De Pablo Bazarello, enviado especial a Toronto.
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Apesar de ser baseado em estarrecedores e importantes fatos da história recente norte-americana, a versão cinematográfica de Stonewall se comporta como uma xerox de qualquer produção que possua uma trama levemente semelhante à muito utilizada “rapaz deixa cidadezinha para ganhar a cidade grande e acaba pisado por ela”. Todos já vimos produções assim e a estrutura desta obra não difere em nada.
O mote de Stonewall, o filme, era levar para as telas o caso verídico das rebeliões ocorridas em 1969, em Nova York, quando membros da comunidade LGBT se rebelaram contra a polícia pelos direitos civis. Para isso, o roteirista Jon Robin Baitz (do seriado Brothers & Sisters) e o diretor Roland Emmerich (sim, acredite) confeccionaram uma história fictícia e criaram alguns personagens para protagonizar e encaixar seus coadjuvantes reais. Grosso modo, foi o que James Cameron fez em Titanic (1997).
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A trama segue Danny (Jeremy Irvine), jovem morador de uma cidadezinha americana. O típico interiorano vê sua vida virar de cabeça para baixo quando floresce sua verdadeira opção sexual. Um caso polêmico envolvendo o rapaz é varrido para debaixo do tapete pelo pai conservador. Quando volta a se repetir, Danny não tem escolha a não ser abandonar o lar em busca de seu verdadeiro eu, aonde possa ser aceito por quem verdadeiramente é.
Uma temática, dentre tantas, nos filmes chamativos de Toronto este ano é a aceitação e tolerância da diversidade sexual. Filmes como A Garota Dinamarquesa, Freeheld e Stonewall retratam vertentes do mesmo tema, através dos tempos. Muitos inclusive poderão chegar até o Oscar, o que talvez não seja o caso deste último.
Stonewall funciona numa estrutura reciclada, o que para muitos será uma grande barreira. No entanto, a obra entrega bons diálogos, conseguindo inclusive emocionar, em partes devido ao empenho de seus protagonistas. Ao chegar em Nova York, Danny vira basicamente um sem teto, sendo acolhido pelos travestis e homossexuais de um grupo de biscates. Logo, o rapaz está na “família”, se tornando mais um dos renegados disfuncionais, constantes alvos da polícia. Dentre os quais, o destaque fica para o eficiente Jonny Beauchamp, que marcou presença em papel semelhante na segunda temporada do ótimo seriado gótico Penny Dreadful. Beauchamp tem grande energia performática e rouba os holofotes aqui, sendo digno de uma indicação ao Oscar.
Roland Emmerich é um especialista do espetáculo visual. O diretor tem no cinturão obras como Independence Day (1996) e O Dia Depois de Amanhã (2004), por exemplo. Ele faz de Stonewall um de seus trabalhos mais inusitados e sérios. A obra entretém falando de um assunto relevante, polêmico e importante. Durante a projeção sentimos o grau de intensidade imposto. O que levamos conosco após o término da sessão, curiosamente, pode não ser o suficiente para destacá-lo em nossa memória pelo tempo devido.