domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica TIFF | Lucy in The Sky: Natalie Portman transita entre a apatia e o vigor em cinebiografia

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Filme Assistido durante o Festival de Toronto 2019

É natural que, em se tratando do gênero sci-fi, o desconhecido para o além-terra desperte o interesse de Hollywood. Mundos ainda não explorados, realidades distantes da maioria de nós e o fascínio pela existência de vida em outros planetas é o que torna filmes como Ad Astra, Gravidade e Interestelar um sonho inebriante, regado de efeitos visuais e teorias científicas. Mas Lucy in The Sky destoa entre as produções citadas, optando por um desvio interessante em sua narrativa, que faz da descoberta espacial uma espécie de background para relatar uma história muito mais profunda e densa do que a possível descoberta de vida além das fronteiras terrestres. Explorando os flagelos e resquícios que ficam na mente de um tripulante espacial, a cinebiografia conta a história de sua personagem homônima a partir de um campo gravitacional onde crises existenciais e de identidade chocam entre si, como asteroides em rota de colisão com a Terra.



Lucy in The Sky possui um potencial enorme. Explorando a essência da viagem espacial apenas em seus primeiros 10 minutos, a produção logo de cara se apresenta como um tipo de aftermath, uma trama que visa contar quais os reflexos que uma experiência tão surreal como essa gera na mente de um astronauta. São raras as vezes que o contato com o espaço é explorado a partir da psique humana e nessas poucas vezes, nem sempre há ambiente fértil para a profundidade. Centralizando-se no impactos da viagem em si, longas como Apollo 13 e Armageddon exploram a curiosidade do tema, mantendo-se um tanto perene em questões mais conflitantes. E nesse aspecto, a cinebiografia dirigida por Noah Hawley acerta bem. Ao tentar nos levar para a mente da problemática protagonista, vivida por Natalie Portman, o longa nos convida a uma jornada diferente e – invariavelmente – desconfortável. No entanto, seu ritmo divaga demais em seus pensamentos e confusões, tornando a trama prolixa e até mesmo exaustiva em seus dois primeiros atos.

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Com um roteiro que centraliza-se exageradamente nos tumultos comportamentais de Lucy Cola, a produção acaba se arrastando em boa parte de seu tempo de tela. Dirigido com leveza, mas sem surpresas, o drama não se sobressalta em sua tecnicidade, mas sabe explorar a beleza da atuação de Portman, que mais um vez cumpre com seu papel de nos presentear com uma grande caracterização (ainda que ela não seja tão catártica e hipnotizante como em seus trabalhos em Cisne Negro e Jackie). Em uma tentativa frágil de promover uma empatia entre a audiência e a protagonista, que adota medidas drásticas mediante suas complicações mentais, a cinebiografia peca por não saber construir esse vínculo emocional e ao insistir demais, se perde em um enredo que beira o repetitivo, demora para caminhar e quando o faz, é lento demais para cativar o público.

Mesmo assim, Lucy in The Sky não é uma experiência cinematográfica totalmente perdida. Ainda que seja um tanto mediana – não atingindo seu potencial psicológico e emocional completo -, ela é capaz de crescer a partir do final de sua segunda metade, quando finalmente a protagonista imerge em seus turbulentos pensamentos e entra em pleno colapso mental. Desse instante em diante, Portman começa a vidrar a audiência em seus olhos sempre marejados e perplexos e a aquela tenra identificação com o público começa a brotar, ainda que tarde a florescer. Com sua trama se intensificando em um ritmo mais acelerado à medida que o clímax se aproxima, o sentimento de tédio é substituído por uma doce angústia, que infelizmente rapidamente se aquieta em virtude dos acontecimentos seguintes. Com uma fotografia que tem seus breves momentos de destaque, fazendo um contraste entre as emoções da personagem e as luzes noturnas artificiais da cidade, o filme é uma promessa que não se cumpriu em sua totalidade, mas não chega a ser um caso perdido.

Navegando entre a apatia e a vitalidade, a cinebiografia roteirizada por Brian C. Brown e Elliott DiGuiseppi conta com um elenco grandioso, composto por Jon Hamm, Zazzie Beetz e Dan Stevens, que passam despercebidos a maior parte do tempo (exceto pelo carisma e charme gritantes de Hamm, que nunca cansam de roubar a cena). Explorando de maneira efêmera os seus demais coadjuvantes, Lucy in The Sky se encerra como uma jornada mental e emocional extremamente perene, quase consegue cativar a audiência em seus minutos finais, mas infelizmente já é tarde demais para ser devidamente lembrada. Se perdendo em uma estante empoerada ao lado de outros longas do gênero que sequer fazem cócegas na alma da audiência, o longa é – infelizmente – tão indiferente e indistinto como a verdadeira história da astronauta Lisa Nowak.

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Lucy in The Sky possui um potencial enorme. Explorando a essência da viagem espacial apenas em seus primeiros 10 minutos, a produção logo de cara se apresenta como um tipo de aftermath, uma trama que visa contar quais os reflexos que uma experiência tão surreal como essa gera na mente de um astronauta. São raras as vezes que o contato com o espaço é explorado a partir da psique humana e nessas poucas vezes, nem sempre há ambiente fértil para a profundidade. Centralizando-se no impactos da viagem em si, longas como Apollo 13 e Armageddon exploram a curiosidade do tema, mantendo-se um tanto perene em questões mais conflitantes. E nesse aspecto, a cinebiografia dirigida por Noah Hawley acerta bem. Ao tentar nos levar para a mente da problemática protagonista, vivida por Natalie Portman, o longa nos convida a uma jornada diferente e – invariavelmente – desconfortável. No entanto, seu ritmo divaga demais em seus pensamentos e confusões, tornando a trama prolixa e até mesmo exaustiva em seus dois primeiros atos.

Com um roteiro que centraliza-se exageradamente nos tumultos comportamentais de Lucy Cola, a produção acaba se arrastando em boa parte de seu tempo de tela. Dirigido com leveza, mas sem surpresas, o drama não se sobressalta em sua tecnicidade, mas sabe explorar a beleza da atuação de Portman, que mais um vez cumpre com seu papel de nos presentear com uma grande caracterização (ainda que ela não seja tão catártica e hipnotizante como em seus trabalhos em Cisne Negro e Jackie). Em uma tentativa frágil de promover uma empatia entre a audiência e a protagonista, que adota medidas drásticas mediante suas complicações mentais, a cinebiografia peca por não saber construir esse vínculo emocional e ao insistir demais, se perde em um enredo que beira o repetitivo, demora para caminhar e quando o faz, é lento demais para cativar o público.

Mesmo assim, Lucy in The Sky não é uma experiência cinematográfica totalmente perdida. Ainda que seja um tanto mediana – não atingindo seu potencial psicológico e emocional completo -, ela é capaz de crescer a partir do final de sua segunda metade, quando finalmente a protagonista imerge em seus turbulentos pensamentos e entra em pleno colapso mental. Desse instante em diante, Portman começa a vidrar a audiência em seus olhos sempre marejados e perplexos e a aquela tenra identificação com o público começa a brotar, ainda que tarde a florescer. Com sua trama se intensificando em um ritmo mais acelerado à medida que o clímax se aproxima, o sentimento de tédio é substituído por uma doce angústia, que infelizmente rapidamente se aquieta em virtude dos acontecimentos seguintes. Com uma fotografia que tem seus breves momentos de destaque, fazendo um contraste entre as emoções da personagem e as luzes noturnas artificiais da cidade, o filme é uma promessa que não se cumpriu em sua totalidade, mas não chega a ser um caso perdido.

Navegando entre a apatia e a vitalidade, a cinebiografia roteirizada por Brian C. Brown e Elliott DiGuiseppi conta com um elenco grandioso, composto por Jon Hamm, Zazzie Beetz e Dan Stevens, que passam despercebidos a maior parte do tempo (exceto pelo carisma e charme gritantes de Hamm, que nunca cansam de roubar a cena). Explorando de maneira efêmera os seus demais coadjuvantes, Lucy in The Sky se encerra como uma jornada mental e emocional extremamente perene, quase consegue cativar a audiência em seus minutos finais, mas infelizmente já é tarde demais para ser devidamente lembrada. Se perdendo em uma estante empoerada ao lado de outros longas do gênero que sequer fazem cócegas na alma da audiência, o longa é – infelizmente – tão indiferente e indistinto como a verdadeira história da astronauta Lisa Nowak.

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