segunda-feira , 4 novembro , 2024

Crítica | The Pod Generation: Romance high-tech com Emilia Clarke e Chiwetel Ejiofor tem tanto conceito, que não sobra espaço para a história

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023

Os primeiros cinco minutos de The Pod Generation são de uma sublime satisfação para aqueles que amam conteúdos esteticamente organizados e marcados por ASMR (Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano, no portguês). Meticulosamente projetado e bem posicionado, em um design de produção claro e solar, o romance é um convite a uma era hiper tecnológica que não está tão distante do nosso horizonte. Em um tempo de profunda autonomia da inteligência artificial, o mundo retrocede em sua evolução. Aqui, bosques e jardins já não existem e o único caminho para garantir uma qualidade de vida decente são sessões diárias de inalação de pequenas redomas arbóreas. A impressora 3D finalmente faz refeições inteiras, tornando a produção agropecuária um mistério intocável. E assim em diante, a sociedade se torna mais preguiçosa, distante de seu Criador e de sua verdadeira essência.

Esses e tantos outros aspectos mais sutis e vorazes fazem de The Pod Generation um filme conceitualmente impecável. Cada detalhe desse novo mundo é muito bem elaborado e desenhado. E se existiam dúvidas quanto aos possíveis rumos viáveis da humanidade, aqui encontramos algumas respostas para essa pergunta. Mas se você espera encontrar aqui uma boa história, esse não é o lugar. E não é por falta de criatividade. Em tese, a comédia romântica de Sophie Barthes possui uma trama espetacular: os dilemas morais de um casal que sonha em ter um filho, mas se vê diante dos desafios nascidos da ascensão profissional da mulher. E entre pressões do ambiente de trabalho, a feminilidade que naturalmente anseia pelo vínculo consanguíneo em seu ventre e a necessidade de corresponder a uma nova e mundana dialética do que é ser e viver em sociedade, Emilia Clarke e Chiwetel Ejiofor estão no centro de um debate excelente! Mas que infelizmente nunca acontece.

Com toda a trama girando em torno desse elaborado conceito de sociedade pós-moderna, The Pod Generation fica sempre à espreita de uma boa história, sempre à margem – mas nunca realmente imersa nesse profundo mar de ideias, ideais, princípios e conflitos sociais. Flertando com questionamentos interessantes e ainda em fase de discussão global, a produção perde a oportunidade de ser uma sátira romântica dos relacionamentos contemporâneos e das dinâmicas familiares e se torna uma experiência incompleta sobre uma tecnologia avançadíssima de gestação.

Julgando que seu conceito seja suficiente para nos envolver na trama, Barthes erra ao subestimar a audiência e sua capacidade de análise crítica e entrega um resultado ironicamente preguiçoso. Dedicando toda sua criatividade para o conceito contextual da narrativa, ela esquece o roteiro no churrasco, na expectativa de que o design de produção e toda sua habilidosa construção compensem pela falta de uma boa história. Tentando nos induzir a crer que seus elementos práticos e técnicos funcionam como os pilares narrativos que cercam os personagens Rachel e Alvy, ela uma vez mais nos desmerece, ao supor que criar uma cascas de futuro distópico – sem recheio – poderia tornar este ou qualquer outro filme bom.

E o que é tão triste no meio de tudo isso é o fato de que The Pod Generation poderia ser incrível, se estivesse nas mãos de um diretor melhor. Com uma proposta ousada sobre fertilização em uma era onde a sociedade cada vez mais é educada a pensar que até o básico da humanidade está se tornando retrógrado, a cineasta tem todos os elementos certos para criar um romance distópico que funcione como um confronto, um soco na boca do estômago. Mas por desviar seus olhos do que o longa poderia ser, ela nos apresenta um livro de rascunhos inacabados de um suntuoso e admirável projeto em desenvolvimento. Por diversos momentos, temos a impressão de que etapas de produção foram puladas – porque nada justifica um uma ideia tão boa ter sido tão mal desenvolvida.

Sem um conflito genuíno e sem um clímax que valha todo o esforço dedicado para ambientar a narrativa, o romance com ares de ficção científica é a prova concreta de que bons conceitos visuais não fazem boas histórias. Feitos para encorpar e trazer originalidade e complexidade para a trama, eles não funcionam como alicerce, principalmente se ali não houver uma experiência genuína a ser compartilhada. E ainda que Clarke e Ejiofor se esforcem para trazer sentido ao que assistimos em tela, não há uma conexão palpável e identificável com seus personagens. Falta conectividade humana – algo que só uma boa história é capaz de nos proporcionar. E sem isso, The Pod Generation é como o iPhone mais tecnológico sem um carregador. Ele pode ser excepcional em todas as suas funcionalidades, mas descarregado é só um mero peso de papel.

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Esses e tantos outros aspectos mais sutis e vorazes fazem de The Pod Generation um filme conceitualmente impecável. Cada detalhe desse novo mundo é muito bem elaborado e desenhado. E se existiam dúvidas quanto aos possíveis rumos viáveis da humanidade, aqui encontramos algumas respostas para essa pergunta. Mas se você espera encontrar aqui uma boa história, esse não é o lugar. E não é por falta de criatividade. Em tese, a comédia romântica de Sophie Barthes possui uma trama espetacular: os dilemas morais de um casal que sonha em ter um filho, mas se vê diante dos desafios nascidos da ascensão profissional da mulher. E entre pressões do ambiente de trabalho, a feminilidade que naturalmente anseia pelo vínculo consanguíneo em seu ventre e a necessidade de corresponder a uma nova e mundana dialética do que é ser e viver em sociedade, Emilia Clarke e Chiwetel Ejiofor estão no centro de um debate excelente! Mas que infelizmente nunca acontece.

Com toda a trama girando em torno desse elaborado conceito de sociedade pós-moderna, The Pod Generation fica sempre à espreita de uma boa história, sempre à margem – mas nunca realmente imersa nesse profundo mar de ideias, ideais, princípios e conflitos sociais. Flertando com questionamentos interessantes e ainda em fase de discussão global, a produção perde a oportunidade de ser uma sátira romântica dos relacionamentos contemporâneos e das dinâmicas familiares e se torna uma experiência incompleta sobre uma tecnologia avançadíssima de gestação.

Julgando que seu conceito seja suficiente para nos envolver na trama, Barthes erra ao subestimar a audiência e sua capacidade de análise crítica e entrega um resultado ironicamente preguiçoso. Dedicando toda sua criatividade para o conceito contextual da narrativa, ela esquece o roteiro no churrasco, na expectativa de que o design de produção e toda sua habilidosa construção compensem pela falta de uma boa história. Tentando nos induzir a crer que seus elementos práticos e técnicos funcionam como os pilares narrativos que cercam os personagens Rachel e Alvy, ela uma vez mais nos desmerece, ao supor que criar uma cascas de futuro distópico – sem recheio – poderia tornar este ou qualquer outro filme bom.

E o que é tão triste no meio de tudo isso é o fato de que The Pod Generation poderia ser incrível, se estivesse nas mãos de um diretor melhor. Com uma proposta ousada sobre fertilização em uma era onde a sociedade cada vez mais é educada a pensar que até o básico da humanidade está se tornando retrógrado, a cineasta tem todos os elementos certos para criar um romance distópico que funcione como um confronto, um soco na boca do estômago. Mas por desviar seus olhos do que o longa poderia ser, ela nos apresenta um livro de rascunhos inacabados de um suntuoso e admirável projeto em desenvolvimento. Por diversos momentos, temos a impressão de que etapas de produção foram puladas – porque nada justifica um uma ideia tão boa ter sido tão mal desenvolvida.

Sem um conflito genuíno e sem um clímax que valha todo o esforço dedicado para ambientar a narrativa, o romance com ares de ficção científica é a prova concreta de que bons conceitos visuais não fazem boas histórias. Feitos para encorpar e trazer originalidade e complexidade para a trama, eles não funcionam como alicerce, principalmente se ali não houver uma experiência genuína a ser compartilhada. E ainda que Clarke e Ejiofor se esforcem para trazer sentido ao que assistimos em tela, não há uma conexão palpável e identificável com seus personagens. Falta conectividade humana – algo que só uma boa história é capaz de nos proporcionar. E sem isso, The Pod Generation é como o iPhone mais tecnológico sem um carregador. Ele pode ser excepcional em todas as suas funcionalidades, mas descarregado é só um mero peso de papel.

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