quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | Thelma – Joachim Trier cria sua própria ‘Carrie – A Estranha’

O Maior dos Medos

Thelma é a nova produção do cineasta dinamarquês Joachim Trier, responsável por dramas cult, como Oslo, 31 de Agosto (2011) e Mais Forte que Bombas (2015). Desta vez, o diretor se aventura pelo cinema de gênero, criando uma obra enigmática, tensa e recheada de ideias subliminares.

Parte drama, parte romance, suspense e ficção científica, o filme apresenta a personagem título Thelma, papel da jovem carismática Eili Harboe (A Onda), que ao completar certa idade, segue seu caminho ingressando na faculdade, e morando sozinha, pela primeira vez afastada dos pais. Ao mesmo tempo em que estranhos eventos vão ocorrendo ao redor da moça, vislumbramos através de flashbacks sua infância ao lado dos pais e descobrimos um pouco mais de seu passado.

De imediato, dois outros filmes vem à mente enquanto assistimos a Thelma. O primeiro e mais óbvio é Carrie – A Estranha (1976), clássico absoluto do mestre Brian De Palma, baseado no livro de outro mestre, Stephen King. Assim como Carrie White, Thelma possui dons sobre-humanos. A protagonista deste filme inclusive é ainda mais poderosa, pois não possui somente poderes de telecinese (mover objetos com a mente), mas consegue fazer pessoas desaparecerem no ar, apenas com a força do pensamento. Ao contrário de Carrie também, cujos dons começam a se manifestar na adolescência, chegando junto com sua primeira menstruação (e servem de forte alusão à entrada de uma jovem na vida adulta, ao se tornar mulher), o talento sobrenatural de Thelma manifesta-se ainda na infância, e retornam na nova fase.

O segundo filme ao qual Thelma remete, este uma produção mais recente, é Raw (ou Grave), filme francês do ano passado, dirigido pela jovem Julia Ducournau, que atingiu status cult e falava sobre uma caloura na universidade que ao mesmo tempo em que amadurecia para a vida adulta, despertava desejos canibais adormecidos. No filme de Ducournau, o paralelo da entrada na fase adulta vinha servido de certa carnificina e desejos insaciáveis por carne humana. Já no filme de Trier, esta transição, assim como desejos sexuais reprimidos florescendo, são servidos de estranhas manifestações extrassensoriais.

No longa de Trier, quando Thelma conhece Anja (Kaya Wilkins) surge uma forte atração, seguida de um ataque epilético e pássaros se chocando contra a janela da sala de estudos. Quando as duas vão a uma apresentação no teatro e Anja demonstra afeto, o grande lustre balança. As emoções de Thelma estão diretamente ligadas a estas manifestações incompreensíveis. E assim como em Carrie, os pais superprotetores, rígidos e extremamente religiosos podem ser a chave de tudo. No entanto, uma vez que observamos através dos citados flashbacks do que a menina é capaz – com toda uma subtrama simplesmente assustadora envolvendo seu irmão ainda bebê – começamos a dar certa razão aos progenitores, ao contrário digamos do que temos em relação à mãe de Carrie.

É preciso dizer também que Thelma não é particularmente um filme de terror, e quem for esperando por isso sairá decepcionado. Apesar de fazer uso de cenas impactantes, garantidas de ficarem alojadas em nossas mentes por um bom tempo, cujo teor é sim mais assustador do que a maioria dos monstros que pulam do escuro, por seu realismo, o filme funciona mais como um drama, investindo na trágica vida e tormento de sua protagonista, da qual não existe aparentemente escapatória.

Thelma faz uso de uma bela condução, e Trier cria momentos gélidos e marcantes, que nos deixa à beira da poltrona esperando a próxima cena. O filme é também uma grande analogia para a busca pela liberdade, por se ver livre de figuras opressoras, mesmo que sejam pessoas próximas a quem amamos, como nossos pais – muitas vezes sequer percebendo o mal que fazem na vida de seus filhos. Relevante e único, Thelma é uma história de coming of age melancólica e perturbadora. Em tempo, Thelma é o representante da Noruega por uma vaga na categoria de produção estrangeira no Oscar 2018.

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