sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | ‘This Is Why’ reflete o poderoso legado de Paramore no cenário musical

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Paramore é uma das bandas de rock mais conhecidas e aclamadas do século XXI – e não é por qualquer motivo: sempre mergulhando em renovações e inovações, o grupo, liderado pela cantora Hayley Williams, caiu no gosto popular, abrindo espaço no cenário mainstream e conquistando milhares de fãs ao redor do mundo. Em 2017, Paramore lançou o álbum ‘After Laughter’, que trouxe incursões do new wave, do pop rock, do synth-pop e do power pop para uma ovacionada jornada experimental e sônica, além de deixar os ouvintes com um gostinho de quero mais. Seis anos depois, o grupo se reúne para o antecipadíssimo This Is Why, promovendo o retorno dos integrantes às raízes do rock – e já se consagrando como um dos melhores lançamentos de 2023.

Se há uma coisa que o cenário contemporâneo da música vem trazendo, é o retorno aos anos 1980 e 1990. Desde 2020, tivemos a exaltação do dance, do disco e do house em obras encabeçadas por Dua Lipa, Beyoncé e Lady Gaga – enquanto outros artistas, como Lizzo e Harry Styles, retornavam para o new wave. E é claro que Williams e seus companheiros, Taylor York e Zac Farro, aproveitariam as tendências para fazer algo parecido, mas sem abandonar os elementos que o tornaram únicos nos primeiros anos de carreira. Foi assim que surgiu o lead single titular: a ótima faixa é uma celebração do pop punk e do dance-funk, adornado com elementos do dance-pop e do rock alternativo em uma explosiva homenagem a nomes como Blondie, por exemplo. Aqui, o trio entrega uma ácida e divertida composição que fala sobre opiniões não bem-vindas e problemas com confiança acerca de outras pessoas (“um passo além da sua porta; poderia tão bem quanto estar em queda livre”) – tudo engolfado em uma poderosa mistura de bateria, baixo e guitarra. De fato, algumas rimas podem parecer datadas, mas nada que metáforas sarcásticas não resolvam os problemas.

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Além da música supracitada, o álbum também veio acompanhado de outros dois singles promocionais, por enquanto: o primeiro, intitulado “The News”, funciona como uma análise crítico-social que fala sobre a repetitividade do cotidiano e a impossibilidade de escapar dos desastres que nos rodeiam. A banda aproveita o espaço para criar uma espécie de dissociação entre o que queremos ser e o que podemos ser, bombardeados todos os dias pela necessidade de ligar as notícias e não desviar o olhar. Como se não bastasse, a canção ganha mais significado quando incrementada com a dissonância do math rock e dos urgentes acordes da guitarra.

O outro single emerge na forma de “C’est Comme Ça” e aposta no pop-punk para o que podemos apenas considerar a música mais bem escrita do álbum. O título em si, que significa “é assim”, aponta para um derradeiro conformismo social em que não há nada o que se pode fazer para mudar as coisas – principalmente quando forças maiores atuam para assegurar o status quo. Enquanto o arranjo instrumental pode deslizar em alguns momentos, é impossível desviar a atenção de uma canção que se inicia com os versos “em um ano, envelheci cem; minha vida social [é] uma consulta quiroprática”, imbuídos em um niilismo letárgico que entra em conflito com a potência da guitarra e dos vocais.

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A obra inteira é movida a discursos propositalmente contraditórios, regados a uma ironia apaixonante que nos envolve do começo ao fim. Em “Running Out of Time”, o math rock volta e se alia a um experimentalismo conceitual que parte desde o fraseamento vocal ao vibrante emplastro sonoro que não segue quaisquer regras – e que critica a efemeridade do tempo, cujo conceito foi, de fato, inventado por um capitalismo predatório que nos mantém reféns do relógio e da produtividade exacerbada. Aqui, Williams inclusive aproveita para quebrar a quarta parede em uma reflexão metalinguística, convidando o ouvinte agente ativo da própria experiência fonográfica.

Com “Big Man, Little Dignity”, somos agraciados com uma semi-balada descontruída e ecoante, que puxa elementos pontuais do chamber rock (e presta referência a Of Monsters and Men) para uma crítica a como o conceito de masculinidade prenuncia uma aceitação subjugada de tudo o que se faz (“você sabe que pode se safar de tudo, então é exatamente o que faz”). O refrão, que nos chama a atenção pela grandiosa sonoridade, deixa espaço para comentários pungentes sobre toxicidade e machismo; “You First”, retorna para o rock de ‘RIOT!’ e, apesar de não apresentar aspectos novos, nos conquista pelo caráter narcótico e saudosista, bem como por uma lírica que discorre sobre carma e sobre a constante luta dos dois lados da psique humana (“acontece que estou vivendo em um filme de terror, em que sou tanto o assassino quanto a sobrevivente”).

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Conforme nos aproximamos do final da produção, pérolas como a impecável balada alternativa “Liar” ou as antêmicas “Crave” e “Thick Skull” ganham força e nos fazem já querer recomeçar o álbum. E é dessa forma que This Is Why emerge como uma das melhores entradas da discografia de Paramore, reafirmando o icônico status que a banda teve e continua a ter mesmo anos depois de terem surgido no cenário musical.

Nota por faixa:

1. This Is Why – 4,5/5
2. The News – 4,5/5
3. Running Out of Time – 5/5
4. C’est Comme Ça – 4,5/5
5. Big Man, Little Dignity – 4/5
6. You First – 5/5
7. Figure 8 – 4,5/5
8. Liar – 5/5
9. Crave – 5/5
10. Thick Skull – 5/5 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Se há uma coisa que o cenário contemporâneo da música vem trazendo, é o retorno aos anos 1980 e 1990. Desde 2020, tivemos a exaltação do dance, do disco e do house em obras encabeçadas por Dua Lipa, Beyoncé e Lady Gaga – enquanto outros artistas, como Lizzo e Harry Styles, retornavam para o new wave. E é claro que Williams e seus companheiros, Taylor York e Zac Farro, aproveitariam as tendências para fazer algo parecido, mas sem abandonar os elementos que o tornaram únicos nos primeiros anos de carreira. Foi assim que surgiu o lead single titular: a ótima faixa é uma celebração do pop punk e do dance-funk, adornado com elementos do dance-pop e do rock alternativo em uma explosiva homenagem a nomes como Blondie, por exemplo. Aqui, o trio entrega uma ácida e divertida composição que fala sobre opiniões não bem-vindas e problemas com confiança acerca de outras pessoas (“um passo além da sua porta; poderia tão bem quanto estar em queda livre”) – tudo engolfado em uma poderosa mistura de bateria, baixo e guitarra. De fato, algumas rimas podem parecer datadas, mas nada que metáforas sarcásticas não resolvam os problemas.

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Além da música supracitada, o álbum também veio acompanhado de outros dois singles promocionais, por enquanto: o primeiro, intitulado “The News”, funciona como uma análise crítico-social que fala sobre a repetitividade do cotidiano e a impossibilidade de escapar dos desastres que nos rodeiam. A banda aproveita o espaço para criar uma espécie de dissociação entre o que queremos ser e o que podemos ser, bombardeados todos os dias pela necessidade de ligar as notícias e não desviar o olhar. Como se não bastasse, a canção ganha mais significado quando incrementada com a dissonância do math rock e dos urgentes acordes da guitarra.

O outro single emerge na forma de “C’est Comme Ça” e aposta no pop-punk para o que podemos apenas considerar a música mais bem escrita do álbum. O título em si, que significa “é assim”, aponta para um derradeiro conformismo social em que não há nada o que se pode fazer para mudar as coisas – principalmente quando forças maiores atuam para assegurar o status quo. Enquanto o arranjo instrumental pode deslizar em alguns momentos, é impossível desviar a atenção de uma canção que se inicia com os versos “em um ano, envelheci cem; minha vida social [é] uma consulta quiroprática”, imbuídos em um niilismo letárgico que entra em conflito com a potência da guitarra e dos vocais.

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Com “Big Man, Little Dignity”, somos agraciados com uma semi-balada descontruída e ecoante, que puxa elementos pontuais do chamber rock (e presta referência a Of Monsters and Men) para uma crítica a como o conceito de masculinidade prenuncia uma aceitação subjugada de tudo o que se faz (“você sabe que pode se safar de tudo, então é exatamente o que faz”). O refrão, que nos chama a atenção pela grandiosa sonoridade, deixa espaço para comentários pungentes sobre toxicidade e machismo; “You First”, retorna para o rock de ‘RIOT!’ e, apesar de não apresentar aspectos novos, nos conquista pelo caráter narcótico e saudosista, bem como por uma lírica que discorre sobre carma e sobre a constante luta dos dois lados da psique humana (“acontece que estou vivendo em um filme de terror, em que sou tanto o assassino quanto a sobrevivente”).

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Nota por faixa:

1. This Is Why – 4,5/5
2. The News – 4,5/5
3. Running Out of Time – 5/5
4. C’est Comme Ça – 4,5/5
5. Big Man, Little Dignity – 4/5
6. You First – 5/5
7. Figure 8 – 4,5/5
8. Liar – 5/5
9. Crave – 5/5
10. Thick Skull – 5/5 

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