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JE SUIS TIMBUKTU
Por que assistir a um filme de um país tão distante de nós, quanto a Mauritânia? Apenas por ter sido indicado ao Oscar de filme em língua estrangeiro (o primeiro da Mauritânia)? É a motivação mais comum. Vê-lo também por ser uma boa produção e para entrar em contato com uma cinematografia diferente do circuitão seriam outros dois bons motivos. Mas, Timbuktu (Timbuktu) possui uma urgência. Vê-lo é quase um ato de “consciência social” – nota à margem: oh!, expressão brega…
E por que seria um gesto de humanidade assistir Timbuktu? O diretor e co-roteirista Abderrahmane Sissako focou sua câmera no drama de cidades que sofrem com o terrorismo islâmico. Em tempo de atentados a cartunistas e atrocidades semanais cometidas pelos transloucados do Estado Islâmico, fica evidente o porquê.
A primeira parte do filme mantém dois eixos narrativos: no primeiro, a cidade de Timbuktu, no Mali, já dominada pelos Jihadistas; no segundo, a família de Kidane (Ibrahim Ahmed), um criador de gado que vive isolado na zona desértica próxima da cidade. Na cidade, acompanhamos a imposição de uma rotina de terror e repressão aos moradores. No deserto, a vida tranquila e integrada à natureza da família de Kidane, até sua dissipação, após ele, em uma briga, mata um pescador.
Comparado com as atrocidades do Estado Islâmico que vemos no noticiário, o filme pode ser pouco violento – o que não quer dizer que ele seja leve. O que Timbuktu traz de diferente é o foco. Se no noticiário vemos estrangeiros sequestrados sendo mortos, no filme vemos como a população desses locais sofre nas mãos desses maníacos. Também expõe as contradições no interior do próprio islã, especialmente nos diálogos entre os radicais e um religioso moderado.
Timbuktu permite uma visão mais ampla do problema. Terroristas como aqueles que invadiram a redação do jornal Charlie Hebdo não afetam apenas a vida em países do ocidente, nem se opõem apenas à nossa liberdade de expressão. Eles também tornam a vida de pessoas que comungam da mesma religião um inferno.
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Pessoalmente não gosto de slogans para fazer política. Seja um “Somos Todos Amarildo” ou “Je Suis Charlie” sempre me soou um tanto cafona, algo que reduz a dimensão das tragédias e que serve apenas para promover as subraças dos políticos e dos ongueiros oportunistas. Mas, fazendo um esforço, e indo além, se “Somos Todos Amarildo” for de fato uma crítica à violência brasileira, se “Je Suis Charlie” for realmente uma defesa da liberdade de expressão e crítica ao terrorismo, então também me estimulo a acrescentar um “Je Suis Timbuktu”, como a lembrança de que o terror é devastador também em terras islâmicas.