domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | The Mustang: Atuações poderosas em drama inspirador sobre recomeços

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Fadado ao ostracismo, um criminoso não possui muitas alternativas, uma vez condenado. Reduzido a cômodos muitas vezes insalubres e apertados, sua vida passa a se resumir à contagem de dias para um futuro quase inexistente. Segundas chances são raríssimas, quando existem, e bons resultados são uma esperança muito pequena, de vidas que foram eliminadas pelas péssimas escolhas feitas no passado. The Mustang, novo filme da cineasta Laure de Clermont-Tonnerre, projeta uma luz diferente aos detentos, trazendo um programa real aplicado nas penitenciárias norte-americanas como instrumento narrativo que conta a história fictícia de um homem que, em sua essência, é um extrato de uma série de bons testemunhos reais.

Problemas de ira, péssimo temperamento e o peso do passado são as marcas expostas nas feições e na identidade de Roman Coleman. Pela brilhante caracterização do ator belga Matthias Schoenaerts (Operação Red Sparrow), conhecemos uma figura carrancuda, de meias palavras e expressividade assustadora. Afastando a todos com apenas um olhar, ele é o retrato de um homem que perdeu a cabeça em casa e aceitou o gosto amargo de uma vida absolutamente reclusa do convívio social. Internalizando as consequências da violência doméstica cometida, junto a todos os seus próprios traumas não revelados, ele parece ser a péssima escolha para um programa de reabilitação, que traz prisioneiros com bom comportamento para o campo aberto, onde eles devem aprender a adestrar os cavalos selvagens da raça Mustang. Símbolo da cultura americana, o animal é de espírito livre, quase incontrolável, e um excelente teste de paciência para homens nervosos.



Se esgueirando no programa sem perceber, Roman é incubido de adestrar o mais temível de todos os cavalos presentes. Raivoso e tempestuoso, ele é indomável. Sua forte personalidade entra em conflito com a deste homem, delicado como um cavalo. Duas bombas prestes a explodir, a combinação eclode em um encontro caótico, seguido por uma profunda experiência de aprendizado. Nas relações humanas, o detento pode muito bem ser um fracasso, mas sua comunicação não verbal acaba se encaixando naturalmente na linguagem corporal de Marcus, o selvagem que agora possui um nome. Essa relação inimaginável vai permitir que o homem, que carrega a culpa do arrependimento do crime que cometeu, desenvolva uma sensibilidade inesperada, aprendendo também a lidar com seu emocional de maneira profunda. Como uma espécie de psicologia reversa, a experiência de aprender a se comunicar com um animal abre brechas para a construção de uma nova pessoa, mais esperançosa e determinada a fazer as pazes consigo mesma e com sua família.

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Ainda que perdoar um criminoso seja uma tarefa extremamente difícil, The Mustang mostra uma perspectiva mais sensível desta fatia da população que frequentemente é jogada à deriva. Esquecidos pela maior parte da sociedade, eles são naturalmente vistos como párias. Mas pelas lentes de Clermont-Tonnerre, aprendemos tanto quanto Roman. À medida que ele desenvolve uma empatia real por Marcus – abrindo brechas para uma cura genuína, nós também caminhamos no mesmo sentido em relação a ele. De repente, nossa percepção preto no branco começa a ganhar tonalidades em cinza, ganhando mais cores a cada novo quadro do filme. Com uma direção emocional, que faz de Mathias o grande destaque na tela, luz natural, sombras e expressividade se entrelaçam, entregando um drama completo.

Com um roteiro inspirado em histórias reais de detentos que viram suas vidas mudarem graças ao programa de adestramento de cavalos, The Mustang não deixa de ser um serviço de utilidade pública, projetando os holofotes para uma iniciativa pouco compartilhada e conhecida. Presente em estados como Wyoming, Nevada e Califórnia, a iniciativa ainda é um sopro de esperança a homens que foram rejeitados pelos seus. E sem eximi-los da responsabilidade que possuem pelos crimes que cometeram, a produção não visa distorcer os erros do passado, mas os apresenta como seres frágeis que podem ter uma chance de recomeçar, apesar de tudo. Em remissão, eles estão em constante tratamento e são cuidados de perto por seus cavalos, isentos de qualquer julgamento ou preconceito.

Com um design de produção que trabalha bem os átrios das prisões e uma bela fotografia que explora os planos abertos com muita luz, The Mustang é uma história inspiradora sobre recomeços. Trazendo Schoenaerts em uma atuação impactante, digna de indicações, o drama toca no mais profundo da alma, incomodando também nossa percepção retrógrada de que detentos não podem ter novas chances. Como um filme que promove uma reflexão inerente em qualquer ser humano capaz de desenvolver empatia, ele é uma obra-prima do cinema contemporâneo, nos lembrando porque a sétima arte transcende sua própria definição.

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Fadado ao ostracismo, um criminoso não possui muitas alternativas, uma vez condenado. Reduzido a cômodos muitas vezes insalubres e apertados, sua vida passa a se resumir à contagem de dias para um futuro quase inexistente. Segundas chances são raríssimas, quando existem, e bons resultados são uma esperança muito pequena, de vidas que foram eliminadas pelas péssimas escolhas feitas no passado. The Mustang, novo filme da cineasta Laure de Clermont-Tonnerre, projeta uma luz diferente aos detentos, trazendo um programa real aplicado nas penitenciárias norte-americanas como instrumento narrativo que conta a história fictícia de um homem que, em sua essência, é um extrato de uma série de bons testemunhos reais.

Problemas de ira, péssimo temperamento e o peso do passado são as marcas expostas nas feições e na identidade de Roman Coleman. Pela brilhante caracterização do ator belga Matthias Schoenaerts (Operação Red Sparrow), conhecemos uma figura carrancuda, de meias palavras e expressividade assustadora. Afastando a todos com apenas um olhar, ele é o retrato de um homem que perdeu a cabeça em casa e aceitou o gosto amargo de uma vida absolutamente reclusa do convívio social. Internalizando as consequências da violência doméstica cometida, junto a todos os seus próprios traumas não revelados, ele parece ser a péssima escolha para um programa de reabilitação, que traz prisioneiros com bom comportamento para o campo aberto, onde eles devem aprender a adestrar os cavalos selvagens da raça Mustang. Símbolo da cultura americana, o animal é de espírito livre, quase incontrolável, e um excelente teste de paciência para homens nervosos.

Se esgueirando no programa sem perceber, Roman é incubido de adestrar o mais temível de todos os cavalos presentes. Raivoso e tempestuoso, ele é indomável. Sua forte personalidade entra em conflito com a deste homem, delicado como um cavalo. Duas bombas prestes a explodir, a combinação eclode em um encontro caótico, seguido por uma profunda experiência de aprendizado. Nas relações humanas, o detento pode muito bem ser um fracasso, mas sua comunicação não verbal acaba se encaixando naturalmente na linguagem corporal de Marcus, o selvagem que agora possui um nome. Essa relação inimaginável vai permitir que o homem, que carrega a culpa do arrependimento do crime que cometeu, desenvolva uma sensibilidade inesperada, aprendendo também a lidar com seu emocional de maneira profunda. Como uma espécie de psicologia reversa, a experiência de aprender a se comunicar com um animal abre brechas para a construção de uma nova pessoa, mais esperançosa e determinada a fazer as pazes consigo mesma e com sua família.

Ainda que perdoar um criminoso seja uma tarefa extremamente difícil, The Mustang mostra uma perspectiva mais sensível desta fatia da população que frequentemente é jogada à deriva. Esquecidos pela maior parte da sociedade, eles são naturalmente vistos como párias. Mas pelas lentes de Clermont-Tonnerre, aprendemos tanto quanto Roman. À medida que ele desenvolve uma empatia real por Marcus – abrindo brechas para uma cura genuína, nós também caminhamos no mesmo sentido em relação a ele. De repente, nossa percepção preto no branco começa a ganhar tonalidades em cinza, ganhando mais cores a cada novo quadro do filme. Com uma direção emocional, que faz de Mathias o grande destaque na tela, luz natural, sombras e expressividade se entrelaçam, entregando um drama completo.

Com um roteiro inspirado em histórias reais de detentos que viram suas vidas mudarem graças ao programa de adestramento de cavalos, The Mustang não deixa de ser um serviço de utilidade pública, projetando os holofotes para uma iniciativa pouco compartilhada e conhecida. Presente em estados como Wyoming, Nevada e Califórnia, a iniciativa ainda é um sopro de esperança a homens que foram rejeitados pelos seus. E sem eximi-los da responsabilidade que possuem pelos crimes que cometeram, a produção não visa distorcer os erros do passado, mas os apresenta como seres frágeis que podem ter uma chance de recomeçar, apesar de tudo. Em remissão, eles estão em constante tratamento e são cuidados de perto por seus cavalos, isentos de qualquer julgamento ou preconceito.

Com um design de produção que trabalha bem os átrios das prisões e uma bela fotografia que explora os planos abertos com muita luz, The Mustang é uma história inspiradora sobre recomeços. Trazendo Schoenaerts em uma atuação impactante, digna de indicações, o drama toca no mais profundo da alma, incomodando também nossa percepção retrógrada de que detentos não podem ter novas chances. Como um filme que promove uma reflexão inerente em qualquer ser humano capaz de desenvolver empatia, ele é uma obra-prima do cinema contemporâneo, nos lembrando porque a sétima arte transcende sua própria definição.

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