Lançado nesta semana, Transformers: O Início é espetacular. A primeira animação dos robozões a ir para os cinemas desde a década de 1980 fez valer o tempo de espera com uma aventura cheia de diversão, ação e carisma.
A trama acompanha a jornada de Orion Pax e B-16, dois robôs mineradores de Cybertron, que passam seus dias tentando encontrar formas de melhorar de vida. Por mais que haja um leve esforço no início para mascarar, é muito explícito que esses dois operários são Optimus Prime e Megatron em seu ‘início de carreira’, por assim dizer. E ao longo da trama, a mitologia dos Transformers é explicada e desenvolvida de forma bastante orgânica, o que enche os olhos de qualquer fã.
Mas é preciso destacar a sensação de carinho que esse filme transmite. Ele parece ter sido pensado nos mínimos detalhes para mexer com os fãs. Os visuais são diferentes do que o público está acostumado e vão se adaptando para aquele porte mais detalhado, é uma forma visual muito eficaz de demonstrar a evolução dos personagens, que vão ganhando experiência e maturidade conforme a trama avança. E os visuais finais conseguem manter a personalidade do longa e ainda assim remeterem aos designs de diferentes gerações dos Transformers. É algo que somente uma pessoa apaixonada pela franquia poderia fazer.
Só que o ponto mais legal é mesmo a relação entre Orion e B-16. A situação deixa de ser aquele ódio irracional e ganha motivações críveis e até mesmo coerentes. E realmente cativa ver como Optimus e Megatron parecem ter construído suas personalidades tendo um como base do outro.
O Orion Pax é impulsivo, imaturo e inconsequente. É possível que sua maior característica, que é inspirar esperança nos corações daqueles que o seguem, sempre esteve presente ali. Só que ele se complicava na hora de se fazer ser ouvido justamente porque estava colocando os empregos – e as vidas – de seus amigos em risco por conta de seus sonhos de grandeza e de uma condição melhor. Ao longo da trama, ele aprende que seus atos geram consequências e que não é justo fazer com que outros sofram por suas escolhas. Ver essa maturidade e o altruísmo nascendo no futuro líder dos Autobots é sensacional.
Já o B-16 é muito mais certinho que sua versão futura. Aquele Megatron sarcástico, desprezível, trapaceiro e cego de ódio começou como um jovem muito fiel ao sistema em que estava inserido. Iludido pela meritocracia, ele sempre focou no trabalho como forma de deixar para trás a miserável vida de minerador. Só que ele foi a principal vítima das ações de seu camarada Orion. Toda vez que ele se esforçava, Pax o envolvia em alguma furada e ele era rebaixado. Assim, o filme trabalha muito bem essa perda de paciência com o amigo e a corrupção pelo poder. É curioso também como a origem dos Decepticons nasce justamente de um sentimento de indignação com uma traição imperdoável, mas essa passaria a ser uma característica desse grupo com o passar dos anos. Megatron, infelizmente, fica cego pelo ódio e se torna aquilo que jurou destruir.
Com essa relação entre os dois, o filme tinha tudo para ser extremamente denso. E apesar de ter uma pegada mais séria, ele é equilibrado por um tagarela e irritantemente carismático Bumblebee. Uma das confusões do filme é se ele se integra ou não com os filmes do Michael Bay. Parece que eles mudam de ideia a cada nova entrevista, mas é um fato que ele se vale de ideias pré-estabelecidas do público sobre os personagens para brincar com eles. E isso acontece brilhantemente com o Bee.
Sua principal característica neste século é se comunicar por meio do rádio, já que seu comunicador é permanentemente danificado. Já em ‘O Início’, ele é uma matraquinha imparável. Após anos de solidão, ele enfim tem com quem conversar e aproveita cada segundo para não calar a boca. Sério, ele carrega o humor do filme nas costas e intensifica situações cômicas, como os momentos deles aprendendo a usar suas novas habilidades. É dele também que surgem algumas das melhores sequências de ação. No entanto, é bom ressaltar que a direção se controla ao máximo para não deixar que ele tome o protagonismo. O Bumblebee é um poço de carisma e, assim como o Michelângelo nas Tartarugas Ninja, é muito fácil e tentador deixar a história virar sobre ele. E, felizmente, isso não acontece aqui. Ele é um coadjuvante de luxo que não ofusca o protagonismo de Orion e B-16.
Vale destacar o trabalho de dublagem aqui. O elenco é composto por muitos star talents, mas dois deles foram surpreendentemente excelentes no trabalho. Klebber Toledo deu ao Sentinel Prime um ar canastrão que casou perfeitamente com o personagem, que é retratado como um ídolo dos robôs. E Marcus Eni, que não sei nem mais se dá para chamar de star talent, porque ele vem crescendo bastante na dublagem nacional. Ele dá ao Bumblebee um ar jovial sensacional.
Enfim, em tempos nos quais o público parecia estar um tanto fadigado dos Transformers, surge essa nova saga animada para desenvolver a história dos robôs sem a interferência dos humanos, mostrando que ainda há muito desse mundo a ser explorado e trabalhado nas telonas. É um filmaço e uma das melhores coisas já feitas com os Transformers nos cinemas.
Transformers: O Início está em cartaz nos cinemas.