segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Trama Fantasma – Paul Thomas Anderson e sua nova confecção de excelência

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Veneno: Uma História de Amor

Quando olhamos para os grandes diretores do passado, verdadeiras lendas da sétima arte, como Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick, por exemplo, pensamos quais seriam seus pares na atualidade. Quem entre os cineastas ainda em atividade será considerado um gênio do cinema e será estudado por gerações vindouras quando seu tempo passar. Bem, é seguro dizer que o jovem californiano Paul Thomas Anderson, de 47 anos, tem seu nome garantido na lista dos imortais – mesmo que pare de trabalhar agora e não produza mais nada.

Anderson tem uma carreira que já dura 22 anos, como diretor de longas, nos quais figurou apenas 8 filmes, o suficiente para ser tratado como mestre. Em comum com alguns dos grandes nomes que povoaram o cinema atrás das câmeras, o esmero e a minúcia na hora de confeccionar uma obra, todas escritas pelo próprio (sendo apenas duas adaptações – Sangue Negro e Vício Inerente). Mesmo que possua um estilo narrativo semelhante em todos os filmes de sua carreira, os temas que escolhe como assunto não poderiam ser mais distintos, criando assim uma filmografia diversificada e de produções únicas.



Trama Fantasma é seu novo trabalho, e sua segunda obra de maior prestígio – com 6 indicações ao Oscar (incluindo melhor filme), ficando atrás somente de Sangue Negro (2007) – indicado para 8 prêmios no Oscar. Se formos traçar um paralelo entre a carreira de Anderson com a de algum icônico diretor do passado, bem que este poderia ser Stanley Kubrick. De fato, os filmes de Anderson possuem mais em comum com os de Kubrick do que, digamos, os de Christopher Nolan (taxado de “o Kubrick moderno”) possuem. Para começar, o diretor de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) não era um diretor comercial, suas obras eram controversas e desafiavam o espectador, sendo, mesmo em sua época de lançamento, miradas a um tipo específico de público – mesmo que isso deixasse o diretor desolado.

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Bom, mas estamos aqui para falar de Trama Fantasma e Paul Thomas Anderson, e não de Stanley Kubrick. O fato é: Trama Fantasma é o De Olhos Bem Fechados (1999) de Anderson. Elegância impecável, planos sequência por interiores, pausas dramáticas excessivas (onde os atores parecem apenas se encarar por um longo período antes de proferir uma única sílaba), e a atenção aos complexos detalhes de um relacionamento doentio, que brinca com as limitações humanas. Está tudo lá. É claro, sem os fetiches eróticos e o suspense congelante do filme com Cruise e Kidman.

A história aqui apresenta o mais que metódico estilista britânico Reynolds Woodcock (uma escolha de nome bem inusitada), papel de Daniel Day-Lewis, uma sumidade na área. O sujeito, como ele mesmo descreve a certa altura, já fez vestidos até para a realeza, e continua a confeccionar roupas para nobres da alta sociedade mundial. Como imaginamos que ocorra com todo gênio que se destaca em sua área de atuação, Woodcock nunca descansa e vive para seu ofício. O fato, obviamente, torna difícil qualquer interação humana, que não seja com pessoas de seu próprio universo, vide a fiel escudeira e administradora pessoal Cyril – papel da inglesa Lesley Manville, que descolou com o trabalho uma indicação ao Oscar de coadjuvante. Merecida.

Mesmo sem tempo para qualquer distração, o protagonista não evita de tentar, e assim entra na equação a jovem garçonete Alma, papel da bela Vicky Krieps, que desperta no estilista a fome não apenas por comida, mas por preencher um espaço que falta em sua vida. Logo, Alma está convivendo com o famoso e celebrado artista, e esta transição simbiótica, na qual a existência de um começará afetar e invadir a do outro, não será das mais tranquilas.

Trama Fantasma é um mergulho no universo específico da alta costura, mas não apenas isso. Pense em como Cisne Negro (2010) descortinou os bastidores de uma companhia de balé, e entenderemos um pouco os mínimos detalhes abordados na nova produção de Anderson. Sim, temos muitas agulhas costurando tecidos, mas Trama Fantasma se propõe a ser muito mais do que uma obra sobre o mundo de estilistas, e entrega um desafiador jogo de xadrez na forma de um relacionamento pouco usual e levemente abusivo, no qual as duas partes estão dispostas a apostar todas as suas fichas para subjugar o adversário, ou parceiro, tudo em nome do amor, é claro.

O novo filme do talentoso Anderson também aponta os holofotes para a obsessão, um sentimento tão perverso quanto qualquer um dos piores que existem. O protagonista, defendido com muita classe pelo intérprete Day-Lewis (dito o último de sua carreira), é o “garoto propaganda” do obsessivo compulsivo, desde pequenos detalhes como fazer barulho na mesa do café da manhã, até toda e qualquer regra que toma conta de sua casa, como um jantar espontâneo transformado em pesadelo. A vida é feita para ser vivida, para ser experimentada em todas as suas sensações. Mas quando passamos a reger experiências dentro de nossas próprias redomas, é o sinal de que ela irá começar a ruir.

Trama Fantasma é indefectível em sua composição cênica, de todos os elementos que formam uma produção cinematográfica, assim como os vestidos da grife Woodcock. Já o delicado comportamento humano, e todos os sentimentos que se entrelaçam como linhas em um fino traje de gala, estão prestes a desfiar, puir e rasgar.

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Anderson tem uma carreira que já dura 22 anos, como diretor de longas, nos quais figurou apenas 8 filmes, o suficiente para ser tratado como mestre. Em comum com alguns dos grandes nomes que povoaram o cinema atrás das câmeras, o esmero e a minúcia na hora de confeccionar uma obra, todas escritas pelo próprio (sendo apenas duas adaptações – Sangue Negro e Vício Inerente). Mesmo que possua um estilo narrativo semelhante em todos os filmes de sua carreira, os temas que escolhe como assunto não poderiam ser mais distintos, criando assim uma filmografia diversificada e de produções únicas.

Trama Fantasma é seu novo trabalho, e sua segunda obra de maior prestígio – com 6 indicações ao Oscar (incluindo melhor filme), ficando atrás somente de Sangue Negro (2007) – indicado para 8 prêmios no Oscar. Se formos traçar um paralelo entre a carreira de Anderson com a de algum icônico diretor do passado, bem que este poderia ser Stanley Kubrick. De fato, os filmes de Anderson possuem mais em comum com os de Kubrick do que, digamos, os de Christopher Nolan (taxado de “o Kubrick moderno”) possuem. Para começar, o diretor de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) não era um diretor comercial, suas obras eram controversas e desafiavam o espectador, sendo, mesmo em sua época de lançamento, miradas a um tipo específico de público – mesmo que isso deixasse o diretor desolado.

Bom, mas estamos aqui para falar de Trama Fantasma e Paul Thomas Anderson, e não de Stanley Kubrick. O fato é: Trama Fantasma é o De Olhos Bem Fechados (1999) de Anderson. Elegância impecável, planos sequência por interiores, pausas dramáticas excessivas (onde os atores parecem apenas se encarar por um longo período antes de proferir uma única sílaba), e a atenção aos complexos detalhes de um relacionamento doentio, que brinca com as limitações humanas. Está tudo lá. É claro, sem os fetiches eróticos e o suspense congelante do filme com Cruise e Kidman.

A história aqui apresenta o mais que metódico estilista britânico Reynolds Woodcock (uma escolha de nome bem inusitada), papel de Daniel Day-Lewis, uma sumidade na área. O sujeito, como ele mesmo descreve a certa altura, já fez vestidos até para a realeza, e continua a confeccionar roupas para nobres da alta sociedade mundial. Como imaginamos que ocorra com todo gênio que se destaca em sua área de atuação, Woodcock nunca descansa e vive para seu ofício. O fato, obviamente, torna difícil qualquer interação humana, que não seja com pessoas de seu próprio universo, vide a fiel escudeira e administradora pessoal Cyril – papel da inglesa Lesley Manville, que descolou com o trabalho uma indicação ao Oscar de coadjuvante. Merecida.

Mesmo sem tempo para qualquer distração, o protagonista não evita de tentar, e assim entra na equação a jovem garçonete Alma, papel da bela Vicky Krieps, que desperta no estilista a fome não apenas por comida, mas por preencher um espaço que falta em sua vida. Logo, Alma está convivendo com o famoso e celebrado artista, e esta transição simbiótica, na qual a existência de um começará afetar e invadir a do outro, não será das mais tranquilas.

Trama Fantasma é um mergulho no universo específico da alta costura, mas não apenas isso. Pense em como Cisne Negro (2010) descortinou os bastidores de uma companhia de balé, e entenderemos um pouco os mínimos detalhes abordados na nova produção de Anderson. Sim, temos muitas agulhas costurando tecidos, mas Trama Fantasma se propõe a ser muito mais do que uma obra sobre o mundo de estilistas, e entrega um desafiador jogo de xadrez na forma de um relacionamento pouco usual e levemente abusivo, no qual as duas partes estão dispostas a apostar todas as suas fichas para subjugar o adversário, ou parceiro, tudo em nome do amor, é claro.

O novo filme do talentoso Anderson também aponta os holofotes para a obsessão, um sentimento tão perverso quanto qualquer um dos piores que existem. O protagonista, defendido com muita classe pelo intérprete Day-Lewis (dito o último de sua carreira), é o “garoto propaganda” do obsessivo compulsivo, desde pequenos detalhes como fazer barulho na mesa do café da manhã, até toda e qualquer regra que toma conta de sua casa, como um jantar espontâneo transformado em pesadelo. A vida é feita para ser vivida, para ser experimentada em todas as suas sensações. Mas quando passamos a reger experiências dentro de nossas próprias redomas, é o sinal de que ela irá começar a ruir.

Trama Fantasma é indefectível em sua composição cênica, de todos os elementos que formam uma produção cinematográfica, assim como os vestidos da grife Woodcock. Já o delicado comportamento humano, e todos os sentimentos que se entrelaçam como linhas em um fino traje de gala, estão prestes a desfiar, puir e rasgar.

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