Samantha Schmütz já se firmou no gênero da comédia. Desde que conquistou seu espaço no programa ‘Vai Que Cola’, o público se acostumou a vê-la interpretando o papel da jovem mulher pobre e deslumbrada, que sonha em ter um estilo de vida superior à sua capacidade de se sustentar. Esta provavelmente foi a razão do primeiro ‘Tô Ryca!’ ter feito tanto sucesso nos cinemas e, posteriormente, na tv. Porém, ao contrário do que se pode esperar, a piada fácil ganha um tom mais sério em ‘Tô Ryca! 2’, que chega hoje aos cinemas nacionais e vai emocionar o espectador em muitas maneiras.
Selminha (Samantha Schmütz) ama ser rica, e ainda desfruta muito bem da herança que ganhou do tio misterioso. Porém, a chegada de uma homônima (Evelyn Castro), com o mesmo nome e sobrenome da outra, irá colocar o direito à herança em juízo, e, até que a justiça decida, Selminha terá seus bens bloqueados. Isso significa que, de um dia para o outro, ela voltará a ser pobre, e aprenderá, na marra, que dinheiro não é tudo na vida, embora ajude em muito a melhorar as condições das pessoas.
O principal diferencial no roteiro de Fil Braz é a mudança no foco da comédia: ao contrário do estilo Caco Antibes, tão propagado ao longo das décadas aqui no Brasil – o estilo de comédia que aponta e ri do pobre –, ‘Tô Ryca! 2’ não quer rir do seu público-alvo, mas com ele. A ideia aqui não é mais rir do pobre enquanto objeto de comicidade, mas de estar junto com ele e rir da desgraça coletiva que atinge as camadas sociais mais vulneráveis da população, aplaudindo a capacidade do cidadão de se virar todos os dias apesar de ser esquecido pelos governos.
Essa mudança no eixo da história da protagonista faz toda a diferença para que a jornada de Selminha não caia na cansativa fórmula de continuação de franquias e abre a possibilidade do filme se tornar um grande concorrente de bilheteria. Fil Braz constrói uma história que faz com que a protagonista ganhe uma consciência crítica sobre a sociedade, perca um pouco do deslumbre e, consequentemente, apresente uma profundidade muito mais interessante dessa vez, que não ocorre no primeiro longa. Há, ainda, uma consciente e bela inserção da cabelereira (Wallie Ruy), mostrando a atenção da produção em inserir, de maneira orgânica, personagens trans e LGTBQIA+ num filme de grande alcance.
Pedro Antônio Paes se mostra firme na direção, especialmente por conseguir extrair o melhor de Samantha Schmütz, muito natural nas situações em que sua personagem se encontra. Por outro lado, o argumento do longa é bem fraquinho, e todo o núcleo da Selminha fake parece não ter recebido a mesma atenção dos assistentes, com cenas picotadas que entram repentinamente no longa e atuações caricatas que destoam da naturalidade do resto da produção, ao ponto de um ninja vestido de preto passar correndo no segundo andar da casa na cena do choque elétrico, e ninguém ter se atentado a esse erro.
O que é bom mesmo é que Samantha Schmütz chama a responsabilidade para si e emplaca um golão com ‘Tô Ryca! 2’. Com ótimas piadas e um tom extremamente crítico aos governantes que ignoram as populações pobres, o longa se afasta do estilo genérico de boa parte das comédias nacionais e se comunica diretamente com o espectador, dizendo a ele que entende sua luta para sobreviver, apesar dos inúmeros percalços da vida. Samantha está de parabéns por entender isso e passar o recado para o espectador, resgatando a função crítica que a comédia tinha, mas que havia perdido em prol do entretenimento besteirol.