quarta-feira , 27 novembro , 2024

Crítica | Todas as Estradas Têm Gosto de Sal – O Filme Poético da A24

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A produtora A24 tem solidificado seu nome mundialmente com uma trajetória de filmes de terror de sucesso. Dentre seu glorioso catálogo estão sucessos de público e de crítica como ‘Corra!’, ‘Herege’, ‘MaXXXine’, ‘Anora’ e ‘Guerra Civil’. Todos eles, cada um a seu modo, têm elementos em comum: uma narrativa ágil, plot twists inesperados, muita argumentação que deixa o público boquiaberto. Indo na contramão de tudo isso, a A24 lançou no circuito exibidor o longa ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’.

Pessoa segurando criança em jardim arborizado.

Ao longo de noventa e dois minutos de duração, acompanhamos a jovem Mack (Kaylee Nicole Johnson), uma menina negra que, como tantas outras, tem sonhos para o futuro e passa seus dias entre amigos, brincando de se provicarem numa província pequena no sul do Mississipi, nos Estados Unidos, em algum momento do início do século passado. Ao mesmo tempo, também acompanhamos Evelyn (Sheila Atim), enquanto ela dá luz a seu bebê. No meio dessas histórias, acompanhamos as mutações da água.

Longa de estreia da poeta, fotógrafa e cineasta Raven Jackson, todas essas habilidades da realizadora são exploradas no filme – e são exatamente os pontos que se destacam na produção. A fotografia é o principal condutor narrativo em ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’, manejando a câmera por ângulos inesperados como quem tenta mesmo captar um momento, um frame na vida desses personagens. Para tal, há um verdadeiro desfile de planos abertos longuíssimos, em que os personagens nem sequer se mexem ou falam. Há takes de close em detalhes da produção (uma mão, uma folha de árvore), elevando o lirismo da poética da realizadora ao máximo, que busca exprimir em imagens toda a angústia de um poeta.

Casa pegando fogo, pessoas observam de longe

Desse modo, ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’ se torna um filme bastante experimental, com uma linguagem poética que convida o grande público a entrar na vida desse núcleo de pessoas ribeirinhas do Delta ao longo de décadas, que são exibidas de maneira não linear. Em outras palavras, o espectador precisa ficar bastante atento para acompanhar a história, composta por pouquíssimos diálogos.

O roteiro, também redigido pela diretora, é alternativo, ou seja, ele fica alternando o protagonismo, o tempo, a época. Hora estamos com uma Mackenzie jovem e cheia de sonhos, hora saltamos para um futuro em que Mack já é uma mulher madura que atravessou alguns maus bocados na vida. Enxuto, o roteiro mais parece uma orientação de filmagem set, e não tanto uma narração de história. Em cima disso, a diretora se prolonga em demasia em muitas das cenas, o que acaba passando certa sensação de que o longa poderia ter sido um curta, dada a ausência de elementos no seu enredo. Por outro lado, a estética da produção é um primor aos olhos do cinéfilo que busca um filme sem tanta luz e explosão.

Bem distante de tudo que a A24 produz ou lança e com uma roupagem de filme independente, ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’ apresenta-se como um ensaio fotográfico de uma hora e meia de duração, com tales longos demais e pouca história. Um filme bonito e experimental, que abre outra vertente para a famosa produtora de terror.

Pessoa olhando no espelho em cômodo iluminado

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Pessoa segurando criança em jardim arborizado.

Ao longo de noventa e dois minutos de duração, acompanhamos a jovem Mack (Kaylee Nicole Johnson), uma menina negra que, como tantas outras, tem sonhos para o futuro e passa seus dias entre amigos, brincando de se provicarem numa província pequena no sul do Mississipi, nos Estados Unidos, em algum momento do início do século passado. Ao mesmo tempo, também acompanhamos Evelyn (Sheila Atim), enquanto ela dá luz a seu bebê. No meio dessas histórias, acompanhamos as mutações da água.

Longa de estreia da poeta, fotógrafa e cineasta Raven Jackson, todas essas habilidades da realizadora são exploradas no filme – e são exatamente os pontos que se destacam na produção. A fotografia é o principal condutor narrativo em ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’, manejando a câmera por ângulos inesperados como quem tenta mesmo captar um momento, um frame na vida desses personagens. Para tal, há um verdadeiro desfile de planos abertos longuíssimos, em que os personagens nem sequer se mexem ou falam. Há takes de close em detalhes da produção (uma mão, uma folha de árvore), elevando o lirismo da poética da realizadora ao máximo, que busca exprimir em imagens toda a angústia de um poeta.

Casa pegando fogo, pessoas observam de longe

Desse modo, ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’ se torna um filme bastante experimental, com uma linguagem poética que convida o grande público a entrar na vida desse núcleo de pessoas ribeirinhas do Delta ao longo de décadas, que são exibidas de maneira não linear. Em outras palavras, o espectador precisa ficar bastante atento para acompanhar a história, composta por pouquíssimos diálogos.

O roteiro, também redigido pela diretora, é alternativo, ou seja, ele fica alternando o protagonismo, o tempo, a época. Hora estamos com uma Mackenzie jovem e cheia de sonhos, hora saltamos para um futuro em que Mack já é uma mulher madura que atravessou alguns maus bocados na vida. Enxuto, o roteiro mais parece uma orientação de filmagem set, e não tanto uma narração de história. Em cima disso, a diretora se prolonga em demasia em muitas das cenas, o que acaba passando certa sensação de que o longa poderia ter sido um curta, dada a ausência de elementos no seu enredo. Por outro lado, a estética da produção é um primor aos olhos do cinéfilo que busca um filme sem tanta luz e explosão.

Bem distante de tudo que a A24 produz ou lança e com uma roupagem de filme independente, ‘Todas as Estradas Têm Gosto de Sal’ apresenta-se como um ensaio fotográfico de uma hora e meia de duração, com tales longos demais e pouca história. Um filme bonito e experimental, que abre outra vertente para a famosa produtora de terror.

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