sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | The 40-Year-Old Version: Comédia da Netflix é uma das melhores dos últimos anos

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2020

Quantas histórias foram engavetadas, descartadas e ignoradas. Em uma Hollywood que prima pela beleza plástica de corpos esguios e traços finos bem caucasianos, muitos desses contos ficaram por dizer. Jamais chegaram à grandes audiências, jamais puderam ser contemplados pelo público. Mas em um espaço como o Festival de Sundance, o inexplicável vira narrativa, o incomunicável ganha palavras e os underdogs começam a se expressar. E como fruto dessa pulsante representatividade, nasce o talento bruto e imensurável que Radha Blank é. É difícil de imaginar que em 2019 ela lutava entre os montes de neve e o frio congelante de Park City para financiar seu filme. Mas ainda bem que o pioneirismo da vencedora do Emmy Award, Lena Waithe, vai mais além. Assumindo o papel de produtora do projeto, ela fez com que The 40-Year-Old-Version chegasse à luz do projetor, tornando ainda mais difícil entender como essa deliciosa comédia semi biográfica quase permaneceu mais um ano no papel.



Aqui, Radha é quase uma banda de uma mulher só. Além de dirigir, a novata no cinema estrela e assina o roteiro desta que é uma das surpresas mais inesperadas vistas nos cinemas recentemente. Como uma mulher que está beirando os 40 anos, ela faz da comédia um relato pessoal e intimista do que significa adentrar a nova fase da vida, à medida que pondera as decisões do passado que a trouxeram ao momento que vive. E diante de uma carreira capenga de dramaturga – que vive da glória de outrora -, ela se vê como uma professora escolar de teatro, tentando voltar aos holofotes. No entanto, como normalmente acontece com qualquer artista negro, é necessário que ela embranqueça sua nova narrativa para que ela desperte o interesse das audiências brancas da média e alta sociedade. Nesse entremeio, sua paixão pelo rap se reacende, colocando-na em uma conflituosa bifurcação onde ela deve optar por se vender em prol de seu sustento pela arte ou tentar a vida em uma carreira dominada por homens bem mais jovens que ela.

Os conflitos de Rhada, acompanhados ainda pela recente morte de sua mãe e um desconfortável distanciamento familiar de seu irmão, ganham uma tonalidade deliciosa por meio do humor. Se apresentando com naturalidade desde sua primeira tomada em cena, ela mostra o quão dona é de sua própria história, trazendo-na à vida das formas mais reveladoras possíveis. Se livrando dos estereótipos que regiram a indústria cinematográfica por décadas a fio, a artista se apresenta como uma resposta genuína a essa problemática, sendo o frescor que faltava no meio. Autêntica e sem medo de rir de si mesma, ela nos convida a ponderar a vida e a cidade de Nova York pela perspectiva de uma mulher negra e plus size que está na labuta todo santo dia para tentar vencer na vida. Mais identificável do que boa parte dos personagens exageradamente hollywoodianos trazidos às telonas, ela é a essência do que a comunidade negra sempre quis ver na telonas, além de ser também um retrato genuíno e honesto da vida contemporânea entre indecisões, tecnologia, julgamentos e busca por identidade.

Promovendo o riso com facilidade de forma constante, The 40-Year-Old Version faz mais pelo gênero da comédia do que muitas das produções lançadas nos últimos dois anos e protagonizadas por atores milionários. Sem medo de ser inconveniente até mesmo consigo mesma, ela extrapola seus limites e proporciona uma experiência vibrante do começo ao fim, sabe construir o seu humor de forma inteligente e pautada, usando até mesmo alguns aspectos comuns da cidade como um instrumento de riso. Tudo isso ainda é feito por meio de uma direção absolutamente autoral. Como alguém confortável no ramo que optara, ela dirige a produção com maestria, emprega sua própria identidade em seu primeiro filme e faz disso um posicionamento cativante. Ela mal chegou e já sabemos quem de fato é.

E essa autêntica direção faz toda a diferença na comédia, tornando-a de fato um novo clássico. Com um estilo que nos remete com muitas saudades aos filmes que eram apresentados no Festival de Sundance dos anos 80 e 90, a produção carrega esse efeito nostálgico impresso no filtro preto e branco granulado, que ajuda a fortalecer a premissa de que o longa seria um relato bem intimista de uma vida pela qual espiamos pela fechadura. Com personagens coadjuvantes que fazem um contraste delicioso no humor e no andamento da trama, The 40-Year-Old Version é quase impecável, com sua única falha sendo de fato em seu timing, que se estende demais, exagerando no uso das tomadas feitas com seus alunos de teatro. A premissa é compreensível, afinal, é este arco que promove a maior intensidade relacional entre a protagonista e a audiência. Mas seu roteiro é tão belamente ajustado, que esse sentimento é promovido logo nos primeiros 20 minutos de filme, descartando a necessidade da quase repetição de cenas. Ainda assim, The 40-Year-Old Version é – de longe – uma das melhores comédias feitas nos últimos anos.

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Aqui, Radha é quase uma banda de uma mulher só. Além de dirigir, a novata no cinema estrela e assina o roteiro desta que é uma das surpresas mais inesperadas vistas nos cinemas recentemente. Como uma mulher que está beirando os 40 anos, ela faz da comédia um relato pessoal e intimista do que significa adentrar a nova fase da vida, à medida que pondera as decisões do passado que a trouxeram ao momento que vive. E diante de uma carreira capenga de dramaturga – que vive da glória de outrora -, ela se vê como uma professora escolar de teatro, tentando voltar aos holofotes. No entanto, como normalmente acontece com qualquer artista negro, é necessário que ela embranqueça sua nova narrativa para que ela desperte o interesse das audiências brancas da média e alta sociedade. Nesse entremeio, sua paixão pelo rap se reacende, colocando-na em uma conflituosa bifurcação onde ela deve optar por se vender em prol de seu sustento pela arte ou tentar a vida em uma carreira dominada por homens bem mais jovens que ela.

Os conflitos de Rhada, acompanhados ainda pela recente morte de sua mãe e um desconfortável distanciamento familiar de seu irmão, ganham uma tonalidade deliciosa por meio do humor. Se apresentando com naturalidade desde sua primeira tomada em cena, ela mostra o quão dona é de sua própria história, trazendo-na à vida das formas mais reveladoras possíveis. Se livrando dos estereótipos que regiram a indústria cinematográfica por décadas a fio, a artista se apresenta como uma resposta genuína a essa problemática, sendo o frescor que faltava no meio. Autêntica e sem medo de rir de si mesma, ela nos convida a ponderar a vida e a cidade de Nova York pela perspectiva de uma mulher negra e plus size que está na labuta todo santo dia para tentar vencer na vida. Mais identificável do que boa parte dos personagens exageradamente hollywoodianos trazidos às telonas, ela é a essência do que a comunidade negra sempre quis ver na telonas, além de ser também um retrato genuíno e honesto da vida contemporânea entre indecisões, tecnologia, julgamentos e busca por identidade.

Promovendo o riso com facilidade de forma constante, The 40-Year-Old Version faz mais pelo gênero da comédia do que muitas das produções lançadas nos últimos dois anos e protagonizadas por atores milionários. Sem medo de ser inconveniente até mesmo consigo mesma, ela extrapola seus limites e proporciona uma experiência vibrante do começo ao fim, sabe construir o seu humor de forma inteligente e pautada, usando até mesmo alguns aspectos comuns da cidade como um instrumento de riso. Tudo isso ainda é feito por meio de uma direção absolutamente autoral. Como alguém confortável no ramo que optara, ela dirige a produção com maestria, emprega sua própria identidade em seu primeiro filme e faz disso um posicionamento cativante. Ela mal chegou e já sabemos quem de fato é.

E essa autêntica direção faz toda a diferença na comédia, tornando-a de fato um novo clássico. Com um estilo que nos remete com muitas saudades aos filmes que eram apresentados no Festival de Sundance dos anos 80 e 90, a produção carrega esse efeito nostálgico impresso no filtro preto e branco granulado, que ajuda a fortalecer a premissa de que o longa seria um relato bem intimista de uma vida pela qual espiamos pela fechadura. Com personagens coadjuvantes que fazem um contraste delicioso no humor e no andamento da trama, The 40-Year-Old Version é quase impecável, com sua única falha sendo de fato em seu timing, que se estende demais, exagerando no uso das tomadas feitas com seus alunos de teatro. A premissa é compreensível, afinal, é este arco que promove a maior intensidade relacional entre a protagonista e a audiência. Mas seu roteiro é tão belamente ajustado, que esse sentimento é promovido logo nos primeiros 20 minutos de filme, descartando a necessidade da quase repetição de cenas. Ainda assim, The 40-Year-Old Version é – de longe – uma das melhores comédias feitas nos últimos anos.

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