Sua perspectiva sempre intimista, profunda e poética mas realista o tornou um dos grandes cineastas dos últimos anos de Hollywood. Ron Howard é categórico em suas cinebiografias e sabe extrair de histórias reais a mais pura sinestesia cinematográfica. De Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo à produções como Uma Mente Brilhante, Frost/Nixon e Rush: No Limite da Emoção, o vencedor do Oscar passeia com facilidade em um gênero que sempre chama a atenção da audiência, mas nem sempre acerta em seu resultado final. Treze Vidas – O Resgate é mais uma extensão desse talento do diretor em saber explorar a dor, o caos, o tormento e os conflitos de maneira imersiva e emocionante.
O ano de 2018 trouxe consigo um dos momentos mais emblemáticos da história mundial recente. Doze garotos e seu técnico de futebol ficaram presos dentro da estrutura da caverna Tham Luang, durante um passeio. As fortes chuvas na região inundaram parcialmente o local, deixando o time de adolescentes e seu jovem instrutor ilhados por alguns dias. Sob condições climáticas instáveis, em virtude do início do período de monções, uma equipe de mais de mil pessoas foi necessária para garantir que todos fossem resgatados com segurança. Essa jornada digna de um filme é relatada com precisão pelas lentes de Howard, que convida a audiência para uma experiência com ares claustrofóbicos, tamanha a angústia traduzida para as telas.
A partir de um roteiro assinado por William Nicholson, Trezes Vidas acompanha todo o trabalho das autoridades tailandesas nesta missão, evidenciando os esforços dos cinco mergulhadores voluntários que operaram o resgate, aqui vividos por Viggo Mortensen, Colin Farrell, Joel Edgerton, Tom Bateman e Paul Gleeson. Protagonizando cenas penosas e majoritariamente feitas embaixo d’água, o elenco é colocado em condições ardilosas, gravando boa parte de suas tomadas em um meticuloso set que recria alguns dos trechos da caverna, seguindo sua topografia. Com seus limites físicos e emocionais sendo testados ao longo das gravações, Farrell, Edgerton, Mortensen, Bateman e Gleeson mostram uma sensibilidade impressionante diante da audiência, em performances realistas que exalam parte da tensão que o processo de produção lhes causou.
Priorizando também a história do povo tailandês, Nicholson e Howard desenvolvem seus personagens locais com calma e tranquilidade, valorizando a comunidade que se voluntariou em prol das vidas dos 12 garotos e de seu técnico. De maneira responsável e dramaticamente eficaz, a trama percorre o caminho contrário de muitas cinebiografias anteriores e descarta a péssima narrativa do “salvador branco”, abrindo espaço para que a verdadeira história do resgate seja contada pela ótica de quem faz parte do povoado, indo muito além dos voluntários caucasianos que genuinamente foram fundamentais para a missão.
Dando tempo de tela suficiente para uma multiplicidade de pequenas histórias que afetam diretamente o grande enredo, o drama biográfico é exageradamente longo, mas compensa sua extensão com um ritmo excelente que não perde tempo com subtramas desnecessárias e centraliza-se apenas nos elementos fundamentais. Com uma fotografia que faz das chuvas torrenciais mais do que um elemento dramático, Treze Vidas – O Resgate mostra os contrastes socioculturais existentes na província de Chiang Rai e emociona por sua carga de suspense que permeia os principais momentos. E mesmo diante de uma história cujo final todos já sabemos, Ron Howard não se cansa e uma vez mais consegue nos fazer vibrar até o último instante.