segunda-feira , 18 novembro , 2024

Crítica | The Square: A Arte da Discórdia – O candidato sueco ao Oscar é um filme essencial para o Brasil de hoje

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The Square: A Arte da Discórdia (The Square) é o segundo trabalho do sueco Ruben Östlund a ter grande repercussão internacional; é também sua segunda obra a tentar uma vaga ao Oscar (em 2015, chegou perto com Força Maior). Tanto The Square quanto Força Maior tocam em temas que revelam a hipocrisia social e desconstroem ideias estabelecidas. Vocês já ouviram falar naquele discurso de que nos tornamos pessoas melhores, de que existem pessoas desconstruídas, hipersodilárias e que compreendem o outro? Então, Östlund pega essa ideia e diz para o público: meus queridos, ainda nem saímos do paleolítico!

Em Força Maior, Östlund usa um pai covarde que, durante um suposto deslizamento de neve, foge sem ajudar a família para desconstruir tanto a ideia do superpai quanto o ideal da família moderna. Seu ataque às vacas sagradas da modernidade é mais evidente em The Square (previsão de estreia no circuito para 4 de janeiro de 2018). Nele, conhecemos Christian (Claes Bang), curador de um museu que prepara uma exposição cujo objetivo é sensibilizar o público sobre a importância de sermos solidários e olharmos o outro. Em paralelo, acompanhamos as tentativas de Christian para recuperar o seu relógio roubado…

Östlund usa a narrativa de The Square para derrubar qualquer autoimagem elogiosa que o espectador tenha. Christian pode querer criar uma exposição que conscientize o público para os problemas do outro, mas é suficientemente mesquinho para agir de forma indiferente com moradores de rua, ou ser muito idiota nas tentativas de recuperar o seu relógio.



 

O filme apresenta personagens que carregam uma dicotomia entre aparentar algo e o que essas pessoas são quando colocadas no limite. Essa dicotomia reflete no espectador, que fica dividido diante das ações dos personagens; é muito provável que você não saiba o que pensar diante de certas situações apresentadas no filme. Enquanto Christian não é posto em uma situação limite, ele é a tradução do modelo de homem moderno, meio intelectual, meio desconstruído, o sujeito do século XXI. Quando está no limite, ele cede aos instintos, agindo de forma nem um pouco civilizada. Contudo, ele sente remorso por isso e tenta se corrigir – ou melhor, tenta manter a capa.

Östlund consegue criar personagens que sentem um arrependimento genuíno por agirem fora do que se espera de sujeitos civilizados. Mas, ao tentar corrigir algo, fazem como uma tentativa de demonstrar que ainda são pessoas virtuosas. Em qualquer situação, o outro importa quase nada; é como se eles acreditassem tanto que são pessoas boas, de espírito nobre, que não conseguem acreditar de que são capazes de agir de maneira baixa e estúpida. Duas cenas que melhor representam isso: um certo vídeo que Christian faz no celular; e a reação da plateia diante de um deficiente mental que atrapalha a entrevista de um artista.

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A montagem do filme reforça toda essa contradição quando alterna cenas do museu com cenas de moradores de rua, estas cenas sempre com enquadramento mais instável do que aquelas filmadas no museu.

Apurando ainda mais seu estilo, Östlund explora outras situações que não tem importância direta no desenrolar da narrativa principal, mas que colaboram para a formação de um painel da hipocrisia social que vivemos, um ambiente intoxicado por ideologias que desejam controlar a forma como pensamos, um tipo de pensamento grupal totalmente avesso à autonomia intelectual. A sequência de sexo entre Christian e Anne (Elisabeth Moss) é uma bela tradução das consequências nefastas que o excesso de problematização da sexualidade pode gerar.

Nenhuma sequência, porém, é mais relevante para o Brasil de hoje do que a performance do artista Oleg (Terry Notary) durante um jantar reunindo os financiadores do museu. A performance provoca os convidados. Ela vai testando os limites deles e da própria arte. É a sequência que melhor demonstra que, sim, arte tem limite – ao contrário do que deu a entender os debates sobre artes neste ano de 2017 aqui no Brasil, cujo exemplo paradigma foi o envolvendo o queermuseu.

Poucos momentos reuniram tanta estupidez e ignorância quanto o debate sobre artes no Brasil, de ambos os lados – tanto daqueles que viam pedofilia onde não havia, quanto de pessoas defendendo obras de duvidosa qualidade artística. Apesar de The Square criticar o universo artístico contemporâneo, ele não endossa a histeria que o queermuseu provocou.  Pelo contrário! Quando o filme expõe as reações ao vídeo publicitário, parece criticar a postura de caça às bruxas – e estamos falando de um vídeo estúpido produzido por uma dupla de publicitários com uma visão estreita de mundo.

Por mais que The Square critique o povo do “não tenho preconceitos”, os meio intelectuais, meio desconstruídos, Östlund não produz um filme para agradar algum lado. Por meio de uma montagem de imagens contrastantes, ele produz uma narrativa que não se contenta em expor as contradições do pensamento dominante nos meios artísticos (e tão comum em meios políticos de esquerda); seu filme aponta os limites desse tipo de pensamento, muitas vezes chamado de politicamente correto. Ver The Square deixa ainda mais patética a revolta das pessoas que falam coisas do tipo: “como é possível, em pleno ano 2017…” Mana, nem em pleno 3017 vamos ter abandonado nosso lado mesquinho.

E aí, ficou interessado por The Square? Será que ele tem chances de concorrer ao Oscar? E não deixe de comentar, compartilhar e curtir nossas redes sociais:

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Em Força Maior, Östlund usa um pai covarde que, durante um suposto deslizamento de neve, foge sem ajudar a família para desconstruir tanto a ideia do superpai quanto o ideal da família moderna. Seu ataque às vacas sagradas da modernidade é mais evidente em The Square (previsão de estreia no circuito para 4 de janeiro de 2018). Nele, conhecemos Christian (Claes Bang), curador de um museu que prepara uma exposição cujo objetivo é sensibilizar o público sobre a importância de sermos solidários e olharmos o outro. Em paralelo, acompanhamos as tentativas de Christian para recuperar o seu relógio roubado…

Östlund usa a narrativa de The Square para derrubar qualquer autoimagem elogiosa que o espectador tenha. Christian pode querer criar uma exposição que conscientize o público para os problemas do outro, mas é suficientemente mesquinho para agir de forma indiferente com moradores de rua, ou ser muito idiota nas tentativas de recuperar o seu relógio.

 

O filme apresenta personagens que carregam uma dicotomia entre aparentar algo e o que essas pessoas são quando colocadas no limite. Essa dicotomia reflete no espectador, que fica dividido diante das ações dos personagens; é muito provável que você não saiba o que pensar diante de certas situações apresentadas no filme. Enquanto Christian não é posto em uma situação limite, ele é a tradução do modelo de homem moderno, meio intelectual, meio desconstruído, o sujeito do século XXI. Quando está no limite, ele cede aos instintos, agindo de forma nem um pouco civilizada. Contudo, ele sente remorso por isso e tenta se corrigir – ou melhor, tenta manter a capa.

Östlund consegue criar personagens que sentem um arrependimento genuíno por agirem fora do que se espera de sujeitos civilizados. Mas, ao tentar corrigir algo, fazem como uma tentativa de demonstrar que ainda são pessoas virtuosas. Em qualquer situação, o outro importa quase nada; é como se eles acreditassem tanto que são pessoas boas, de espírito nobre, que não conseguem acreditar de que são capazes de agir de maneira baixa e estúpida. Duas cenas que melhor representam isso: um certo vídeo que Christian faz no celular; e a reação da plateia diante de um deficiente mental que atrapalha a entrevista de um artista.

A montagem do filme reforça toda essa contradição quando alterna cenas do museu com cenas de moradores de rua, estas cenas sempre com enquadramento mais instável do que aquelas filmadas no museu.

Apurando ainda mais seu estilo, Östlund explora outras situações que não tem importância direta no desenrolar da narrativa principal, mas que colaboram para a formação de um painel da hipocrisia social que vivemos, um ambiente intoxicado por ideologias que desejam controlar a forma como pensamos, um tipo de pensamento grupal totalmente avesso à autonomia intelectual. A sequência de sexo entre Christian e Anne (Elisabeth Moss) é uma bela tradução das consequências nefastas que o excesso de problematização da sexualidade pode gerar.

Nenhuma sequência, porém, é mais relevante para o Brasil de hoje do que a performance do artista Oleg (Terry Notary) durante um jantar reunindo os financiadores do museu. A performance provoca os convidados. Ela vai testando os limites deles e da própria arte. É a sequência que melhor demonstra que, sim, arte tem limite – ao contrário do que deu a entender os debates sobre artes neste ano de 2017 aqui no Brasil, cujo exemplo paradigma foi o envolvendo o queermuseu.

Poucos momentos reuniram tanta estupidez e ignorância quanto o debate sobre artes no Brasil, de ambos os lados – tanto daqueles que viam pedofilia onde não havia, quanto de pessoas defendendo obras de duvidosa qualidade artística. Apesar de The Square criticar o universo artístico contemporâneo, ele não endossa a histeria que o queermuseu provocou.  Pelo contrário! Quando o filme expõe as reações ao vídeo publicitário, parece criticar a postura de caça às bruxas – e estamos falando de um vídeo estúpido produzido por uma dupla de publicitários com uma visão estreita de mundo.

Por mais que The Square critique o povo do “não tenho preconceitos”, os meio intelectuais, meio desconstruídos, Östlund não produz um filme para agradar algum lado. Por meio de uma montagem de imagens contrastantes, ele produz uma narrativa que não se contenta em expor as contradições do pensamento dominante nos meios artísticos (e tão comum em meios políticos de esquerda); seu filme aponta os limites desse tipo de pensamento, muitas vezes chamado de politicamente correto. Ver The Square deixa ainda mais patética a revolta das pessoas que falam coisas do tipo: “como é possível, em pleno ano 2017…” Mana, nem em pleno 3017 vamos ter abandonado nosso lado mesquinho.

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