Ao contrário de muitas franquias nerds, os fãs de ‘Star Trek’ são bem mais comedidos, menos espalhafatosos, menos dramáticos, mas, nem por isso, menos passionais. Quando a primeira temporada de ‘Star Trek: Picard’ chegou na Prime Video, lá em 2020, ela veio como um sopro de animação para os fãs, pois a promessa era ter uma história centrada em um dos principais personagens da franquia: Jean-Luc Picard. Após uma primeira temporada introdutória, finalmente a segunda parte chegou aos assinantes da Prime Video, após dois longos anos de espera.
Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) volta a tentar desfrutar de sua aposentadoria tranquila no Chateau Picard, onde colhe uvas de seus vinhedos na maior paz. Mas agora Picard é Almirante e chanceler da Academia da Frota Estelar, e justamente por isso quer descansar. Entretanto, essa pausa será interrompida bruscamente quando membros de sua ex-tripulação descobrem uma anomalia espacial que não só ameaça a galáxia, mas também está mandando uma mensagem específica, requisitando a presença de Picard para se comunicar. Assim, Jean-Luc volta a se encontrar com Rios (Santiago Cabrera), Elnor (Evan Evagora), Raffi (Michelle Hurd), a Dra. Agnes Jurati (Alison Pill) e Sete de Nove (Jeri Ryan), e, juntos, terão que embarcar em uma nova aventura para impedir que a ameaça na galáxia se concretize, modificando a vida de todos os seres vivos.
Dividido em dez episódios com quase uma hora de duração cada, a segunda temporada de ‘Star Trek: Picard’ volta com o pé no acelerador, elevando a adrenalina lá pra cima já no primeiro episódio. Ao contrário do que ocorreu na primeira parte, dessa vez a ação toma conta do arco narrativo no primeiro terço dessa parte, sem fazer com que o espectador perca tempo com muita contextualização, e isso é um ponto muito positivo, especialmente para os fãs de longa data.
Por outro lado, novamente, a história de Michael Chabon e Kirsten Beyer se fecha no mundo interno dos fãs, de modo que quem não tem conhecimento de pormenores da trama ficará invariavelmente boiando em muitos pontos de ‘Star Trek: Picard’. Isso inclui algumas referências a personagens, situações e eventos ocorridos anteriormente que não são explicados ou contextualizados, restringindo a informação ao clubinho fechado de quem realmente acompanha todos os filmes e séries desse universo.
Uma das coisas mais legais dessa nova pegada de ‘Star Trek: Picard’ é não só a representatividade dos personagens (temos atores negros, latinos, asiáticos, indianos na trama), como também a relevância destes, pois fazem parte do núcleo principal de desenvolvimento da trama. Outro ponto importante é a qualidade técnica da produção, novamente trazendo sequências intergalácticas maravilhosas, totalmente críveis, com um som perfeito e cenas de batalha e de viagem no espaço bastante convincentes, além de um universo super tecnológico, altamente conectado e em linha.
O diferencial nessa segunda temporada da série de Douglas Aarniokoski é a preocupação em fazer uma ponte entre passado, presente e futuro, tanto da série quanto da franquia. Ao trazer um Picard mais reflexivo na primeira parte, a segunda temporada faz com que os personagens literalmente viajem no tempo para o passado, onde eles devem consertar um problema de modo a modificar o futuro, que é o tempo presente da narrativa. Ao mesmo tempo, ao reunir Picard e outros e novos personagens, a série também funciona como uma passagem de bastão que busca conectar o passado e o futuro da franquia, fazendo com que todos os personagens interajam para que os fãs vá se familiarizando com suas jornadas, de modo a garantir continuação para a franquia.
Mantendo o tom introspectivo e em diálogo com a atualidade do mundo (a ascensão da extrema direita e outras políticas totalitárias), a segunda temporada de ‘Star Trek: Picard’ volta com muito mais ação e aventura servindo os fãs, fazendo uso da arte em seu papel crítico da realidade. Até o momento, já voltou melhor do que a primeira temporada.