sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | ‘This Is Me… Now’, 9º álbum de estúdio de Jennifer Lopez, celebra sua carreira em uma desequilibrada jornada musical

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Houve um tempo em que Jennifer Lopez era um dos nomes mais poderosos da indústria do entretenimento: a artista não apenas montava seu nome no cenário fonográfico com singles dançantes que exaltavam suas raízes latinas, como também ficava eternizada no escopo fílmico ao estrelar inúmeras comédias românticas que se tornaram favoritas do público e que reiteravam sua versatilidade performática. E, depois de uma década afastada da música – com exceção de alguns lançamentos soltos ou pertencentes a trilhas sonoras -, ela resolveu voltar com um antecipadíssimo compilado de originais intitulado ‘This Is Me… Now’ (parte de um extenso projeto que também conta com um longa-metragem já disponível no catálogo do Prime Video).

O álbum emerge como uma continuação do clássico ‘This Is Me… Then’, uma de suas produções mais conhecidas (ainda mais por contar com o icônico single “Jenny From the Block” e por ser inspirada em seu relacionamento com o ator Ben Affleck) que completa vinte e dois anos em 2024. E, além de entrar como uma resposta lírica a seu eu mais novo, promovendo uma jornada de amadurecimento e de reflexão, é notável como a continuação prova-se como um amarrado estilístico que aposta fichas nas estruturas familiares do R&B da virada dos anos 1990 para os 2000 – encontrando um ponto entre passado e presente que abre espaço para uma atemporalidade significativa. Todavia, é notável como, mesmo com as boas intenções e com uma clara delineação identitária, a obra é marcada por repetições cansativas e uma falta considerável de originalidade.



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A princípio, é preciso comentar como Lopez tem uma ideia muito clara em mente – ressurgir, de modo testamentário, o que ela fez através de sua carreira. Quando pensamos em suas iterações predecessoras, conseguimos associá-la a tracks que permanecem vivas na memória popular, como “Let’s Get Loud”, “Waiting for Tonight” ou “On The Floor” – facilmente algumas de suas melhores canções; em uma tentativa de construir essa supracitada ponte entre o antes e o agora, percebemos como a performer batalha com todas as forças para escapar das obviedades. Por mais que atinja tal objetivo em alguns momentos, isso não é o suficiente para ofuscar os múltiplos equívocos (certos deles, inclusive, amadores) ao longo de treze faixas que são, pela falta de outro termo, esquecíveis.

O disco começa com a faixa-título, cujo início fabulesco, marcado pelo piano, pelas conhecidas melodias do violão e por uma inesperada flauta, logo dá espaço aos convencionalismos do R&B, em que Lopez entoa com todo o fôlego possível “esta sou eu agora”. À medida que já se volta para os primeiros anos de sua carreira, ela une-se a um grupo considerável de produtores e de compositores para falar sobre uma jornada íntima pela qual passou (“tive que curar meu coração, mas eu amo quem eu sou ultimamente”) e que dão espaço para um suave synth-trap que funciona em boa parte – por mais que logo esvaia de nossa mente conforme passamos para a próxima música.

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“To Be Yours”, segunda track do álbum, é infundida por um R&B ainda mais profundo e que oscila entre um uptempo dançante e uma semi-balada que antecipa um refrão bastante saudosista (em um estilo que nos lembra automaticamente de Mariah Carey), com variações performáticas bem práticos e movidas por uma comunhão de camadas vocais que fornece ritmo e beleza a uma construção que tinha tudo para se render ao ostracismo; porém, essas escolhas são amiudadas nas iterações seguintes, partindo de princípio similares em demasia, como acontece em “Mad in Love” ou em “not.going.anywhere”. “Broken Like Me”, apresentando uma brusca mudança de estilo ao apostar em uma acústica balada guiada pelo violão, é uma das entradas mais honestas – mas há momentos em que a entrega da artista parece desassociada do que realmente deveria acontecer, quebrando a experiência catártica que deveria promover.

Há canções que nos chamam a atenção por não se levarem a sério e, por essa razão, nos conquistarem desde as primeiras batidas. “Can’t Get Enough”, lead single promocionais do álbum, é mesclada com sagacidade à icônica “I’m Still in Love with You”, de Sean Paul e Sasha e assinada por Alton Ellis – explodindo em um sensual e dançante latin-pop que reflete o melhor de Lopez; “Hearts and Flowers” carrega um pouco mais de substância ao nos arremessar para o hip-hop do início dos anos 2000 conforme pincela a estrutura sonora com latinidades apaixonantes (além de um refrão mais sóbrio que soa mais confortável com a gama vocal de Lopez); e “Greatest Love Story Never Told”, facilmente a melhor iteração da obra e uma das mais interessantes da discografia da performer, é uma colaboração de hip-hop, R&B e boom bap que nutre de semelhanças com “Kill Bill”, de SZA, e até mesmo com a vibrante “Ain’t It Funny”, e permite que a cantora mostre-se disposta a se divertir de modo palpável e memorialístico (“vinte anos atrás, parece que o tempo congelou; estamos vivendo na maior história de amor que já foi contada”).

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‘This Is Me… Now’ soa como um projeto que não teve o tempo necessário para ser gestado como deveria. É claro que, considerando a quantidade exacerbada de compositores e produtores, o fato do álbum ser coeso é surpreendente; entretanto, essa coesão, por vezes, dá espaço para uma cíclica repetição que tira parte do brilho e que compromete nossa jornada ao lado de Lopez.

Nota por faixa:

1. This Is Me… Now – 3,5/5
2. To Be Yours – 4/5
3. Mad in Love – 3/5
4. Can’t Get Enough – 3,5/5
5. not.going.anywhere – 2,5/5
6. Rebound – 2/5
7. Dear Ben, Pt. II – 3/5
8. Hummingbird – 2/5
9. Hearts and Flowers – 4/5
10. Broken Like Me – 3/5
11. This Time Around – 1,5/5
12. Midnight Trip to Vegas – 1/5 
13. Greatest Love Story Never Told – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O álbum emerge como uma continuação do clássico ‘This Is Me… Then’, uma de suas produções mais conhecidas (ainda mais por contar com o icônico single “Jenny From the Block” e por ser inspirada em seu relacionamento com o ator Ben Affleck) que completa vinte e dois anos em 2024. E, além de entrar como uma resposta lírica a seu eu mais novo, promovendo uma jornada de amadurecimento e de reflexão, é notável como a continuação prova-se como um amarrado estilístico que aposta fichas nas estruturas familiares do R&B da virada dos anos 1990 para os 2000 – encontrando um ponto entre passado e presente que abre espaço para uma atemporalidade significativa. Todavia, é notável como, mesmo com as boas intenções e com uma clara delineação identitária, a obra é marcada por repetições cansativas e uma falta considerável de originalidade.

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A princípio, é preciso comentar como Lopez tem uma ideia muito clara em mente – ressurgir, de modo testamentário, o que ela fez através de sua carreira. Quando pensamos em suas iterações predecessoras, conseguimos associá-la a tracks que permanecem vivas na memória popular, como “Let’s Get Loud”, “Waiting for Tonight” ou “On The Floor” – facilmente algumas de suas melhores canções; em uma tentativa de construir essa supracitada ponte entre o antes e o agora, percebemos como a performer batalha com todas as forças para escapar das obviedades. Por mais que atinja tal objetivo em alguns momentos, isso não é o suficiente para ofuscar os múltiplos equívocos (certos deles, inclusive, amadores) ao longo de treze faixas que são, pela falta de outro termo, esquecíveis.

O disco começa com a faixa-título, cujo início fabulesco, marcado pelo piano, pelas conhecidas melodias do violão e por uma inesperada flauta, logo dá espaço aos convencionalismos do R&B, em que Lopez entoa com todo o fôlego possível “esta sou eu agora”. À medida que já se volta para os primeiros anos de sua carreira, ela une-se a um grupo considerável de produtores e de compositores para falar sobre uma jornada íntima pela qual passou (“tive que curar meu coração, mas eu amo quem eu sou ultimamente”) e que dão espaço para um suave synth-trap que funciona em boa parte – por mais que logo esvaia de nossa mente conforme passamos para a próxima música.

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“To Be Yours”, segunda track do álbum, é infundida por um R&B ainda mais profundo e que oscila entre um uptempo dançante e uma semi-balada que antecipa um refrão bastante saudosista (em um estilo que nos lembra automaticamente de Mariah Carey), com variações performáticas bem práticos e movidas por uma comunhão de camadas vocais que fornece ritmo e beleza a uma construção que tinha tudo para se render ao ostracismo; porém, essas escolhas são amiudadas nas iterações seguintes, partindo de princípio similares em demasia, como acontece em “Mad in Love” ou em “not.going.anywhere”. “Broken Like Me”, apresentando uma brusca mudança de estilo ao apostar em uma acústica balada guiada pelo violão, é uma das entradas mais honestas – mas há momentos em que a entrega da artista parece desassociada do que realmente deveria acontecer, quebrando a experiência catártica que deveria promover.

Há canções que nos chamam a atenção por não se levarem a sério e, por essa razão, nos conquistarem desde as primeiras batidas. “Can’t Get Enough”, lead single promocionais do álbum, é mesclada com sagacidade à icônica “I’m Still in Love with You”, de Sean Paul e Sasha e assinada por Alton Ellis – explodindo em um sensual e dançante latin-pop que reflete o melhor de Lopez; “Hearts and Flowers” carrega um pouco mais de substância ao nos arremessar para o hip-hop do início dos anos 2000 conforme pincela a estrutura sonora com latinidades apaixonantes (além de um refrão mais sóbrio que soa mais confortável com a gama vocal de Lopez); e “Greatest Love Story Never Told”, facilmente a melhor iteração da obra e uma das mais interessantes da discografia da performer, é uma colaboração de hip-hop, R&B e boom bap que nutre de semelhanças com “Kill Bill”, de SZA, e até mesmo com a vibrante “Ain’t It Funny”, e permite que a cantora mostre-se disposta a se divertir de modo palpável e memorialístico (“vinte anos atrás, parece que o tempo congelou; estamos vivendo na maior história de amor que já foi contada”).

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‘This Is Me… Now’ soa como um projeto que não teve o tempo necessário para ser gestado como deveria. É claro que, considerando a quantidade exacerbada de compositores e produtores, o fato do álbum ser coeso é surpreendente; entretanto, essa coesão, por vezes, dá espaço para uma cíclica repetição que tira parte do brilho e que compromete nossa jornada ao lado de Lopez.

Nota por faixa:

1. This Is Me… Now – 3,5/5
2. To Be Yours – 4/5
3. Mad in Love – 3/5
4. Can’t Get Enough – 3,5/5
5. not.going.anywhere – 2,5/5
6. Rebound – 2/5
7. Dear Ben, Pt. II – 3/5
8. Hummingbird – 2/5
9. Hearts and Flowers – 4/5
10. Broken Like Me – 3/5
11. This Time Around – 1,5/5
12. Midnight Trip to Vegas – 1/5 
13. Greatest Love Story Never Told – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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