quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Tenet – Aproveite a jornada de Christopher Nolan, mas não tente entender o caminho…

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Lançado como o retorno da indústria cinematográfica em 2020, após seis meses de um deserto de grandes produções, Tenet chega ao público com uma missão mais ambiciosa do que a do próprio diretor Christopher Nolan. De qualquer maneira, esta é uma obra de execução espetacular e conceitos complexos, mas com a trajetória dos quadrinhos infanto-juvenis. 

Para seguir esse raciocínio, é preciso juntar algumas informações sobre o mistério e os personagens dessa trama. Os primeiros minutos já despontam como todo bom filme de espionagem com cenas de invasão e resgate durante um concerto em Kiev, na capital da Ucrânia. O protagonista (John David Washington) se infiltra na missão e busca salvar inocentes de uma explosão. No local, ele percebe uma estranha movimentação de um projétil e, em seguida, é capturado. 



 

Entre a vida e a morte, o agente anônimo toma uma importante decisão que o leva a torna-se parte de um grandioso e secreto projeto, chamado Tenet, ou seja, o sentido por trás do nome do filme. A partir do encontro do protagonista com a cientista Laura (Clémence Poésy), a história começa a ser desenvolvida e explicada da forma acessível. Por meio das palavras dela, Christopher Nolan diz diretamente ao espectador: “Don’t try to understand it. Feel it”, em português, “Não tente entendê-lo. Sinta-o.”

Com esta predisposição de sentir o filme, é possível ficar completamente fascinado pelas cenas de ação, seja a escalada vertiginosa a um arranha-céu, seja um avião de grande porte a derrubar um hangar, seja o emparelhamento de carros e caminhões em alta velocidade na autoestrada. Ou seja, deu para entender a presença de cenas de tirar o fôlego ao longo de duas horas e meia. O enrolado, entretanto, é acompanhar a lógica por trás da grande arma de destruição proposta pelo cineasta.

Ao lado de Neil (Robert Pattinson), a missão de John David Washington é prevenir uma terceira guerra mundial, mas a poderosa arma em questão são os chamados “objetos invertidos”, graças a uma técnica do futuro realizada por entropia. Algo, no mínimo, intrincado para ser explicado rapidamente durante o filme. Sem entender o processo, o agente secreto precisa descobrir quem está por trás dessa tecnologia de “projéteis invertidos” de acordo com a nossa perspectiva temporal. 

Para quem está acostumado aos trabalhos de Christopher Nolan, já é esperado um jogo de suspense com as causalidades do espaço-tempo. Se em Interstellar (2014), o diretor nos provocava a lidar com o princípio do buracos negros, assim como compreender as ideias do inventor Nikola Tesla em O Grande Truque (2006), Tenet assume o seu caráter de complexo científico ao lidar com a termodinâmica, mas o coloca em um patamar mais simples. 

Para que o público acompanhe a ação, o roteiro repete em dois momentos o “paradoxo do avô”, algo já apresentado em Looper: Assassinos do Futuro (2012), de Rian Johnson. Isto é, uma proposição mais simplória para as pessoas assimilarem as voltas no tempo exercidas pelos personagens e como as suas ações interferem no percurso da história. Longe de ser um experimento como em A Máquina do Tempo (2002), de Simon Wells, o paradoxo apresenta semelhanças com a descoberta do personagem de Guy Pearce no filme. 

Como citado no início, o enredo se equipara ao mundo dos quadrinhos ao criar o super vilão russo Andrei Sator (Kenneth Branagh). Ele exerce o máximo da personificação do sujeito megalomaníaco, com desejo de dominar o mundo e todos ao seu redor. Principalmente, a sua esposa Kat (Elizabeth Debicki), a qual serve de ilustração extrema da vilania do personagem e o seu senso de sadismo. 

Escolhida a dedo por Nolan após vê-la em As Viúvas (2018), Elizabeth Debicki tem o seu momento de protagonismo, apesar de servir de isca, sofrer agressões e viver o dilema entre abandonar o filho ou conquistar a sua “liberdade”. Assim como ela, todo elenco foi pinçado minuciosamente pela diretor, que ainda conta com a participação de luxo de Aaron Taylor Johnson e a oitava parceria com Michael Caine. Após o excelente Infiltrados na Klan (2018), de Spike Lee, o filho de Denzel Washington marca a sua entrada no primeiro escalão de Hollywood.

Com um grande vilão, a simpática parceria de Pattinson e Washington e cenas espetaculares, no sentido da palavra de seduzir os olhos pela grandiosidade, a confusão temporal do roteiro é deixada um pouco de lado. Em outras palavras, é possível apreciar a obra mesmo sem compreender como o perigo do futuro chegou à atualidade, talvez seja como em O Exterminador do Futuro (1984). Por outro lado, o tédio também pode ocorrer por conta das longas sequências de bombas e tiros com personagens mascarados em diferentes linhas temporais. 

A chave de Tenet está disfarçada em seu próprio nome e, embora seu ponto de partida e chegada seja um paradoxo, o enredo é bem elementar da perspectiva da jornada do herói. O protagonista é chamado a salvar o mundo e derrotar o vilão junto com a sua arma de destruição, contudo, não nos aprofundamos nas inflexões de sua chamada para ação, algo que no meio de tanta estupefação de som e efeitos especiais é completamente ignorado.

** Assistido na sessão em Paris, dia 1º de setembro de 2020.
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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Para seguir esse raciocínio, é preciso juntar algumas informações sobre o mistério e os personagens dessa trama. Os primeiros minutos já despontam como todo bom filme de espionagem com cenas de invasão e resgate durante um concerto em Kiev, na capital da Ucrânia. O protagonista (John David Washington) se infiltra na missão e busca salvar inocentes de uma explosão. No local, ele percebe uma estranha movimentação de um projétil e, em seguida, é capturado. 

 

Entre a vida e a morte, o agente anônimo toma uma importante decisão que o leva a torna-se parte de um grandioso e secreto projeto, chamado Tenet, ou seja, o sentido por trás do nome do filme. A partir do encontro do protagonista com a cientista Laura (Clémence Poésy), a história começa a ser desenvolvida e explicada da forma acessível. Por meio das palavras dela, Christopher Nolan diz diretamente ao espectador: “Don’t try to understand it. Feel it”, em português, “Não tente entendê-lo. Sinta-o.”

Com esta predisposição de sentir o filme, é possível ficar completamente fascinado pelas cenas de ação, seja a escalada vertiginosa a um arranha-céu, seja um avião de grande porte a derrubar um hangar, seja o emparelhamento de carros e caminhões em alta velocidade na autoestrada. Ou seja, deu para entender a presença de cenas de tirar o fôlego ao longo de duas horas e meia. O enrolado, entretanto, é acompanhar a lógica por trás da grande arma de destruição proposta pelo cineasta.

Ao lado de Neil (Robert Pattinson), a missão de John David Washington é prevenir uma terceira guerra mundial, mas a poderosa arma em questão são os chamados “objetos invertidos”, graças a uma técnica do futuro realizada por entropia. Algo, no mínimo, intrincado para ser explicado rapidamente durante o filme. Sem entender o processo, o agente secreto precisa descobrir quem está por trás dessa tecnologia de “projéteis invertidos” de acordo com a nossa perspectiva temporal. 

Para quem está acostumado aos trabalhos de Christopher Nolan, já é esperado um jogo de suspense com as causalidades do espaço-tempo. Se em Interstellar (2014), o diretor nos provocava a lidar com o princípio do buracos negros, assim como compreender as ideias do inventor Nikola Tesla em O Grande Truque (2006), Tenet assume o seu caráter de complexo científico ao lidar com a termodinâmica, mas o coloca em um patamar mais simples. 

Para que o público acompanhe a ação, o roteiro repete em dois momentos o “paradoxo do avô”, algo já apresentado em Looper: Assassinos do Futuro (2012), de Rian Johnson. Isto é, uma proposição mais simplória para as pessoas assimilarem as voltas no tempo exercidas pelos personagens e como as suas ações interferem no percurso da história. Longe de ser um experimento como em A Máquina do Tempo (2002), de Simon Wells, o paradoxo apresenta semelhanças com a descoberta do personagem de Guy Pearce no filme. 

Como citado no início, o enredo se equipara ao mundo dos quadrinhos ao criar o super vilão russo Andrei Sator (Kenneth Branagh). Ele exerce o máximo da personificação do sujeito megalomaníaco, com desejo de dominar o mundo e todos ao seu redor. Principalmente, a sua esposa Kat (Elizabeth Debicki), a qual serve de ilustração extrema da vilania do personagem e o seu senso de sadismo. 

Escolhida a dedo por Nolan após vê-la em As Viúvas (2018), Elizabeth Debicki tem o seu momento de protagonismo, apesar de servir de isca, sofrer agressões e viver o dilema entre abandonar o filho ou conquistar a sua “liberdade”. Assim como ela, todo elenco foi pinçado minuciosamente pela diretor, que ainda conta com a participação de luxo de Aaron Taylor Johnson e a oitava parceria com Michael Caine. Após o excelente Infiltrados na Klan (2018), de Spike Lee, o filho de Denzel Washington marca a sua entrada no primeiro escalão de Hollywood.

Com um grande vilão, a simpática parceria de Pattinson e Washington e cenas espetaculares, no sentido da palavra de seduzir os olhos pela grandiosidade, a confusão temporal do roteiro é deixada um pouco de lado. Em outras palavras, é possível apreciar a obra mesmo sem compreender como o perigo do futuro chegou à atualidade, talvez seja como em O Exterminador do Futuro (1984). Por outro lado, o tédio também pode ocorrer por conta das longas sequências de bombas e tiros com personagens mascarados em diferentes linhas temporais. 

A chave de Tenet está disfarçada em seu próprio nome e, embora seu ponto de partida e chegada seja um paradoxo, o enredo é bem elementar da perspectiva da jornada do herói. O protagonista é chamado a salvar o mundo e derrotar o vilão junto com a sua arma de destruição, contudo, não nos aprofundamos nas inflexões de sua chamada para ação, algo que no meio de tanta estupefação de som e efeitos especiais é completamente ignorado.

** Assistido na sessão em Paris, dia 1º de setembro de 2020.
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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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