Em 2020, a Netflix trazia a seus assinantes a ambiciosa adaptação de ‘The Old Guard’, longa-metragem inspirado nos quadrinhos homônimos de Greg Sucka. Apesar do conhecido histórico de produções originais da gigante do streaming, o projeto encabeçado por Gina Prince-Bythewood encantou os espectadores não apenas pelo trabalho impecável de um elenco liderado por Charlize Theron, mas pela inesperada profundidade da narrativa e por se manter fiel ao material original – estendendo-se ao longo de duas horas e sagrando-se um ótimo épico de ação que clamava por uma sequência.
Cinco anos mais tarde, somos convidados a retornar para esse glorioso universo com o lançamento de ‘The Old Guard 2’, que chegou ao serviço hoje, 2 de julho. Comandado pela novata Victoria Mahoney, que fez sua estreia em 2021 com o drama ‘Yelling to the Sky’, a história da sequência se desenrola assim que os eventos do primeiro capítulo terminam – com Andrômaca de Cítia (Theron), também conhecida como Andy, lidando com o fim de sua imortalidade e protegendo-se ainda mais de ataques externos. Acompanhada da recém-chegada Nile (KiKi Layne), que se tornou a mais nova imortal e integrante do grupo de soldados, além de Joe (Marwan Kenzari), Nicky (Luca Marinelli) e James (Chiwetel Ejiofor), Andy e seus aliados percebem que o perigo é constante – e se veem na mira de duas antagonistas movidas por um desejo irrefreável de vingança e poder.
Como sabemos da icônica cena pós-créditos do longa predecessor, Booker (Matthias Schoenaerts) foi exilado após trair a confiança do grupo, cruzando caminho com Quỳnh (Vân Veronica Ngô), o antigo amor de Andy que, durante a época da Inquisição e da caça às bruxas, foi confinada em um caixão de ferro e condenada a passar a eternidade no fundo do oceano em um sofrimento eterno. Porém, Quỳnh foi resgatada pela impiedosa Discórdia (Uma Thurman), a imortal mais antiga do planeta que, em meio a contínuas injustiças sofridas por aqueles que não entendem a dádiva que foi dada a esses soldados, ela abandona a esperança de tornar o mundo um lugar melhor e se transforma em uma máquina guiada por uma cega vendeta – e que coloca os outros imortais em perigo inimaginável.
E isso não é tudo: Andy e Quỳnh fizeram um juramento inquebrável antes de serem separadas por seus algozes, impulsionando a protagonista a procurar sua amada e sua amiga por séculos antes de desistir – o que nos leva às vontades da própria Quỳnh de represália, sentindo-se traída por Andy estar em liberdade enquanto ela era torturada sob o frio desconcertante de águas opressoras. Influenciada pelo carisma e pelo discurso de Discórdia, a guerreira se vira contra aquela que um dia jurou apoiar e trilha um caminho de escuridão que também dá base para a história.

Enquanto todos os que acompanharam o primeiro capítulo da saga acreditavam que isso iria acontecer, Mahoney desperdiça o potencial do projeto em meio a cenas que não fazem sentido e que se valem de um mero espetáculo visual (o que não é um problema, considerando que boa parte do nosso envolvimento com o filme anterior se deu pelas espetaculares sequências de ação). Todavia, conforme navega pelas atribulações de laços frágeis e por um barril de pólvora que está prestes a explodir, a realizadora deixa que o roteiro co-assinado por Rucka e Sarah L. Walker se desenrole em meio a sofridos diálogos e a one-liners cansativas que, em vez de fornecerem mais densidade aos personagens, transforma-os em meros arquétipos de tantos produtos similares que acompanhamos nas últimas décadas.
A questão é que o longa de 2020 conquistou o público e a crítica por não se levar a sério e acompanhando a defasagem super-heroica que emergiu na sétima arte com o término de ‘Vingadores: Ultimato’ – além de ter sido lançado no início de uma complicada pandemia de COVID-19 que nos confinou à segurança dos lares. Aqui, o teor do entretenimento e da leveza foram deixados de lado, e mesmo as temáticas sociais exploradas foram varridas para debaixo do tapete em prol de repetições sistemáticas que não aproveitam tudo o que esse cosmos tem a oferecer. E, de fato, o criador da HQ original não conseguir sustentar um roteiro inspirado em sua própria criação é algo a ser levado em consideração – e algo que nos deixa com um pé atrás, considerando o monumental cliffhanger que antecipa os créditos de encerramento.

O elenco faz um trabalho formidável, com destaque aos membros que retornam e, em especial, Theron em mais uma entrada no circuito de filmes de ação que nos deixa de boca aberta e que traz referências a ‘Atômica’, que protagonizou em 2017. Ngô expande o breve contato que tivemos com Quỳnh e nutre de uma química interessante com Theron, por mais que as delineações não sejam esquadrinhadas como deveriam. Thurman nos agracia ao mergulhar de cabeça nas vilãs que eternizou no show business, mas é desperdiçada em meio a falas mal construídas. E Henry Golding completa o time de estreantes como Tuah, um antigo imortal e amigo de longa data de Andy.
‘The Old Guard 2’ falha por não manter o nível do título anterior e por apostar fichas em uma história metódica, sem inspiração e que se vale mais do espetáculo do que de uma concretude criativa, por assim dizer. Com exceção das atuações e das cenas de combate, o resultado dessa sequência é decepcionante e frustrante – por mais que nos prepare para um terceiro capítulo que pretende concluir essa épica jornada.