Dirigido por Diego del Rio, o longa-metragem mexicano Todo o Silêncio explora com eficiência a angústia e as camadas que se juntam a partir desse sentimento, tendo como força motora um recurso muito bem utilizado, o silêncio, fato esse que ganha inúmeras possibilidades dentro do contemplar e refletir através das infinidades da linguagem. Desde já podemos dizer que é um belíssimo trabalho de direção.
Na trama, conhecemos Miriam (Adriana Llabres), filha de pais surdos que trabalha como professora de libras em uma escola. Ela vive uma vida feliz ao lado da namorada Lola (Ludwika Paleta) e investe tempo e dedicação na carreira teatral. Às vésperas de interpretar uma personagem de uma peça do dramaturgo Tchekhov, após uma consulta médica, descobre estar ficando totalmente surda, fato esse que mudará para sempre sua trajetória e sonhos.
Nosso foco é a protagonista e seus medos, próxima da surdez desde a infância, parece se camuflar entre dois mundos com o impacto da notícia que mudará mais uma vez a forma de enxergar tudo ao seu redor. A forma exuberante como se é mostrado os receios, preenchendo a tela com a intensidade de uma dor constante que parece sem solução (fruto de uma fotografia fabulosa), contempla o público com cenas marcantes e cheias de significados. Esse é um daqueles projetos que precisamos parar e refletir, há muitos ensinamentos.
As artes e seus complementos ganham forma poética, com uma ebulição de sentimentos chegando ao mesmo tempo, em uma narrativa imersiva às dores e nos guiando lentamente para uma desconstrução que flerta a todo instante com o renascer. Esse duelo de opostas maneiras de sentir um momento, dando sentido a melancolia, algo de ação bem difícil dentro de um longa-metragem, é muito bem conduzido por Del Rio que conta com a maravilhosa atuação de Adriana llabres.
Entre amores e amizades, antes prestes a realizar sonhos, podemos nos guiar também por uma iminente rebobinada na vida, onde acompanhamos com mais clareza uma prisão da amargura e desespero tomando conta de cada olhar para fora. Nesse contexto, há respingos de críticas sobre acessibilidade, algo que o roteiro escrito por Lucía Carreras poderia ser mais objetivo.
Com bastante delicadeza, acoplando o dizer e o sentir, essa história com inúmeras pausas para nosso refletir, se resume a uma mistura de belas imagens que personificam as raízes dos problemas chegando até uma exposição da emoção. Exibido apenas em alguns pequenos festivais de cinema pelo mundo, Todo o Silêncio é um daqueles filmes que precisam serem descobertos. Tá perdido lá no catálogo da Prime Video.
