quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Todos Já Sabem – Suspense e Segredos do Passado em Tom Novelesco

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Com um elenco encabeçado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín, Todos Já Sabem (Todos lo Saben) se apresenta com um delírio cinéfilo de reunir os melhores atores hispânicos da atualidade na telona. Além disso, a obra é escrita e comandada pelo iraniano Asghar Farhadi (do ganhador do Oscar A Separação). Contudo esta é a sua primeira produção sem ter a sua pátria como tema e o talento do cineasta escorrega neste melodrama ambientado em um pequeno povoado da Espanha.

Nos primeiros minutos de tela, o elenco é apresentado com fluidez e habilidade. Após anos distante, Laura (Penélope Cruz) volta ao povoado da sua família com os dois filhos, a adolescente Irene (Carla Campra) e menino Diego (Iván Chavero), para o casamento da irmã mais nova Ana (Inma Cuesta). Toda a família prepara-se para a festividade que toma conta de tela por longos momentos, desde a cerimônia na igreja até a grande festa no quintal de casa.



Os festejos são expostos detalhadamente, mostrando a alegria dos presentes e um pouco da personalidade de cada um. Entre os visitantes está Paco (Javier Bardem), sua esposa Bea (Bárbara Lennie), amigos da família e uma equipe de filmagem, além dos vizinhos do povoado. No meio da bebedeira e danças, a luz apaga-se e Paco busca um transformador em sua fazenda para dar continuidade à celebração.

A partir deste momento, entretanto, Laura percebe que Irene não está no quarto, nem no banheiro, ou qualquer lugar da casa. Já aflita, ela recebe uma mensagem para que não chame a polícia, senão sua filha corre risco de morte. Desse modo começa o grande suspense de Todos Já Sabem e todos as possibilidades são postas à mesa.

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Em um jogo de meias verdades, o filme coloca todos como suspeitos do sequestro de Irene. As pessoas acreditam que o marido de Laura possui dinheiro, mas a verdade é que Alejandro (Ricardo Darín) está falido. O desespero toma conta de Laura por não haver dinheiro para pagar o resgate e o mistério começa a expandir-se quando Bea, esposa de Paco, recebe as mesmas mensagens que a mãe da menina.

A atriz Bárbara Lennie segura com firmeza a condição de esposa apaixonada, na primeira cena do filme, a uma mulher resignada por ver o seu marido cada vez mais afastando-se dela, enquanto ele se dedica integralmente a encontrar a menina. O envolvimento dele chega ao ponto de abrir mão dos seus bens mais preciosos para ajudar a Laura.

Como Paco, Javier Bardem volta ao seu personagem de homem sedutor e a sua presença enche a tela como o herói disposto a tudo para trazer um final feliz a Laura. A soberania de Bardem apaga o personagem do marido Alejandro, ou seja, Ricardo Darín encontra-se totalmente em segundo plano. Essa dualidade entre os dois, revelada aos poucos pelos próprios personagens, representa o passado e presente de Laura. Vale ressaltar que esse é o nono filme que o casal da vida real, Bardem e Penélope, atuam juntos.

A intenção de Asghar Farhadi é clara no decorrer de vários segredos revelados e lavação de roupa suja na sala de jantar. A relação entre Paco e a família de Laura é demasiada entrelaçada e confusa, tornando todo o trâmite  num grande caldeirão de desconfiança, tal como as famosas novelas mexicanas. Quando o filme encaminha ao final e desvela o seu segredo, a gente rende-se à maquinação do roteirista para mostrar que o passado é um fantasma que sempre volta a nos atormentar.

Com uma grande elenco, Todos Já Sabem mantém o senso de curiosidade aguçada do espectador até o fim. O resultado, no entanto, é uma lição mediana sobre superação de trauma, segredos e como o passado sempre fará parte do presente e, com certeza, do futuro. Para finalizar seu ponto de vista, Farhadi deixa o porvir ser traçado por duas cenas: a última pergunta direcionada a Alejandro e a conversa silenciosa entre a irmã mais velha de Laura (Elvira Mínguez) e o seu marido (José Ángel Egido).

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com um elenco encabeçado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín, Todos Já Sabem (Todos lo Saben) se apresenta com um delírio cinéfilo de reunir os melhores atores hispânicos da atualidade na telona. Além disso, a obra é escrita e comandada pelo iraniano Asghar Farhadi (do ganhador do Oscar A Separação). Contudo esta é a sua primeira produção sem ter a sua pátria como tema e o talento do cineasta escorrega neste melodrama ambientado em um pequeno povoado da Espanha.

Nos primeiros minutos de tela, o elenco é apresentado com fluidez e habilidade. Após anos distante, Laura (Penélope Cruz) volta ao povoado da sua família com os dois filhos, a adolescente Irene (Carla Campra) e menino Diego (Iván Chavero), para o casamento da irmã mais nova Ana (Inma Cuesta). Toda a família prepara-se para a festividade que toma conta de tela por longos momentos, desde a cerimônia na igreja até a grande festa no quintal de casa.

Os festejos são expostos detalhadamente, mostrando a alegria dos presentes e um pouco da personalidade de cada um. Entre os visitantes está Paco (Javier Bardem), sua esposa Bea (Bárbara Lennie), amigos da família e uma equipe de filmagem, além dos vizinhos do povoado. No meio da bebedeira e danças, a luz apaga-se e Paco busca um transformador em sua fazenda para dar continuidade à celebração.

A partir deste momento, entretanto, Laura percebe que Irene não está no quarto, nem no banheiro, ou qualquer lugar da casa. Já aflita, ela recebe uma mensagem para que não chame a polícia, senão sua filha corre risco de morte. Desse modo começa o grande suspense de Todos Já Sabem e todos as possibilidades são postas à mesa.

Em um jogo de meias verdades, o filme coloca todos como suspeitos do sequestro de Irene. As pessoas acreditam que o marido de Laura possui dinheiro, mas a verdade é que Alejandro (Ricardo Darín) está falido. O desespero toma conta de Laura por não haver dinheiro para pagar o resgate e o mistério começa a expandir-se quando Bea, esposa de Paco, recebe as mesmas mensagens que a mãe da menina.

A atriz Bárbara Lennie segura com firmeza a condição de esposa apaixonada, na primeira cena do filme, a uma mulher resignada por ver o seu marido cada vez mais afastando-se dela, enquanto ele se dedica integralmente a encontrar a menina. O envolvimento dele chega ao ponto de abrir mão dos seus bens mais preciosos para ajudar a Laura.

Como Paco, Javier Bardem volta ao seu personagem de homem sedutor e a sua presença enche a tela como o herói disposto a tudo para trazer um final feliz a Laura. A soberania de Bardem apaga o personagem do marido Alejandro, ou seja, Ricardo Darín encontra-se totalmente em segundo plano. Essa dualidade entre os dois, revelada aos poucos pelos próprios personagens, representa o passado e presente de Laura. Vale ressaltar que esse é o nono filme que o casal da vida real, Bardem e Penélope, atuam juntos.

A intenção de Asghar Farhadi é clara no decorrer de vários segredos revelados e lavação de roupa suja na sala de jantar. A relação entre Paco e a família de Laura é demasiada entrelaçada e confusa, tornando todo o trâmite  num grande caldeirão de desconfiança, tal como as famosas novelas mexicanas. Quando o filme encaminha ao final e desvela o seu segredo, a gente rende-se à maquinação do roteirista para mostrar que o passado é um fantasma que sempre volta a nos atormentar.

Com uma grande elenco, Todos Já Sabem mantém o senso de curiosidade aguçada do espectador até o fim. O resultado, no entanto, é uma lição mediana sobre superação de trauma, segredos e como o passado sempre fará parte do presente e, com certeza, do futuro. Para finalizar seu ponto de vista, Farhadi deixa o porvir ser traçado por duas cenas: a última pergunta direcionada a Alejandro e a conversa silenciosa entre a irmã mais velha de Laura (Elvira Mínguez) e o seu marido (José Ángel Egido).

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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