quarta-feira , 12 março , 2025

Crítica | Steven Soderbergh traz suas assinaturas clássicas para o thriller de espionagem ‘Código Preto’


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Steven Soderbergh sempre foi influenciado por uma estética vanguardista para construir seus longas-metragens – arquitetando histórias centradas em temas introspectivos e que exploram a condição humana através de experimentações interessantes e inesperadas. Ao longo de sua carreira, Soderbergh encabeçou projetos como ‘Logan Lucky’, ‘Solaris’, ‘Onze Homens e um Segredo’ e outras narrativas que apresentaram elementos novos a atmosferas aparentemente familiares e clichês – e, agora, ele nos convida para um ambicioso thriller de espionagem intitulado Código Preto, que chega aos cinemas nacionais amanhã, 13 de março.

A trama é centrada em um casal de espiões formado por George Woodhouse (Michael Fassbender) e Kathryn St. Jean (Cate Blanchett). Ambos trabalham em uma empresa que monitora possíveis atividades terroristas no Reino Unido e no restante do mundo – colocando George em um impasse quando, ao investigar o paradeiro de uma poderosa arma que pode dizimar o mundo, descobre que a esposa está entre a lista de suspeitos que podem ter traído o próprio país em prol de um conluio criminoso. Porém, considerando a confiança que nutre em Kathryn, George delineia um plano para revelar o verdadeiro culpado, percebendo que as coisas não são tão simples quanto parecem e que a verdade está bem à frente dos seus olhos, mesmo escondida sob pretextos controversos.



Homem lê livro com Big Ben ao fundo, Londres

Diferente do que imaginávamos, Código Preto se afasta das expectativas e rema contra a maré de obras como ‘O Espião que Sabia Demais’ ou ‘Operação Red Sparrow’, permitindo que Soderbergh tenha total controle de um escopo mais restrito e introspectivo. Em outras palavras, o realizador mergulha de cabeça em um enredo que funciona mais como drama do que como suspense, deixando cenas de ação de lado para centralizar a atenção dos espectadores na vida íntima de cada um dos personagens delineados. É por essa razão que Soderbergh resolve diminuir a dimensão dos cenários ao focá-los em locais quase claustrofóbicos, mesmo a céu aberto: uma sala de jantar, um quarto, um bar e os próprios escritórios da empresa.

É notável como essas escolhas disruptivas vão ao encontro dos maneirismos do diretor e, por essa razão, podem causar certo estranhamento por parte do público; entretanto, isso não significa que o filme perca seu brilho, e sim funcione para aqueles que conseguem entender que a obra não se comporta como outras histórias de espionagem. Há um apreço estético que dialoga com as referências avant-garde de Soderbergh à medida que somos engolfados em planos-sequência complexos e personalidades obscuras cujos defeitos vêm à tona quando lidam com suas fraquezas e seus medos – garantindo que as incursões acerca da condição humana sejam transmutadas para uma trama mais particularizada.


Mulher seguindo confiante na rua urbana

Fassbender e Blanchett desfrutam de uma incrível química, mas não se mantêm presos apenas ao arco um com o outro: a dupla, que se diverte com performances sólidas e caprichosas, também compartilha de momentos ao lado de uma ótima Marisa Abela como Clarissa Dubose, recém-saída de seu trabalho na cinebiografia ‘Back to Black’ e apresentando um novo lado de sua versatilidade artística; Tom Burke como o controverso Freddie Smalls, cujo relacionamento com Clarissa implode o tempo todo; Naomie Harris como a fria e calculista Dra. Zoe Vaughan, terapeuta que fica responsável pelo cuidado dos agentes da companhia; e Regé-Jean Page como o deplorável Coronel James Stokes, posando como um soberbo agente de campo que não aceita “não” como resposta. E, completando esse elenco, Pierce Brosnan faz uma breve aparição como o chefe Arthur Steiglitz.

Se o elenco dá tudo de si e fornece o dinamismo necessário para desviar o longa-metragem de possíveis deslizes rítmicos – ainda mais se tratando de um drama -, há certos aspectos que mancham essa estrutura, principalmente quando voltamos nossa atenção para o marketing errôneo do filme. Afinal, ele foi vendido como um suspense de espionagem, com materiais promocionais que partem de uma estrutura bastante conhecida como forma de atrair o público; todavia, conforme a narrativa se desenrola, é possível que parte dos espectadores se fruste por receber, em vez do que se esperava, claras homenagens que Soderbergh faz ao nos presentear com uma amálgama entre ‘Deus da Carnificina’, ‘Álbum de Família’ e ‘A Pele de Vênus’, revestindo um verborrágico roteiro com a trilha sonora tétrica de David Holmes e reviravoltas que mimetizam Agatha Christie.

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código preto

Código Preto reacende a beleza dos filmes de espionagem ao trazer o melhor do cinema britânico a um espectro elegante e novelesco, no sentido mais positivo do termo. É claro que certas pessoas podem afirmar que o longa não é tão memorável quanto incursões similares, porém, o resultado é aprazível e condizente com o que deseja entregar.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Steven Soderbergh sempre foi influenciado por uma estética vanguardista para construir seus longas-metragens – arquitetando histórias centradas em temas introspectivos e que exploram a condição humana através de experimentações interessantes e inesperadas. Ao longo de sua carreira, Soderbergh encabeçou projetos como ‘Logan Lucky’, ‘Solaris’, ‘Onze Homens e um Segredo’ e outras narrativas que apresentaram elementos novos a atmosferas aparentemente familiares e clichês – e, agora, ele nos convida para um ambicioso thriller de espionagem intitulado Código Preto, que chega aos cinemas nacionais amanhã, 13 de março.

A trama é centrada em um casal de espiões formado por George Woodhouse (Michael Fassbender) e Kathryn St. Jean (Cate Blanchett). Ambos trabalham em uma empresa que monitora possíveis atividades terroristas no Reino Unido e no restante do mundo – colocando George em um impasse quando, ao investigar o paradeiro de uma poderosa arma que pode dizimar o mundo, descobre que a esposa está entre a lista de suspeitos que podem ter traído o próprio país em prol de um conluio criminoso. Porém, considerando a confiança que nutre em Kathryn, George delineia um plano para revelar o verdadeiro culpado, percebendo que as coisas não são tão simples quanto parecem e que a verdade está bem à frente dos seus olhos, mesmo escondida sob pretextos controversos.

Homem lê livro com Big Ben ao fundo, Londres

Diferente do que imaginávamos, Código Preto se afasta das expectativas e rema contra a maré de obras como ‘O Espião que Sabia Demais’ ou ‘Operação Red Sparrow’, permitindo que Soderbergh tenha total controle de um escopo mais restrito e introspectivo. Em outras palavras, o realizador mergulha de cabeça em um enredo que funciona mais como drama do que como suspense, deixando cenas de ação de lado para centralizar a atenção dos espectadores na vida íntima de cada um dos personagens delineados. É por essa razão que Soderbergh resolve diminuir a dimensão dos cenários ao focá-los em locais quase claustrofóbicos, mesmo a céu aberto: uma sala de jantar, um quarto, um bar e os próprios escritórios da empresa.

É notável como essas escolhas disruptivas vão ao encontro dos maneirismos do diretor e, por essa razão, podem causar certo estranhamento por parte do público; entretanto, isso não significa que o filme perca seu brilho, e sim funcione para aqueles que conseguem entender que a obra não se comporta como outras histórias de espionagem. Há um apreço estético que dialoga com as referências avant-garde de Soderbergh à medida que somos engolfados em planos-sequência complexos e personalidades obscuras cujos defeitos vêm à tona quando lidam com suas fraquezas e seus medos – garantindo que as incursões acerca da condição humana sejam transmutadas para uma trama mais particularizada.

Mulher seguindo confiante na rua urbana

Fassbender e Blanchett desfrutam de uma incrível química, mas não se mantêm presos apenas ao arco um com o outro: a dupla, que se diverte com performances sólidas e caprichosas, também compartilha de momentos ao lado de uma ótima Marisa Abela como Clarissa Dubose, recém-saída de seu trabalho na cinebiografia ‘Back to Black’ e apresentando um novo lado de sua versatilidade artística; Tom Burke como o controverso Freddie Smalls, cujo relacionamento com Clarissa implode o tempo todo; Naomie Harris como a fria e calculista Dra. Zoe Vaughan, terapeuta que fica responsável pelo cuidado dos agentes da companhia; e Regé-Jean Page como o deplorável Coronel James Stokes, posando como um soberbo agente de campo que não aceita “não” como resposta. E, completando esse elenco, Pierce Brosnan faz uma breve aparição como o chefe Arthur Steiglitz.

Se o elenco dá tudo de si e fornece o dinamismo necessário para desviar o longa-metragem de possíveis deslizes rítmicos – ainda mais se tratando de um drama -, há certos aspectos que mancham essa estrutura, principalmente quando voltamos nossa atenção para o marketing errôneo do filme. Afinal, ele foi vendido como um suspense de espionagem, com materiais promocionais que partem de uma estrutura bastante conhecida como forma de atrair o público; todavia, conforme a narrativa se desenrola, é possível que parte dos espectadores se fruste por receber, em vez do que se esperava, claras homenagens que Soderbergh faz ao nos presentear com uma amálgama entre ‘Deus da Carnificina’, ‘Álbum de Família’ e ‘A Pele de Vênus’, revestindo um verborrágico roteiro com a trilha sonora tétrica de David Holmes e reviravoltas que mimetizam Agatha Christie.

código preto

Código Preto reacende a beleza dos filmes de espionagem ao trazer o melhor do cinema britânico a um espectro elegante e novelesco, no sentido mais positivo do termo. É claro que certas pessoas podem afirmar que o longa não é tão memorável quanto incursões similares, porém, o resultado é aprazível e condizente com o que deseja entregar.

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