domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | The Fabelmans: Cinebiografia de Steven Spielberg é o filme mais emocionante e intimista de sua carreira

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Filme assistido durante o Festival de Toronto 2022

Apenas cinco minutos de O Maior Espetáculo da Terra foram suficientes para nos trazer uma coletânea de décadas contemplando a criatividade de Steven Spielberg. O clássico de 1952 foi o primeiro filme assistido pelo amado cineasta, em uma época onde o fascínio pelo cinema estava em seus estágios iniciais. E a cena de colisão entre um carro e um trem se tornou aquele breve hiato no tempo onde tudo se transforma. Apavorado pela imensidão daquela tomada do longa de Cecil B. DeMille, o jovem Spielberg decidiu recriá-la. Com a ajuda de uma câmera 8mm, o pequeno garoto fazia o seu primeiro curta – uma repetição meticulosa do instante em que o medo gerado em uma sala de cinema se tornou sua maior história de amor.



The Fabelmans (co-escrito com Tony Kushner) é certamente o filme mais aguardado da carreira do prolífico cineasta. A cinebiografia de sua própria vida, o longa é a inebriante e fascinante história dos Spielberg, trazida pelo sobrenome fictício Fabelman. Uma família judia inventiva, divertida e bastante peculiar, o pequeno grande clã é marcado pela inteligência e brilhantismo do pai do diretor, sua mãe nascida de um conto de fadas e suas três irmãs tão únicas e criativas. Cercado por um ambiente familiar pouco ortodoxo, mas regado por tradições, Steven foi o narrador onisciente de sua própria casa. Em seu mais novo filme, ele toma a mão de Sammy – seu alter ego vivido por Gabriel LaBelle – e convida a audiência para uma aventura em um álbum de fotografias vivas, que ganham cor, profundidade e beleza diante dos nossos olhos.

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Uma catarse profunda sobre sua própria história como um adolescente judeu que cresceu sob o escrutínio da xenofobia e do racismo, The Fabelmans é quase documental de tão meticuloso em termos de apuração de fatos. Determinado a se ater às suas memórias genuínas, Spielberg percorre os caminhos mais escondidos de sua mente e traz às telonas toda sua formação – a partir do seu primeiro contato com o cinema -, no instante em que foi convencido por seus pais a assistir O Maior Espetáculo da Terra. Desde então, sua relação com a sétima arte só se desabrochou, se transformando em uma jornada de pequenos filmes sempre gravados com a participação de suas irmãs mais novas. Mas em meio ao vigor de um lar sempre festivo e alegre, também havia um casamento frágil, marcado pela extrema ascensão profissional de um pai de família que contribuiu diretamente para o surgimento da era tecnológica ao redor do mundo.

Dentro dessa catarse metalinguística, Paul Dano, Michelle Williams e Seth Rogen assumem novas feições e honram a memória dos pais e tio de Spielberg com delicadeza, respeito e cuidado. Transcrevendo para as telonas três das figuras mais importantes da formação pessoal e profissional do diretor, o trio de protagonistas assume a árdua missão de eternizar uma história de amor familiar e o fazem com maestria e sensibilidade – tornando a vida de Spielberg ainda mais próxima de cada um de nós cinéfilo. Com a trajetória da família sempre sendo contada pela ótica de Sammy (Spielberg), o filho mais velho, percebemos a realidade a partir de sua própria visão, seus medos, anseios, sua delicada relação com sua mãe e sua dificuldade de identificação com seu pai. E ao longo de mais de duras horas de filme, mais de 70 anos são lindamente abreviados para o público, nos levando a uma espiral emotiva de auto descoberta, cura, e amor familiar.

E à medida que Sammy cresce e amadurece, sua relação com o cinema também se transforma. Vemos sua família e seus dilemas pessoais mudarem ao longo dos anos, conforme contemplamos uma direção precisa e simbólica, que nos remete ao formato technicolor e ao mesmo padrão de direção adotado por Spielberg no remake de Amor, Sublime Amor. Sob uma estética sessentista bem plástica e vibrante, figurinos e design de produção ganham vida diante da tela, salientando cada precioso detalhe da produção técnica de The Fabelmans. Apaixonante e inspiradora, a produção é uma catarse intimista para o cineasta. Colocando-se em uma posição de fragilidade extrema, ele se despe diante do público para mostrar as rachaduras de sua família, em contraste com as apaixonantes e quase cinematográficas memórias que ele coleciona ao lado dos seus pais e irmãs.

Profundamente emocionante, o longa é uma aventura entre o drama e a comédia e convida a audiência para uma das experiências mais honestas e cruas das últimas décadas. Lindamente dirigido, o filme traz uma estética diretorial belíssima, que emana a Hollywood dos anos 60 sob uma trilha sonora original performática e teatral. Uma carta de amor à sua própria família e ao cinema, The Fabelmans é a obra mais intimista de Steven Spielberg e uma das mais difíceis de ser feita, tamanha a proximidade do diretor com a história. Com um elenco excepcional e uma visão otimista e inspiradora sobre a vida e os sonhos mais profundos que nutrimos no íntimo das nossas almas, o filme é a consumação máxima do diretor, que aos 75 anos nos lembra uma vez mais do quanto precisamos de cada um dos seus filmes para continuarmos alimentando os nossos próprios sonhos de infância.

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The Fabelmans (co-escrito com Tony Kushner) é certamente o filme mais aguardado da carreira do prolífico cineasta. A cinebiografia de sua própria vida, o longa é a inebriante e fascinante história dos Spielberg, trazida pelo sobrenome fictício Fabelman. Uma família judia inventiva, divertida e bastante peculiar, o pequeno grande clã é marcado pela inteligência e brilhantismo do pai do diretor, sua mãe nascida de um conto de fadas e suas três irmãs tão únicas e criativas. Cercado por um ambiente familiar pouco ortodoxo, mas regado por tradições, Steven foi o narrador onisciente de sua própria casa. Em seu mais novo filme, ele toma a mão de Sammy – seu alter ego vivido por Gabriel LaBelle – e convida a audiência para uma aventura em um álbum de fotografias vivas, que ganham cor, profundidade e beleza diante dos nossos olhos.

Uma catarse profunda sobre sua própria história como um adolescente judeu que cresceu sob o escrutínio da xenofobia e do racismo, The Fabelmans é quase documental de tão meticuloso em termos de apuração de fatos. Determinado a se ater às suas memórias genuínas, Spielberg percorre os caminhos mais escondidos de sua mente e traz às telonas toda sua formação – a partir do seu primeiro contato com o cinema -, no instante em que foi convencido por seus pais a assistir O Maior Espetáculo da Terra. Desde então, sua relação com a sétima arte só se desabrochou, se transformando em uma jornada de pequenos filmes sempre gravados com a participação de suas irmãs mais novas. Mas em meio ao vigor de um lar sempre festivo e alegre, também havia um casamento frágil, marcado pela extrema ascensão profissional de um pai de família que contribuiu diretamente para o surgimento da era tecnológica ao redor do mundo.

Dentro dessa catarse metalinguística, Paul Dano, Michelle Williams e Seth Rogen assumem novas feições e honram a memória dos pais e tio de Spielberg com delicadeza, respeito e cuidado. Transcrevendo para as telonas três das figuras mais importantes da formação pessoal e profissional do diretor, o trio de protagonistas assume a árdua missão de eternizar uma história de amor familiar e o fazem com maestria e sensibilidade – tornando a vida de Spielberg ainda mais próxima de cada um de nós cinéfilo. Com a trajetória da família sempre sendo contada pela ótica de Sammy (Spielberg), o filho mais velho, percebemos a realidade a partir de sua própria visão, seus medos, anseios, sua delicada relação com sua mãe e sua dificuldade de identificação com seu pai. E ao longo de mais de duras horas de filme, mais de 70 anos são lindamente abreviados para o público, nos levando a uma espiral emotiva de auto descoberta, cura, e amor familiar.

E à medida que Sammy cresce e amadurece, sua relação com o cinema também se transforma. Vemos sua família e seus dilemas pessoais mudarem ao longo dos anos, conforme contemplamos uma direção precisa e simbólica, que nos remete ao formato technicolor e ao mesmo padrão de direção adotado por Spielberg no remake de Amor, Sublime Amor. Sob uma estética sessentista bem plástica e vibrante, figurinos e design de produção ganham vida diante da tela, salientando cada precioso detalhe da produção técnica de The Fabelmans. Apaixonante e inspiradora, a produção é uma catarse intimista para o cineasta. Colocando-se em uma posição de fragilidade extrema, ele se despe diante do público para mostrar as rachaduras de sua família, em contraste com as apaixonantes e quase cinematográficas memórias que ele coleciona ao lado dos seus pais e irmãs.

Profundamente emocionante, o longa é uma aventura entre o drama e a comédia e convida a audiência para uma das experiências mais honestas e cruas das últimas décadas. Lindamente dirigido, o filme traz uma estética diretorial belíssima, que emana a Hollywood dos anos 60 sob uma trilha sonora original performática e teatral. Uma carta de amor à sua própria família e ao cinema, The Fabelmans é a obra mais intimista de Steven Spielberg e uma das mais difíceis de ser feita, tamanha a proximidade do diretor com a história. Com um elenco excepcional e uma visão otimista e inspiradora sobre a vida e os sonhos mais profundos que nutrimos no íntimo das nossas almas, o filme é a consumação máxima do diretor, que aos 75 anos nos lembra uma vez mais do quanto precisamos de cada um dos seus filmes para continuarmos alimentando os nossos próprios sonhos de infância.

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