quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Uma Vida Oculta – Novo filme de Terrence Malick é belo, mas prolixo demais

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Filme Assistido durante o Festival de Toronto 2019

Despertando sentimentos dúbios e conflitantes, as narrativas de Terrence Malick extrapolam as palavras. Exageradamente sinestésicas e emotivas, elas trazem a peculiaridade de um cineasta absolutamente autoral, que internaliza suas tramas em complexas sensações indescritíveis demais para serem transcritas para o papel ou em diálogos enfadonhos. É essa essência que nos absorve e nos confunde em seus filmes. Ora o amamos, ora estamos exaustos dele. Talvez Malick esteja à frente de seu tempo e seus longas sejam devidamente percebidos apenas em um futuro distinto. Independente disso, é inegável o encantamento de suas histórias. Como alguém que insiste em nos trazer para dentro da sua psique e de sua compreensão sobre a vida, ele segue incansável e após um hiato de dois anos retorna com  ‘Uma Vida Oculta‘ (A Hidden Life), uma carta de amor aos heróis anônimos. 



Se não fosse por Malick, a narrativa de Franz Jägerstätter permaneceria como um fragmento na história pouco ou nada conhecido. Mas buscando honrar a dignidade desse fazendeiro comum que se negou a lutar pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, ele projeta os holofotes em uma jornada onde mais do que nunca distingue-se a fé e a religião. Aqui, August Diehl dá vida a este homem que travou uma guerra sozinho, desamparado da instituição religiosa que – teoricamente – deveria reger os princípios morais sociais, defendendo a integridade de um povo que era dizimado em ritmo acelerado. Se posicionando contra o Führer, ele viu sua família perecer diante da rejeição da comunidade a qual pertenceu, à medida que definhou entre o abandono e a injustiça por fazer a escolha certa.

Como um exército de um homem só, Malick apresenta Jägerstätter como sendo a linha tênue que separa os silogismos religiosos e a consolidação de um caráter genuinamente justo, a partir dos princípios bíblicos. Fazendo ainda um contraste com a corrupção da igreja católica, que se eximiu de sua própria responsabilidade sócio espiritual, a produção entrega um roteiro predominantemente cativante, que se expressa na linguagem corporal de seus personagens, na intensidade de suas reações à vida e na escolha de ângulos de câmera que se transformam em uma extensão das atuações. Seguindo o estilo que o consagrou ao redor do mundo por sua autenticidade, o cineasta repete sua própria fórmula de maneira ainda mais poética, trazendo uma fotografia encantadora, que faz dos vales e das montanhas parte de sua história.

Entregando uma produção que – necessariamente – precisa ser percebida e sentida, Malick peca por desviar-se de seu foco e mais uma vez exagerar em sua própria trama, fazendo do tempo uma das suas maiores adversidades. Se estendendo demais no miolo da produção, ‘Uma Vida Ocultadistrai a atenção da audiência, ao paralisar o andamento da narrativa com cenas supérfluas e repetitivas, que reiteram o delicado quadro jurídico do protagonista. Tornando-se cansativo, o longa é prolixo e beira o maçante em seu segundo ato, retomando seu fôlego apenas nos instantes finais do drama. 

Belo e peculiar à sua maneira, Uma Vida Oculta é mais uma daquelas obras conflitantes de Malick, que nos leva a uma percepção mais madura sobre o ato de contar histórias, à medida que exaure nossa compreensão intelectual cinematográfica por sua dificuldade de se ater ao roteiro de maneira mais contrita e concisa. Ainda assim, a cinebiografia não perde seu valor, sendo também uma obra de arte visual sobre o arquétipo do herói comum, intercalando as belas atuações de Diehl e Valerie Pachner, com takes que exalam a beleza e a simplicidade do cotidiano em paisagens bucólicas estonteantes.

Delicado e profundo, Uma Vida Oculta é um relato da vida de um homem comum, porém, extraordinário, em meio aos frangalhos de uma instituição religiosa moralmente fracassada. Longo demais para o desfrute público geral, o filme se firma como uma homenagem àqueles que jamais conhecemos, mas à sua maneira fizeram a diferença.

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Despertando sentimentos dúbios e conflitantes, as narrativas de Terrence Malick extrapolam as palavras. Exageradamente sinestésicas e emotivas, elas trazem a peculiaridade de um cineasta absolutamente autoral, que internaliza suas tramas em complexas sensações indescritíveis demais para serem transcritas para o papel ou em diálogos enfadonhos. É essa essência que nos absorve e nos confunde em seus filmes. Ora o amamos, ora estamos exaustos dele. Talvez Malick esteja à frente de seu tempo e seus longas sejam devidamente percebidos apenas em um futuro distinto. Independente disso, é inegável o encantamento de suas histórias. Como alguém que insiste em nos trazer para dentro da sua psique e de sua compreensão sobre a vida, ele segue incansável e após um hiato de dois anos retorna com  ‘Uma Vida Oculta‘ (A Hidden Life), uma carta de amor aos heróis anônimos. 

Se não fosse por Malick, a narrativa de Franz Jägerstätter permaneceria como um fragmento na história pouco ou nada conhecido. Mas buscando honrar a dignidade desse fazendeiro comum que se negou a lutar pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, ele projeta os holofotes em uma jornada onde mais do que nunca distingue-se a fé e a religião. Aqui, August Diehl dá vida a este homem que travou uma guerra sozinho, desamparado da instituição religiosa que – teoricamente – deveria reger os princípios morais sociais, defendendo a integridade de um povo que era dizimado em ritmo acelerado. Se posicionando contra o Führer, ele viu sua família perecer diante da rejeição da comunidade a qual pertenceu, à medida que definhou entre o abandono e a injustiça por fazer a escolha certa.

Como um exército de um homem só, Malick apresenta Jägerstätter como sendo a linha tênue que separa os silogismos religiosos e a consolidação de um caráter genuinamente justo, a partir dos princípios bíblicos. Fazendo ainda um contraste com a corrupção da igreja católica, que se eximiu de sua própria responsabilidade sócio espiritual, a produção entrega um roteiro predominantemente cativante, que se expressa na linguagem corporal de seus personagens, na intensidade de suas reações à vida e na escolha de ângulos de câmera que se transformam em uma extensão das atuações. Seguindo o estilo que o consagrou ao redor do mundo por sua autenticidade, o cineasta repete sua própria fórmula de maneira ainda mais poética, trazendo uma fotografia encantadora, que faz dos vales e das montanhas parte de sua história.

Entregando uma produção que – necessariamente – precisa ser percebida e sentida, Malick peca por desviar-se de seu foco e mais uma vez exagerar em sua própria trama, fazendo do tempo uma das suas maiores adversidades. Se estendendo demais no miolo da produção, ‘Uma Vida Ocultadistrai a atenção da audiência, ao paralisar o andamento da narrativa com cenas supérfluas e repetitivas, que reiteram o delicado quadro jurídico do protagonista. Tornando-se cansativo, o longa é prolixo e beira o maçante em seu segundo ato, retomando seu fôlego apenas nos instantes finais do drama. 

Belo e peculiar à sua maneira, Uma Vida Oculta é mais uma daquelas obras conflitantes de Malick, que nos leva a uma percepção mais madura sobre o ato de contar histórias, à medida que exaure nossa compreensão intelectual cinematográfica por sua dificuldade de se ater ao roteiro de maneira mais contrita e concisa. Ainda assim, a cinebiografia não perde seu valor, sendo também uma obra de arte visual sobre o arquétipo do herói comum, intercalando as belas atuações de Diehl e Valerie Pachner, com takes que exalam a beleza e a simplicidade do cotidiano em paisagens bucólicas estonteantes.

Delicado e profundo, Uma Vida Oculta é um relato da vida de um homem comum, porém, extraordinário, em meio aos frangalhos de uma instituição religiosa moralmente fracassada. Longo demais para o desfrute público geral, o filme se firma como uma homenagem àqueles que jamais conhecemos, mas à sua maneira fizeram a diferença.

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