domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Terror ‘O Malvado – Horror no Natal’ funciona por não se levar a sério demais

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Em 1957, o famoso escritor Dr. Seuss lançava o icônico romance infantil ‘Como o Grinch Roubou o Natal’, eternizando para sempre o azedo Grinch, uma criatura verde que despreza quaisquer celebrações natalinas e faz de tudo para estragar as comemorações dos habitantes de Whoville – até encontrar uma jovem garota chamada Cindy Lou Who que o faz enxergar a vida de outra maneira. Em 2000, a história recebeu sua primeira adaptação para os cinemas, trazendo Jim Carrey no papel protagonista e auxiliando a imortalizar um dos personagens mais icônicos da cultura pop. E é claro que não demoraria muito até que, com a incontrolável onda de recriar enredos clássicos do cenário do entretenimento, o público seria convidado a conhecer o lado sombrio do Grinch com ‘O Malvado: Horror no Natal’.

O título original, The Mean One, faz menção à canção “You’re a Mean One, Mr. Grinch” – mas antecipa o fato de que o nome do personagem não é citado de forma direta em nenhum momento, em virtude de questões envolvendo direitos autorais. Logo, coube ao diretor Steven LaMorte em deturpar a trama infanto-juvenil em um slasher gore banhado a sangue que funciona por não se levar a sério demais. É claro que a produção, quando analisa em um âmbito técnico, é carregada de equívocos amadores e escolhas bastante formulaicas; porém, é notável como o cineasta tem plena noção de que não está reinventando a roda, e sim apresentando uma releitura inesperadamente engraçada que utiliza as incursões do Dr. Seuss a seu favor.



A obra é ambientada em Newville, uma pequena cidade que outrora era apaixonada em comemorar o Natal. Entretanto, após uma tragédia local, o espírito festivo morreu sob um segredo sobrenatural envolvendo uma criatura que ninguém sabe, de fato, se existe. Anos depois de ver sua mãe ser assassinada pelas mãos de uma figura inexplicável, Cindy (Krystle Martin) retorna com o pai para casa, tentando se livrar dos traumas de infância e acreditando que o monstro era apenas uma criação de sua mente fértil. Todavia, quando o último membro de sua família é alvo de um homicídio, ela descobre que a criatura existe e que tanto a prefeita McBean (Amy Schumacher) e o xerife Hooper (Erik Baker) estão envolvidos num massacre inescapável e que reafirma seus status em Newville. Logo, cabe a Cindy agir por conta própria para impedir que “O Malvado” (David Howard Thornton), como ele é conhecido, continue com seus planos malignos.

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Por falta de um termo melhor, o filme é um grande pot-pourri de temas recorrentes em iterações do gênero. Isso significa que LaMorte, aliado ao roteiro de Flip Kobler e Finn Kobler, constrói um arco previsível e que, diferente de produções que insistem em ser mais do que conseguem, tem exatamente essa proposta: logo, temos uma protagonista assombrada por um passado doloroso que é tratada como louca e que, pouco depois, se transforma em uma heroína bad-ass versada nas mais variadas formas de combate; um interesse romântico no heroico delegado Burke (Chase Mullins), que se torna aliado da vingança inestimável de Cindy; e o sábio mentor na figura de Doc Zeus (John Bigham), que se une à dupla para colocar um fim  no reino de caos d’O Malvado.

Quando encarado como uma paródia, o longa funciona dentro de suas limitações: temos uma atuação muito envolvente de Thornton, que já havia emprestado suas habilidades como Art, o Palhaço, de ‘Terrifier’, e uma maquiagem assustadora; temos as já mencionadas referências ao filme original e ao livro do Dr. Seuss, seja no nome dos personagens ou em diálogos propositalmente autoexplicativos que pegam trechos dos poemas do autor. Porém, caso desejemos analisá-lo a fundo como obra cinematográfica, os erros são constantes e prejudicam nossa experiência ao assisti-lo.

É notável como escolhas artísticas não são pensadas com qualquer preocupação – e uma das que mais nos chama a atenção é a falta de cuidado com a correção de cor, que transforma a obra em uma espécie de mistura degringolada entre um especial de fim de ano do Hallmark e um documentário true-crime de baixo orçamento. A estética diretorial também não é bem pensada, não procurando se lapidar e construir sequências cruas demais e sem direcionamento de foco. E não posso deixar de mencionar certos diálogos que mergulham nos convencionalismos do gênero – todavia, os equívocos são ofuscados por um exagero proposital que nos arranca gargalhadas sinceras.

‘O Malvado: Horror no Natal’ é uma honesta sátira de um atemporal personagem que não pode ser mencionado pelo nome – e o que deixa tudo ainda mais divertido. De fato, os sustos não existem; mas parece que LaMorte tem esse propósito e, caso compremos essa bizarra ideia, o resultado é satisfatório e pitoresco.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 1957, o famoso escritor Dr. Seuss lançava o icônico romance infantil ‘Como o Grinch Roubou o Natal’, eternizando para sempre o azedo Grinch, uma criatura verde que despreza quaisquer celebrações natalinas e faz de tudo para estragar as comemorações dos habitantes de Whoville – até encontrar uma jovem garota chamada Cindy Lou Who que o faz enxergar a vida de outra maneira. Em 2000, a história recebeu sua primeira adaptação para os cinemas, trazendo Jim Carrey no papel protagonista e auxiliando a imortalizar um dos personagens mais icônicos da cultura pop. E é claro que não demoraria muito até que, com a incontrolável onda de recriar enredos clássicos do cenário do entretenimento, o público seria convidado a conhecer o lado sombrio do Grinch com ‘O Malvado: Horror no Natal’.

O título original, The Mean One, faz menção à canção “You’re a Mean One, Mr. Grinch” – mas antecipa o fato de que o nome do personagem não é citado de forma direta em nenhum momento, em virtude de questões envolvendo direitos autorais. Logo, coube ao diretor Steven LaMorte em deturpar a trama infanto-juvenil em um slasher gore banhado a sangue que funciona por não se levar a sério demais. É claro que a produção, quando analisa em um âmbito técnico, é carregada de equívocos amadores e escolhas bastante formulaicas; porém, é notável como o cineasta tem plena noção de que não está reinventando a roda, e sim apresentando uma releitura inesperadamente engraçada que utiliza as incursões do Dr. Seuss a seu favor.

A obra é ambientada em Newville, uma pequena cidade que outrora era apaixonada em comemorar o Natal. Entretanto, após uma tragédia local, o espírito festivo morreu sob um segredo sobrenatural envolvendo uma criatura que ninguém sabe, de fato, se existe. Anos depois de ver sua mãe ser assassinada pelas mãos de uma figura inexplicável, Cindy (Krystle Martin) retorna com o pai para casa, tentando se livrar dos traumas de infância e acreditando que o monstro era apenas uma criação de sua mente fértil. Todavia, quando o último membro de sua família é alvo de um homicídio, ela descobre que a criatura existe e que tanto a prefeita McBean (Amy Schumacher) e o xerife Hooper (Erik Baker) estão envolvidos num massacre inescapável e que reafirma seus status em Newville. Logo, cabe a Cindy agir por conta própria para impedir que “O Malvado” (David Howard Thornton), como ele é conhecido, continue com seus planos malignos.

Por falta de um termo melhor, o filme é um grande pot-pourri de temas recorrentes em iterações do gênero. Isso significa que LaMorte, aliado ao roteiro de Flip Kobler e Finn Kobler, constrói um arco previsível e que, diferente de produções que insistem em ser mais do que conseguem, tem exatamente essa proposta: logo, temos uma protagonista assombrada por um passado doloroso que é tratada como louca e que, pouco depois, se transforma em uma heroína bad-ass versada nas mais variadas formas de combate; um interesse romântico no heroico delegado Burke (Chase Mullins), que se torna aliado da vingança inestimável de Cindy; e o sábio mentor na figura de Doc Zeus (John Bigham), que se une à dupla para colocar um fim  no reino de caos d’O Malvado.

Quando encarado como uma paródia, o longa funciona dentro de suas limitações: temos uma atuação muito envolvente de Thornton, que já havia emprestado suas habilidades como Art, o Palhaço, de ‘Terrifier’, e uma maquiagem assustadora; temos as já mencionadas referências ao filme original e ao livro do Dr. Seuss, seja no nome dos personagens ou em diálogos propositalmente autoexplicativos que pegam trechos dos poemas do autor. Porém, caso desejemos analisá-lo a fundo como obra cinematográfica, os erros são constantes e prejudicam nossa experiência ao assisti-lo.

É notável como escolhas artísticas não são pensadas com qualquer preocupação – e uma das que mais nos chama a atenção é a falta de cuidado com a correção de cor, que transforma a obra em uma espécie de mistura degringolada entre um especial de fim de ano do Hallmark e um documentário true-crime de baixo orçamento. A estética diretorial também não é bem pensada, não procurando se lapidar e construir sequências cruas demais e sem direcionamento de foco. E não posso deixar de mencionar certos diálogos que mergulham nos convencionalismos do gênero – todavia, os equívocos são ofuscados por um exagero proposital que nos arranca gargalhadas sinceras.

‘O Malvado: Horror no Natal’ é uma honesta sátira de um atemporal personagem que não pode ser mencionado pelo nome – e o que deixa tudo ainda mais divertido. De fato, os sustos não existem; mas parece que LaMorte tem esse propósito e, caso compremos essa bizarra ideia, o resultado é satisfatório e pitoresco.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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