domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘The Handmaid’s Tale’: Elisabeth Moss retoma o conto da aia com sangue e dor

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A escuridão de um camburão contrasta com um fragmento de luz. Novamente o desconhecido entra em cena, em uma rápida jornada a um ponto distante dos cenários habituais. Rapidamente somos tomados por um alvoroço agonizante. Mordaças, confusão, olhos decrépitos, vestes vermelhas. Nossas aias de The Handmaid’s Tale esbarram em si mesmas, entre a brutalidade de chutes no ventre e uma corrida desenfreada para lugar nenhum. A sensação de sufocamento, isolamento em meio a tantas mulheres e o desespero tomam os primeiros minutos da aguardada segunda temporada. Entre gritos abafados, seguramos a respiração. Metaforicamente, aquela mordaça que tira até mesmo o único direito de viver à dor salta para fora das telas. E assim começa a primeira de muitas experiências sinestésicas de mais um ciclo.



A complexidade da obra de Margaret Atwood foi explanada clinicamente em 2017, com suas nuances, suas alterações, mas sempre mantendo o teor original que dita o sabor tão amargo e dilacerado da narrativa. Desbravar novas fronteiras para além do material fonte é um desafio, mas Bruce Miller parece estar em casa. Na segunda temporada da produção da plataforma de streaming Hulu, nos lembramos porque The Handmaid’s Tale é assustadoramente estasiante. Ser submergido dentro desse contexto distópico é de fato uma experiência transcendental. Ela desafia nossos conceitos, nossas percepções e nos leva para uma dimensão quase alternativa, se não fosse tão voraz e cabível. Com as raízes da trama bem consolidadas em seu primeiro ano, a expectativa é que os fatos se desabrochem, revelando novos fragmentos que foram apenas arranhados no começo. E para início de conversa, eis que recebemos isso em uma bela bandeja de prata.

Já familiarizados com a didática de vida instaurada em Gileade, percorremos o episódio – estrategicamente intitulado ‘June’ – como espectadores que já conhecem sua narradora. Offred retoma o seu conto, através de uma profunda expressividade que Elisabeth Moss conseguiu superar ainda mais, provando que dá sempre para melhorar aquilo que já é excepcional. Seus relatos nos levam para dentro de sua mente, à medida que revelam novas facetas do sistema escravocrata, que promove o feminicídio sem destruir o corpo por inteiro, matando pouco a pouco a alma, o espírito, consumindo o ânimo. Seguindo a cronologia dos fatos de maneira sequencial, o hiato de um ano vivenciado pelos fãs aparenta ser apenas uma rápida brecha no tempo. Tudo segue seu curso natural e a sensação é de que estivemos em um ciclo ininterrupto dentro dessa dolorosa jornada.

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O que a segunda temporada já anuncia em seu primeiro capítulo é que veremos uma sucessão de acontecimentos arrebatadores. O contraste entre a fadiga de quem cansou de lutar e a essência de quem nasceu para fazer isso novamente se encontram e mostram uma Offred que resiste às circunstâncias, tem uma boa moeda de barganha e está disposta a morrer para tentar viver. Esses conflitos nos levarão a uma caçada que apresenta novos núcleos. Se na primeira temporada descobrimos o submundo de Jezebel’s, a nova nos apresentará ao limbo de Gileade, mostrando as durezas do exílio das Colônias. Ainda sem a conhecermos, já conseguimos vislumbrar as cores sombrias que permeiam o que aparenta ser o estado máximo de abandono.

Sustentando sua estética onde a luz é ofuscada pelos tons de cinza e o vermelho sangue sinaliza muito mais que a escolha de uma cor, The Handmaid’s Tale mantém sua essência à flor da pele, mostrando que o grau de profundidade que tocamos no passado é apenas a superfície de um sistema enraizado em camadas ainda mais densas e – com certeza – mais sofridas e sofríveis. E neste espectro onde o presente distópico oprime as mulheres, flashbacks se tornam a âncora de um passado saudoso, que se repete sucessivamente na mente dos personagens. Com tantas complexidades ainda a serem exploradas, cresce também a ansiedade por descobrir mais. Mais motivações, mais fragilidades, mais históricos. A aclamada série vencedora do Emmy Award promete nos levar a essa viagem alucinante e para que a experiência seja vivaz e palpável, sentiremos o mesmo que cada uma dessas mulheres. Doa a quem doer.

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A escuridão de um camburão contrasta com um fragmento de luz. Novamente o desconhecido entra em cena, em uma rápida jornada a um ponto distante dos cenários habituais. Rapidamente somos tomados por um alvoroço agonizante. Mordaças, confusão, olhos decrépitos, vestes vermelhas. Nossas aias de The Handmaid’s Tale esbarram em si mesmas, entre a brutalidade de chutes no ventre e uma corrida desenfreada para lugar nenhum. A sensação de sufocamento, isolamento em meio a tantas mulheres e o desespero tomam os primeiros minutos da aguardada segunda temporada. Entre gritos abafados, seguramos a respiração. Metaforicamente, aquela mordaça que tira até mesmo o único direito de viver à dor salta para fora das telas. E assim começa a primeira de muitas experiências sinestésicas de mais um ciclo.

A complexidade da obra de Margaret Atwood foi explanada clinicamente em 2017, com suas nuances, suas alterações, mas sempre mantendo o teor original que dita o sabor tão amargo e dilacerado da narrativa. Desbravar novas fronteiras para além do material fonte é um desafio, mas Bruce Miller parece estar em casa. Na segunda temporada da produção da plataforma de streaming Hulu, nos lembramos porque The Handmaid’s Tale é assustadoramente estasiante. Ser submergido dentro desse contexto distópico é de fato uma experiência transcendental. Ela desafia nossos conceitos, nossas percepções e nos leva para uma dimensão quase alternativa, se não fosse tão voraz e cabível. Com as raízes da trama bem consolidadas em seu primeiro ano, a expectativa é que os fatos se desabrochem, revelando novos fragmentos que foram apenas arranhados no começo. E para início de conversa, eis que recebemos isso em uma bela bandeja de prata.

Já familiarizados com a didática de vida instaurada em Gileade, percorremos o episódio – estrategicamente intitulado ‘June’ – como espectadores que já conhecem sua narradora. Offred retoma o seu conto, através de uma profunda expressividade que Elisabeth Moss conseguiu superar ainda mais, provando que dá sempre para melhorar aquilo que já é excepcional. Seus relatos nos levam para dentro de sua mente, à medida que revelam novas facetas do sistema escravocrata, que promove o feminicídio sem destruir o corpo por inteiro, matando pouco a pouco a alma, o espírito, consumindo o ânimo. Seguindo a cronologia dos fatos de maneira sequencial, o hiato de um ano vivenciado pelos fãs aparenta ser apenas uma rápida brecha no tempo. Tudo segue seu curso natural e a sensação é de que estivemos em um ciclo ininterrupto dentro dessa dolorosa jornada.

O que a segunda temporada já anuncia em seu primeiro capítulo é que veremos uma sucessão de acontecimentos arrebatadores. O contraste entre a fadiga de quem cansou de lutar e a essência de quem nasceu para fazer isso novamente se encontram e mostram uma Offred que resiste às circunstâncias, tem uma boa moeda de barganha e está disposta a morrer para tentar viver. Esses conflitos nos levarão a uma caçada que apresenta novos núcleos. Se na primeira temporada descobrimos o submundo de Jezebel’s, a nova nos apresentará ao limbo de Gileade, mostrando as durezas do exílio das Colônias. Ainda sem a conhecermos, já conseguimos vislumbrar as cores sombrias que permeiam o que aparenta ser o estado máximo de abandono.

Sustentando sua estética onde a luz é ofuscada pelos tons de cinza e o vermelho sangue sinaliza muito mais que a escolha de uma cor, The Handmaid’s Tale mantém sua essência à flor da pele, mostrando que o grau de profundidade que tocamos no passado é apenas a superfície de um sistema enraizado em camadas ainda mais densas e – com certeza – mais sofridas e sofríveis. E neste espectro onde o presente distópico oprime as mulheres, flashbacks se tornam a âncora de um passado saudoso, que se repete sucessivamente na mente dos personagens. Com tantas complexidades ainda a serem exploradas, cresce também a ansiedade por descobrir mais. Mais motivações, mais fragilidades, mais históricos. A aclamada série vencedora do Emmy Award promete nos levar a essa viagem alucinante e para que a experiência seja vivaz e palpável, sentiremos o mesmo que cada uma dessas mulheres. Doa a quem doer.

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