Os elementos que tornam uma determinada obra um grande sucesso – local ou mundial – são tão variáveis quanto o são as correntes marítimas. E, desde o boom da saga ‘Crepúsculo’, na primeira década do milênio, as histórias com formato similares (menina adolescente meio sozinha no mundo, que conhece um rapaz com pinta de bad boy e um outro mais bonzinho e se sente dividida entre os dois e entre o submundo tentador do mal e a mesmice da normalidade) se proliferaram mundo afora, em diversos formatos. Mesmo ‘Crepúsculo’ não sendo a inovação do gênero, é a grande referência dessa geração, cuja fórmula inspirou, direta ou indiretamente, obras como a franquia ‘Culpados’ – que se tornou filme na Prime Video e cuja segunda parte, ‘Sua Culpa’, chegou na plataforma no finzinho de 2024.
Noah (Nicole Wallace) e Nick (Gabriel Guevara) seguem perdidamente apaixonados. Mas, o tempo escolar de Noah está terminando e a jovem ao fim das férias entrará numa faculdade, longe de onde moram. Isso desperta crise de ciúmes em Nick, que aluga um apartamento perto do dormitório de Noah para que os dois possam morar juntos. Ao mesmo tempo, Lion (Víctor Varona) e Jenna (Eva Ruiz) passam por uma crise porque Lion começa a ter a dimensão da distância entre os mundos deles por Jenna ser uma menina super rica. Numa tentativa de afastar os dois, Rafaella (Marta Hazas) dá um jeito de Sofia (Gabriela Andrada) trabalhar com Nick no escritório de advocacia, para fazer ciúmes em Noah. Só que uma antiga namorada do passado do jovem reaparece no cenário, assim como a mãe biológica dele, e tantos sentimentos do passado entram em conflito no momento em que Nick e Noah pensam em planejar um futuro juntos.
Dessa vez, o roteiro de Sofía Cuenca e Domingo González extrapola o convencional das histórias de clichês, adaptando a obra da argentina Mercedes Ron para um apanhado de cenas subsequentes que, muitas vezes, parecem deslocadas na linha temporal do enredo. Se por um lado o livro de sucesso é carregado em clichês (como por exemplo a constante chegada no momento exato de um personagem pegar um flagrante), o roteiro intensifica a coisa toda, tornando o clichê em vez de agradável, previsível e deslocado, além de dispensar situações cruciais na trama (como o fato de Nick arrombar a porta de Noah e a jovem sequer mencionar isso nas vezes em que o encontra depois disso).
Responsável pela direção do capítulo anterior, ‘Minha Culpa’, Domingo González picotou este ‘Sua Culpa’ de modo a transformar os personagens cativantes em um grupo de gente mimada que não consegue dar um passo sem envolver o grupo todo numa bagunça completamente evitável. Com apenas uma cena de corrida de rua, nota-se o investimento financeiro majoritariamente direcionado à esta sequência – que é até interessante, mas por ser única e curta (dentro do todo), acaba rápido demais para os fãs que passaram a curtir esta franquia por causa das altas velocidades.
Cansativo, repetitivo e com um drama bem raso, ‘Sua Culpa’ não repete a essência de seu capítulo predecessor, mas faz a gente ansiar pela parte final para, por fim, vermos o casal protagonista juntos.