domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘The White Lotus’ entrega uma 2ª temporada absolutamente fantástica

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Crítica livre de spoilers.

Quando a primeira temporada da dramédia The White Lotus estreou na HBO Max em 2021, ninguém poderia imaginar o barulho que faria. Além dos altos números de audiência, a produção caiu no gosto da crítica e conquistou inúmeros prêmios – sendo a mais condecorada do elenco a icônica Jennifer Coolidge por um dos papéis definidores da carreira, a socialite Tanya. Agora, mais de um ano depois, retornamos para o segundo ano de uma antologia que tem potencial para viver por muito tempo, e que nos leva para um novo destino paradisíaco: a Sicília.



Aqui, os únicos a retornarem ao elenco protagonista são Coolidge e Jon Gries; o restante é formado por rostos novos e um talento imensurável que deixa a nova temporada no mesmo patamar que a original, abrindo espaço para mais problemas conjugais, sociais e trabalhistas que se desenrolam em uma sátira comédia de erros – e mais um assassinato que nos é mostrado logo no capítulo de estreia. Mais uma vez, Mike White fica a encargo da direção e do roteiro e fornece uma sólida narrativa que explora tanto os defeitos mais intrínsecos do ser humano quanto a beleza sórdida de uma idílica paisagem que esconde mais do que revela. E posso garantir a vocês que a série mais uma vez aparecerá como uma das melhores do ano, infundida com tramas instigantes, personagens odiosos e relacionáveis e uma imagética que mais ressoa à grandiosidade do cinema do que à televisão.

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Seguindo os passos da iteração anterior, o primeiro episódio se inicia, de fato, com a chegada dos novos hóspedes do The White Lotus: Sicília, cruzando o Mediterrâneo e aportando em um luxuoso cais que leva direto ao resort. Dessa vez, Tanya vem acompanhada de uma jovem assistente, Portia (Haley Lu Richardson), para encontrar o amante; dentre os recém-chegados, temos Harper (Aubrey Plaza) e Will (Ethan Spiller), um casal que viaja com os supérfluos Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy); o trio intergeracional formado por Bert (F. Murray Abraham), o filho Dominic (Michael Imperioli) e o neto Albie (Adam DiMarco); Valentina (Sabrina Impacciatore), a impiedosa gerente do hotel; e Mia (Beatrice Grannò) e Lucia (Simona Tabasco), duas amigas que tentam se infiltrar no resort e conquistar os homens em troca de dinheiro.

É claro que há mais personagens que chamam nossa atenção, mas é esse núcleo que rouba os holofotes com atuações incríveis e uma química esplêndida – com destaque a Plaza, Abraham e Imperioli em complexas rendições que nos deixam enervados e ansiosos para descobrir o que farão a seguir. Devo dizer, entretanto, que nenhum dos atores entrega uma performance mediana; pelo contrário, agem com uma naturalidade aplaudível e recriam cenas de um cotidiano que tangencia o teatral, por se configurarem como eventos quase impossíveis, mas que existem e nos chocam dia após dia.

Há uma série de críticas trazidas por White que também são encarnadas por cada uma das engrenagens da série. A alienação sociopolítica é uma das inflexões que surgem no núcleo envolvendo Harper e Ethan contra Daphne e Cameron: enquanto estes posam como um casal perfeito, livre de problemas por não se importar com eles e tendo um aval inexplicável para fazer o que bem entenderem, aqueles lutam para aguentá-los até o fim do dia, lidando com um senso de despertencimento e com o choque de um privilégio branco que se manifesta das mais diversas maneiras. E, enquanto o desenrolar da trama nos deixa furiosos, é impossível desviar os olhos das cenas que estrelam – talvez pelo fato de sermos seduzidos pela tragédia e pela vergonha alheias.

A egolatria é tema do arco envolvente Bert, Albie e Dominic – cada qual delineado de uma maneira distinta. Bert, o patriarca, quer se mostrar como um macho-alfa que ainda consegue encantar as jovens sicilianas, mas não percebe que perpetua estereótipos risíveis a cada fala; Dominic, um ninfomaníaco que destruiu o casamento e afastou tanto a ex-mulher quanto a filha, não se preocupa com nada além de si próprio e de como se apresenta para os outros; e Albie, envolvendo-se com Portia, tem uma necessidade de dominar a situação e não percebe o quão autocentrado é, posando como um homem “desconstruído” para chamar a atenção dela.

Como já mencionado, Coolidge reprisa seu papel como Tanya e parece colher os frutos de sua irresponsabilidade na temporada passada. Nos novos episódios, ela se confina aos desejos de Greg até perceber que não tem muita valia para o amante além de cumprir com os requisitos – chegando a pedir para que Portia se esconda no quarto e que uma taróloga local a ajude a descobrir o que há de errado. E, considerando que Coolidge faz um trabalho admirável que com certeza deve render-lhe mais uma indicação ao Emmy, é divertido e aprazível observar suas peripécias em mais um edênico lugar que ela transforma em um inferno pessoal.

A 2ª temporada de The White Lotus traz diversas homenagens ao ciclo anterior, mas sem perder o frescor de uma narrativa muito mais profunda do que parece. White consegue resgatar os ideários que analisam a estupidez humana em uma ácida incursão que merece reconhecimento e que é, sem dúvidas, uma das sensações de final de ano.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Aqui, os únicos a retornarem ao elenco protagonista são Coolidge e Jon Gries; o restante é formado por rostos novos e um talento imensurável que deixa a nova temporada no mesmo patamar que a original, abrindo espaço para mais problemas conjugais, sociais e trabalhistas que se desenrolam em uma sátira comédia de erros – e mais um assassinato que nos é mostrado logo no capítulo de estreia. Mais uma vez, Mike White fica a encargo da direção e do roteiro e fornece uma sólida narrativa que explora tanto os defeitos mais intrínsecos do ser humano quanto a beleza sórdida de uma idílica paisagem que esconde mais do que revela. E posso garantir a vocês que a série mais uma vez aparecerá como uma das melhores do ano, infundida com tramas instigantes, personagens odiosos e relacionáveis e uma imagética que mais ressoa à grandiosidade do cinema do que à televisão.

Seguindo os passos da iteração anterior, o primeiro episódio se inicia, de fato, com a chegada dos novos hóspedes do The White Lotus: Sicília, cruzando o Mediterrâneo e aportando em um luxuoso cais que leva direto ao resort. Dessa vez, Tanya vem acompanhada de uma jovem assistente, Portia (Haley Lu Richardson), para encontrar o amante; dentre os recém-chegados, temos Harper (Aubrey Plaza) e Will (Ethan Spiller), um casal que viaja com os supérfluos Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy); o trio intergeracional formado por Bert (F. Murray Abraham), o filho Dominic (Michael Imperioli) e o neto Albie (Adam DiMarco); Valentina (Sabrina Impacciatore), a impiedosa gerente do hotel; e Mia (Beatrice Grannò) e Lucia (Simona Tabasco), duas amigas que tentam se infiltrar no resort e conquistar os homens em troca de dinheiro.

É claro que há mais personagens que chamam nossa atenção, mas é esse núcleo que rouba os holofotes com atuações incríveis e uma química esplêndida – com destaque a Plaza, Abraham e Imperioli em complexas rendições que nos deixam enervados e ansiosos para descobrir o que farão a seguir. Devo dizer, entretanto, que nenhum dos atores entrega uma performance mediana; pelo contrário, agem com uma naturalidade aplaudível e recriam cenas de um cotidiano que tangencia o teatral, por se configurarem como eventos quase impossíveis, mas que existem e nos chocam dia após dia.

Há uma série de críticas trazidas por White que também são encarnadas por cada uma das engrenagens da série. A alienação sociopolítica é uma das inflexões que surgem no núcleo envolvendo Harper e Ethan contra Daphne e Cameron: enquanto estes posam como um casal perfeito, livre de problemas por não se importar com eles e tendo um aval inexplicável para fazer o que bem entenderem, aqueles lutam para aguentá-los até o fim do dia, lidando com um senso de despertencimento e com o choque de um privilégio branco que se manifesta das mais diversas maneiras. E, enquanto o desenrolar da trama nos deixa furiosos, é impossível desviar os olhos das cenas que estrelam – talvez pelo fato de sermos seduzidos pela tragédia e pela vergonha alheias.

A egolatria é tema do arco envolvente Bert, Albie e Dominic – cada qual delineado de uma maneira distinta. Bert, o patriarca, quer se mostrar como um macho-alfa que ainda consegue encantar as jovens sicilianas, mas não percebe que perpetua estereótipos risíveis a cada fala; Dominic, um ninfomaníaco que destruiu o casamento e afastou tanto a ex-mulher quanto a filha, não se preocupa com nada além de si próprio e de como se apresenta para os outros; e Albie, envolvendo-se com Portia, tem uma necessidade de dominar a situação e não percebe o quão autocentrado é, posando como um homem “desconstruído” para chamar a atenção dela.

Como já mencionado, Coolidge reprisa seu papel como Tanya e parece colher os frutos de sua irresponsabilidade na temporada passada. Nos novos episódios, ela se confina aos desejos de Greg até perceber que não tem muita valia para o amante além de cumprir com os requisitos – chegando a pedir para que Portia se esconda no quarto e que uma taróloga local a ajude a descobrir o que há de errado. E, considerando que Coolidge faz um trabalho admirável que com certeza deve render-lhe mais uma indicação ao Emmy, é divertido e aprazível observar suas peripécias em mais um edênico lugar que ela transforma em um inferno pessoal.

A 2ª temporada de The White Lotus traz diversas homenagens ao ciclo anterior, mas sem perder o frescor de uma narrativa muito mais profunda do que parece. White consegue resgatar os ideários que analisam a estupidez humana em uma ácida incursão que merece reconhecimento e que é, sem dúvidas, uma das sensações de final de ano.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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