muito pelo contrário: sabemos que os enredos serão bastante similares e que o modo de contá-los é o que deve prevalecer. Aliando-se à Geffen Records, Olivia decide gerar uma íntima jornada adolescente, apelando para um simples e profundo diálogo com as angústias pelas quais jovens passam e que são, normalmente, descreditadas por adultos. Logo, é óbvio que iremos encontrar diversas reflexões amorosas sobre traição, namoros, decepções e um senso de sempre querer seguir em frente e almejar pela felicidade. O interessante é de que forma Rodrigo arquiteta cada uma das onze breves faixas, emulando diversas influências que variam desde o pop-punk de Avril Lavigne à rebeldia do rock de Joan Jett – as quais já marcam presença na track de abertura.

Apesar das assimilações a outras conterrâneas serem quase instantâneas, a jovem artista nutre de uma singularidade apaixonante, que se estende de vocais reformulados a uma obliteração total de seguir as regras – ainda que, nessa tentativa, esbarre em paradigmas familiares. Dito isso, não seria possível pensar em nenhuma outra canção além de “brutal” para começar uma jornada com propósitos tão bem delineados: a rendição, que nos soa ligeiramente emprestada de Taylor Momsen, é resumida no verso “eu estou cansada dos meus 17, onde está meu sonho adolescente?”, seguido e precedido de uma consciência de (des)pertencimento absolutamente fantástica.

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O álbum faz um claro movimento de dilatação e contração – algo que explica a intercalação constante de baladas e frenéticas explosões. Inspirada até mesmo pela “bênção” que recebeu de Taylor Swift alguns meses atrás, Olivia alterna entre as dramatizações teatrais da belíssima “traitor”, cuja poética verborrágica é o melhor elemento da canção, bem como a retórica envolvente da cantora, e a vendeta pessoal soft-rock que ganha vida na exuberância de “good 4 u”. Em outro aspecto, a narratividade literária de Rodrigo é traduzida com excelência na sinestesia da já mencionada “drivers license”, ramificando-se para a cândida, ainda que amiudada “1 step forward, 3 steps back”. E, enquanto boa parte da obra demonstra as habilidades invejáveis de Dan Nigro, que inclusive co-assina as faixas, há um certo senso de desespero que se apodera do arco de conclusão e que esbarra com força num aparato mercadológico – mesmo com uma praticidade inegável.

Em “jealousy, jealousy”, a performer dá uma sensação de cansaço ao, novamente, abrir espaço para a densidade do baixo. Tal reciclagem é logo esquecida pelas dissonâncias do piano que dominam a arquitetura sonora a partir do bridge e pelos vibrantes sintetizadores que implodem em um dos melhores refrões do ano. Já “favorite crime” traz, mais uma vez, um violão e uma multiplicidade de camadas para a artista – algo que tornou-se tão comum que dificilmente conta algo novo (além de um problema estrutural de ritmo que antecede os versos principais). “hope ur ok” é uma reminiscência do lead single do álbum e, mesmo com a falta de prospecto, é um atrativo e bem-vindo desfecho, inclusive quando justaposta a “brutal”.

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A concisão do álbum, que se destrincha em rápidos 34 minutos, talvez é o que o faça despontar com positiva recepção – mas confesso que não me importaria com algumas faixas a mais. Com exceção dessa clara e um tanto quanto exaustiva continuidade, SOUR é uma esplêndida estreia para uma jovem artista que, com apenas dezoito anos, emergiu como um ícone da própria geração.

Nota por faixa:

  1. brutal – 5/5
  2. traitor – 5/5
  3. drivers license – 4/5
  4. 1 step forward, 3 steps back – 3,5/5
  5. deja vu – 4/5
  6. good 4 u – 5/5
  7. enough for you – 3,5/5
  8. happier – 3,5/5
  9. jealousy, jealousy – 4/5
  10. favorite crime – 2,5/5
  11. hope ur ok – 3/5

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