domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica Tiff | Blackbird – Kate Winslet e Susan Sarandon em um dos MELHORES filmes de 2019

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Uma das maiores dádivas divinas, a família é também um dos alicerces sociais mais conflitantes. Composta por percepções distintas sobre a vida, ela é uma constante colisão de escolhas, personalidades, caráter e decisões. E como um ambiente absurdamente intimista e – muitas vezes – intimidador, é nela onde nascem nossas frustrações, traumas e decisões futuras mais impactantes – ainda que só venhamos a tomar ciência disso quase tarde demais. Essa intensa espiral cheia de epifanias emocionais e mentais, anseios e angústias é o que torna Blackbird uma surpresa estarrecedora. Trazendo o relato de uma mãe e esposa que decidiu dar o seu adeus antes do tempo em virtude de uma doença degenerativa, o drama de Roger Michell é uma imersão emocional na vida familiar, nos proporcionando uma experiência sinestésica caótica, tamanha sua profundidade.

Assim como na vida vamos do riso às lágrimas em fração de segundos, Blackbird não ousa se aquietar em um único gênero e traz uma narrativa dramática agridoce, adocicada pelo humor natural de uma família que – entre as tretas internas – sabe se divertir por sua enorme intimidade. Apresentando inicialmente o longa como uma comédia dramática, o filme se transforma ao longo de seus acontecimentos, tirando o humor caricato do centro da trama, o posicionando nas extremidades, a fim de gerar alguns picos de leveza. Abordando um tema polêmico e contraditório, a versão americana do filme dinamarquês Silent Heart entende a complexidade de sua temática e faz do equilíbrio entre gêneros díspares sua cartada certeira para falar da eutanásia e do direito à morte – assunto tão evitado em qualquer contexto social.



Ao explorar as sensações que regem um fim de semana familiar, que marca a despedida da matriarca Lily (Susan Sarandon) daqueles que a amam, Roger Michell entrega uma direção pautada pelo ritmo de seus próprios protagonistas. Criando e nos absorvendo a uma atmosfera familiar extremamente  intimista, sua técnica aqui é um pouco mais invasiva e trabalha o foco com precisão, destacando os olhares do trio de protagonistas, que ainda conta com a vencedora do Oscar Kate Winslet e Mia Wasikowska. Sensível e doce, seu trabalho em Blackbird se distingue a plenos pulmões de seus trabalhos passados, como Um Lugar Chamado Notting Hill. Com um estilo mais poético e simbólico, o cineasta desenvolve um filme envolvente e hipnotizante, que nos leva à difícil jornada da inevitável despedida em meio a uma enfermidade fatal.

Com atuações soberbas que destacam mais ainda o potencial artístico de Winslet, Blackbird acaba sendo sendo dominado exatamente por sua intensidade comportamental, que transita entre a ira, o amargor, a dúvida e a resistência em cenas cativantes. Como o fio condutor da narrativa, a atriz assume o protagonismo mesmo em um papel coadjuvante, ajudando ainda a fortalecer a bela atuação de Sarandon, que parece caminhar em direção a uma possível indicação ao Oscar, ao lado de sua filha fictícia. Em contrastes a cada momento, a dinâmica entre a dupla nas telonas é autêntica e palpável, promovendo uma deliciosa e dolorosa imersão que rende boas risadas e lágrimas incontroláveis e irreversíveis.

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Com um roteiro assinado por Christian Torpe, o mesmo responsável pela versão original, Blackbird é o equilíbrio impecável entre o humor e o drama, indo além de tantas outras produções que já permearam ambos os gêneros de maneira gloriosa. Dosando as características fundamentais dos dois estilos, ele estabelece uma delicadeza imensurável no ato de contar sua história, fazendo uma leitura emocional e mental do comportamento dos personagens diante da eutanásia, com um timing meticuloso que nivela o humor a fim de propiciar um ambiente confortável para o público, sabendo adentrar com o drama em um assunto irreverente e completamente conflitante.

Se eximindo da responsabilidade de tomar um lado quanto à adesão da eutanásia, Torpe e Michell contam a história de Lily e de sua família por uma ótica externa, como a de quem compartilha um conto ouvido no passado. Ainda que a decisão da matriarca predomine sobre o caos gerado por sua escolha, ambos se despem de observações pessoais que poderiam se tornar inconvenientes e intimidadoras, permitindo que a própria audiência tome seu posicionamento quanto ao assunto, sem sentir qualquer constrangimento pelo drama familiar fictício. Abordando a narrativa pela complexidade relacional no ambiente familiar, Blackbird vai além da eutanásia e mostra – com franqueza e riqueza – o quão interdependentes somos uns dos outros. Nos levando a uma aventura com emoções diversas e adversas, a produção vai do choro ao riso frouxo, nos deixando ao final à deriva, com um sentimento de pertencimento inesperado e um vazio difícil de preencher. 

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Assim como na vida vamos do riso às lágrimas em fração de segundos, Blackbird não ousa se aquietar em um único gênero e traz uma narrativa dramática agridoce, adocicada pelo humor natural de uma família que – entre as tretas internas – sabe se divertir por sua enorme intimidade. Apresentando inicialmente o longa como uma comédia dramática, o filme se transforma ao longo de seus acontecimentos, tirando o humor caricato do centro da trama, o posicionando nas extremidades, a fim de gerar alguns picos de leveza. Abordando um tema polêmico e contraditório, a versão americana do filme dinamarquês Silent Heart entende a complexidade de sua temática e faz do equilíbrio entre gêneros díspares sua cartada certeira para falar da eutanásia e do direito à morte – assunto tão evitado em qualquer contexto social.

Ao explorar as sensações que regem um fim de semana familiar, que marca a despedida da matriarca Lily (Susan Sarandon) daqueles que a amam, Roger Michell entrega uma direção pautada pelo ritmo de seus próprios protagonistas. Criando e nos absorvendo a uma atmosfera familiar extremamente  intimista, sua técnica aqui é um pouco mais invasiva e trabalha o foco com precisão, destacando os olhares do trio de protagonistas, que ainda conta com a vencedora do Oscar Kate Winslet e Mia Wasikowska. Sensível e doce, seu trabalho em Blackbird se distingue a plenos pulmões de seus trabalhos passados, como Um Lugar Chamado Notting Hill. Com um estilo mais poético e simbólico, o cineasta desenvolve um filme envolvente e hipnotizante, que nos leva à difícil jornada da inevitável despedida em meio a uma enfermidade fatal.

Com atuações soberbas que destacam mais ainda o potencial artístico de Winslet, Blackbird acaba sendo sendo dominado exatamente por sua intensidade comportamental, que transita entre a ira, o amargor, a dúvida e a resistência em cenas cativantes. Como o fio condutor da narrativa, a atriz assume o protagonismo mesmo em um papel coadjuvante, ajudando ainda a fortalecer a bela atuação de Sarandon, que parece caminhar em direção a uma possível indicação ao Oscar, ao lado de sua filha fictícia. Em contrastes a cada momento, a dinâmica entre a dupla nas telonas é autêntica e palpável, promovendo uma deliciosa e dolorosa imersão que rende boas risadas e lágrimas incontroláveis e irreversíveis.

Com um roteiro assinado por Christian Torpe, o mesmo responsável pela versão original, Blackbird é o equilíbrio impecável entre o humor e o drama, indo além de tantas outras produções que já permearam ambos os gêneros de maneira gloriosa. Dosando as características fundamentais dos dois estilos, ele estabelece uma delicadeza imensurável no ato de contar sua história, fazendo uma leitura emocional e mental do comportamento dos personagens diante da eutanásia, com um timing meticuloso que nivela o humor a fim de propiciar um ambiente confortável para o público, sabendo adentrar com o drama em um assunto irreverente e completamente conflitante.

Se eximindo da responsabilidade de tomar um lado quanto à adesão da eutanásia, Torpe e Michell contam a história de Lily e de sua família por uma ótica externa, como a de quem compartilha um conto ouvido no passado. Ainda que a decisão da matriarca predomine sobre o caos gerado por sua escolha, ambos se despem de observações pessoais que poderiam se tornar inconvenientes e intimidadoras, permitindo que a própria audiência tome seu posicionamento quanto ao assunto, sem sentir qualquer constrangimento pelo drama familiar fictício. Abordando a narrativa pela complexidade relacional no ambiente familiar, Blackbird vai além da eutanásia e mostra – com franqueza e riqueza – o quão interdependentes somos uns dos outros. Nos levando a uma aventura com emoções diversas e adversas, a produção vai do choro ao riso frouxo, nos deixando ao final à deriva, com um sentimento de pertencimento inesperado e um vazio difícil de preencher. 

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